Nunca foi tão atual desejar saúde a uma pessoa - leia artigo de Iusta Caminha
Nunca foi tão atual desejar saúde a uma pessoa.
É chique, é de bom tom, é o pretinho básico. É, antes de tudo, fundamental.
Paz, sucesso, alegria, realizações... Todas essas coisas que desejamos ao outro, algumas vezes com certa displicência na escolha das palavras, ficaram para segundo plano. O que queremos mesmo é saúde!
Vamos combinar assim: se cabe um desejo, que este seja saúde. Vale em datas comemorativas ou simplesmente ao final de uma conversa informal com um amigo.
Mas o que é mesmo saúde?
O conceito de saúde e seus determinantes evoluíram muito ao longo dos séculos. A saúde já foi muito ligada a valores religiosos. O indivíduo que quisesse gozar de saúde plena deveria venerar e fazer sacrifício aos deuses. Ao mesmo tempo, dores de cabeça eram vistas como atuação de demônios e forças sobrenaturais.
No século quinto antes de Cristo, a saúde começou a ser vista separada de crenças religiosas. Hipócrates, tido como o pai da medicina, estabeleceu, nesta época, a relação da doença com o equilíbrio do corpo e ainda destacou a importância da interação indivíduo-ambiente. As teorias de Hipócrates foram expandidas por Galeno, médico e filósofo romano, que acreditava em uma visão global do paciente incluindo aspectos mentais e emocionais.
De lá para cá, ocorreram grandes avanços na medicina. A descoberta dos agentes microbianos, do material genético, dos hormônios... As doenças passaram a ter explicações cada vez mais biológicas com etiologias definidas. Ao passo que doenças eram melhor compreendidas e classificadas, o conceito de saúde ganhou uma dimensão maior. Em 1948, a Organização Mundial da Saúde propôs que “Saúde não é apenas a ausência de doença, mas um completo bem-estar físico, emocional e social. “
Essa definição é amplamente aceita, porém não está imune a críticas. Muitos acreditam que essa é, na verdade, a definição de felicidade não podendo, assim, ser direito garantido. E, embora a abordagem conceitual da World Health Organization (WHO) seja interessante e amplie a possibilidade de projetos para promoção da saúde, ela torna, ao mesmo tempo, a saúde como sendo um estado quase inatingível para muitos. No cenário atual, impossível. Para constatar, basta abrir a janela de nossas casas, a televisão ou o jornal.
Mas queremos ter saúde, nem que seja para satisfazer um amigo que pergunta com preocupação sincera se estamos bem. Talvez, para tanto, tenhamos que recorrer a Bircher, vendo a saúde como um estado dinâmico. Temos saúde quando temos capacidade física, mental e social de viver nossos dias, um de cada vez, de acordo com nossas expectativas.
Acredito então que, se respeitarmos a sobriedade dos dias atuais, nos permitindo ficar tristes, chorar um pouco e manter os sentidos atentos para o que também de bom passa por nós, seguiremos saudáveis. Seguiremos firmes e cuidando um dos outros.
Iusta Caminha
Médica, professora do curso de Medicina da Unifor.