Qual o papel do fisioterapeuta no tratamento da COVID-19? Saiba como atua esse profissional

Os profissionais que atuam na linha de frente contra a disseminação do coronavírus são muitos e de diferentes áreas. Você já refletiu, por exemplo, sobre o papel do fisioterapeuta no atual cenário de pandemia?

Para esclarecer algumas das principais dúvidas sobre a atuação desse profissional, nós conversamos com a professora Riany Sena, do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza.

Tratamento respiratório

O fisioterapeuta tem um importante papel no tratamento e na recuperação física de pessoas internadas pela COVID-19. No caso de pacientes mais graves, a doença pode levar a um quadro de insuficiência respiratória e exigir internação hospitalar.

"Os pacientes mais graves precisarão ser intubados e colocados em um aparelho de ventilação mecânica para que a pressão positiva possa auxiliar na insuflação dos pulmões. Nesses casos, o fisioterapeuta é responsável pelos ajustes dos parâmetros dos aparelhos de ventilação mecânica de forma individualizada, procurando usar estratégias que protejam os pulmões de lesões e auxiliando na retirada (“desmame”) da ventilação mecânica o mais rápido possível", explica a professora.

Técnicas e estratégias

Riany também afirma que naqueles pacientes em ventilação mecânica, com aumento do volume de secreção nas vias aéreas e incapacidade de eliminá-las, o fisioterapeuta atua também na aplicação de técnicas que facilitem a remoção de secreções.

Também é papel do fisioterapeuta indicar e auxiliar nas estratégias de posicionamento que possam otimizar a oxigenação do paciente, como a posição prona (posição de “bruços”), assim como na mobilização precoce do paciente.

Fraqueza muscular

A professora lembra que os pacientes em ventilação mecânica, geralmente, apresentam internação hospitalar mais prolongada, o que leva ao uso de sedação e bloqueadores neuromusculares para provocar relaxamento muscular para que fiquem melhor adaptados ao aparelho.

Esse procedimento aumenta também a restrição ao leito e o risco de desenvolver fraqueza muscular adquirida na UTI (“doença do paciente crítico”), que pode levar a graves prejuízos funcionais - inclusive perda da força dos músculos respiratórios e dos membros inferiores e superiores.

"Assim, à medida que o paciente vai se recuperando da fase mais aguda da doença, o fisioterapeuta atua o mais precoce possível com exercícios e mobilizações que ajudem na sua recuperação funcional e alta hospitalar", afirma.

Reabilitação continuada

Após a fase aguda da doença, alguns pacientes que tiveram a COVID-19 irão necessitar continuar o processo de reabilitação após alta hospitalar, sobretudo aqueles que apresentaram prolongado período de internação.

Esses pacientes podem ter redução da capacidade pulmonar, fraqueza muscular, fadiga, alterações de equilíbrio, dificuldade para andar, sensação de “falta de ar” (dispneia) aos esforços (como andar e subir escadas), o que pode prejudicar a sua independência funcional e o retorno a suas atividades de vida diária em casa e no trabalho.

Além disso, a professora Riany Sena reforça que existe também o impacto emocional, que pode afetar não só o paciente, mas também os seus familiares, levando a quadros de depressão, ansiedade e estresses pós-traumático.

"Esses sintomas, associados aos outros prejuízos funcionais causados pela doença, impactam de forma negativa na qualidade de vida do indivíduo. Assim, é fundamental a continuidade do processo de reabilitação desses pacientes, podendo o mesmo ocorrer em casa, através de programas de atendimento domiciliar ou de forma ambulatorial, como os programas de Reabilitação Pulmonar", garante a professora.

Telereabilitação

Riany ensina ainda que a necessidade de fisioterapia, após o período de hospitalização, tem despertado no mundo todo um interesse maior por estratégias de telereabilitação, principalmente para aquelas pessoas que não têm condições de sair de casa e pela dificuldade em encontrar serviços ambulatoriais de fisioterapia devido à pandemia e às medidas de isolamento social.

"A telereabilitação poderia ser uma estratégia interessante para oferecer uma assistência de fisioterapia de forma remota, seja por telefone ou por videoconferência por profissionais capacitados. Ainda existe escassez de literatura sobre o assunto, mas sabe-se que para que esta (técnica de telereabilitação) ocorra de forma segura, é importante que o paciente tenha um ambiente preparado com apoio familiar e recursos para exercícios, condições físicas, cognitivas e emocionais de realizar os exercícios guiados pelo profissional", reforça a professora.