Ecoansiedade: entenda como problemas ambientais podem afetar a saúde mental

A ação do homem na natureza tem provocado, ao longo dos anos, alterações significativas no meio ambiente. Mas foi só em 2011 que o psicólogo australiano Glenn Albrecht apresentou, pela primeira vez, um conceito ligado às consequências psicológicas resultantes dessa situação.

Quando Albrecht falou sobre ecoansiedade, estava se referindo a sentimentos de medo, tristeza, frustração, estresse e ansiedade relacionados às mudanças ambientais e às consequências das ações humanas sobre o meio ambiente.

Ele percebeu que a crescente conscientização da degradação ambiental associada à percepção de que poucas pessoas se preocupavam com o assunto — e também à falta de compromisso de empresas e políticos em relação aos impactos de ações desastrosas sobre o planeta — estava levando pessoas a desenvolverem uma sensação de desesperança e impotência, causando sofrimento psíquico.

“Desde então, o termo ecoansiedade tem sido usado cada vez mais para descrever as emoções negativas que as pessoas experimentam em relação aos problemas ambientais”, explica a psicóloga e docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Karla Patrícia Martins.

Ela ressalta que o tema se tornou importante no campo da psicologia ambiental e da saúde mental, e que muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas sobre o assunto.

Nova época geológica

Doutoranda em Psicologia pela Unifor, Gisele Sestren estuda o Antropoceno, uma nova época geológica caracterizada pelo impacto na Terra causado pelo ser humano, que trouxe temperaturas mais quentes e pode provocar o colapso ambiental. A psicóloga diz que as ações humanas têm causado impactos profundos na biosfera em nível planetário, comparáveis a grandes forças da natureza.

“A intervenção humana tem modificado processos básicos da Terra, alterando a forma da espécie humana se relacionar com os recursos naturais” — Gisele Sestren, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Unifor.

“A responsabilidade por esses impactos é compartilhada por todas as gerações, mas é a atual sociedade que precisa buscar soluções de enfrentamento, por isso a importância do despertar de consciência para atuar no problema”, afirma a pesquisadora.

Tanto a compreensão de estar vivendo essa época, na qual a atividade humana vem colocando em risco a sobrevivência da própria espécie, quanto a auto responsabilização por esses danos estão afetando a saúde mental das pessoas, que passam a manifestar sintomas de ansiedade climática — outro nome dado à ecoansiedade.

Causas e sintomas

Segundo a professora Karla Patrícia, as causas da ecoansiedade são diversas e os sintomas podem ser desencadeados por uma variedade de fatores. No entanto, estão sempre relacionados à profunda preocupação com os impactos negativos da ação humana sobre a saúde do planeta e das espécies que habitam nele.

A exposição a um grande número de notícias que relatam os impactos das mudanças ambientais — a exemplo de catástrofes como enchentes, maremotos, enxurradas, deslizamentos de terra, entre outras consequências — pode ser citada como um dos fatores que influenciam no desenvolvimento da condição.

A exposição constante a informações e notícias sobre degradação do meio ambiente pode afetar a saúde mental das pessoas (Ilustração: Getty Images).

Sintomas físicos e emocionais, como ansiedade, depressão, insônia, sentimentos de desesperança e raiva, podem estar relacionados a essa exposição, afetando a maneira como as pessoas se relacionam com o mundo ao redor e levando a uma impressão de isolamento ou desconexão

Outro aspecto importante é a falta de ações efetivas em relação à proteção do meio ambiente pelo governo e de comprometimento ao tema pela sociedade. “Esses fatores podem despertar e/ou potencializar, nas pessoas que se comprometem com as questões ambientais, a sensação de impotência e profunda tristeza em relação aos assuntos climáticos”, enfatiza Karla. 

Diagnóstico e tratamento

Por não ser uma condição médica formalmente reconhecida, não há um diagnóstico oficial para a ecoansiedade, conforme afirma Gisele. “No entanto, profissionais de saúde mental podem avaliar os sintomas apresentados pela pessoa e considerar se estão relacionados a preocupações ambientais excessivas”, relata.

A depender dos sintomas apresentados e da gravidade do problema, o tratamento pode envolver diferentes abordagens. Segundo Gisele, a psicoterapia é uma das indicações de procedimento, pois ajuda a identificar e a modificar padrões de pensamentos e comportamentos que contribuem para a ansiedade.

Em outros casos, pode ser necessário o uso de medicamentos para controlar os sintomas, como antidepressivos ou ansiolíticos, sob orientação profissional adequada. A psicóloga pontua também a importância da adoção de práticas de autocuidado e de redução do estresse.

A ecoansiedade pode ser diferente para cada pessoa. Por isso, procure ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra para discutir as melhores opções de tratamento (Foto: Getty Images).

De acordo com Gisele, incluir na rotina atividades físicas regulares, alimentação saudável e sono adequado pode contribuir para o tratamento. Além disso, reduzir tanto o uso de mídias sociais quanto o consumo de notícias relacionadas ao meio ambiente é uma estratégia válida.

A professora Karla Patrícia ressalta ainda a importância de ter uma rede de suporte emocional, encontrada em grupos de apoio de pessoas com os mesmos sintomas. “É importante manter uma perspectiva equilibrada, reconhecendo que embora as questões ambientais sejam preocupantes, existem muitas pessoas trabalhando para encontrar soluções e que a mudança pode acontecer”, pontua.

Ela reforça que o tratamento da ecoansiedade é um processo individualizado, e pode ser diferente para cada pessoa. Por isso, é recomendado procurar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra para discutir as melhores opções de tratamento.