Sabe o que é Transtorno Dissociativo de Identidade? Entenda suas causas e sintomas

Pacientes diagnosticados com a condição apresentam duas ou mais personalidades que se revezam

Quem assistiu ao filme “Fragmentado” (2016), do diretor M. Night Shyamalan, certamente tem noção do que seja o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI). No longa, o protagonista possui 23 personalidades diferentes, que se alternam e revelam características totalmente distintas.

Anteriormente conhecido como transtorno de personalidades múltiplas, o TDI é caracterizado quando a pessoa passa a assumir dois ou mais estados de personalidades (ou identidades) que se revezam. Para entender mais sobre a condição, a psicóloga Sara Guerra, docente do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, apresenta o conceito de identidade.

Segundo a psicóloga, a identidade é algo que marca características pessoais e que faz parte da constituição do sujeito. Ao longo do processo de construção do indivíduo, ela está sempre em transformação, no entanto, essas mudanças não ocorrem de forma brusca. Além disso, existem características da identidade que são constantes.



 

“Nossa identidade é um processo de construção e desconstrução, mas quando se fala em Transtorno Dissociativo de Identidade, falamos de uma mudança muito brusca e de uma perda da característica dessa identidade”Sara Guerra, docente de graduação e pós-graduação em Psicologia na Unifor


Sintomas do transtorno

A partir do momento em que a pessoa começa a apresentar personalidades que se alternam, é possível que ela crie também uma incapacidade de recordar eventos diários, informações pessoais relevantes ou alguns acontecimentos traumáticos/estressantes, coisas que normalmente não seriam esquecidas.

Sara explica que, de forma generalizada, o paciente pode apresentar tendência a ter alucinações visuais, táteis, olfativas e gustativas. Há uma mistura de memórias e sensações, como se ele tivesse passado por uma situação, mas não conseguisse identificar se a cena foi real ou não.



Mistura de memórias e sensações potencializam a confusão mental do paciente (Foto: Getty Images)


Também é comum que, em casos de TDI, o paciente apresente amnésia dissociativa, que são lacunas na memória em eventos pessoais do passado. A pessoa não lembra o que aconteceu em uma parte da infância, em um período da adolescência ou que morreu um parente. É como se a memória fosse apagada.

Além disso, existem lapsos também da memória confiável: ele não consegue recordar o que aconteceu ou o que aprendeu no dia. Às vezes, o paciente não se lembra de coisas que fez ou disse, parecendo-lhe improvável ter realizado tal ato.

Causas passam por eventos traumáticos

Conforme explica Sara Guerra, estudos recentes nos manuais de saúde mental afirmam que, geralmente, o Transtorno Dissociativo de Identidade ocorre em crianças que passaram por algum trauma ou estresse opressivo durante a infância, como abuso sexual ou emocional, negligência, entre outros.

“A criança vai, aos poucos, desenvolvendo sua identidade devido às experiências e convivências. Então, quando ela passa por essa dificuldade, isso acaba atingindo essa identidade em desenvolvimento”, diz a professora.

A psicóloga menciona ainda que o transtorno pode surgir sem que haja a situação traumática, pois não se trata de uma questão de causa e efeito. No entanto, o estresse grave na infância é capaz de gerar, para essa criança, uma maior dificuldade de se saber quem é, com quem gosta de sair, quais são suas memórias e percepções. Ou seja, características pessoais, próprias do processo de conscientização.



Eventos traumatizantes na infância podem contribuir para o desenvolvimento do TDI (Foto: Getty Images)


“O evento estressor desencadeia o TDI, fazendo com que [a pessoa] esqueça certas cenas da vida e vá adquirindo outras características de personalidades que destoam muito da que ela costumava ter. O indivíduo dissocia da realidade, da sua identidade, do controle de si mesmo. Então surgem outras formas de ser, de pensar, de se comportar”, explica Sara. 

Diagnóstico e tratamento

Não existem exames laboratoriais ou de imagem que assegurem o diagnóstico de TDI. O que acontece é um reconhecimento feito por meio de avaliação clínica com psiquiatra. “Ainda assim, esse diagnóstico não vai ser generalizado. [...] O sujeito está sempre mudando. Pode ser que essa pessoa passe por outro evento estressor, e que o diagnóstico mude também”, diz a docente.

A confusão mental, decorrente dos lapsos de memória, faz com que a pessoa se sinta pressionada, o que pode gerar piora no quadro. No que se refere a tratamento, geralmente deve existir acompanhamento medicamentoso atrelado à assistência psicoterapêutica prolongada.

Os maiores desafios para quem tem TDI e para quem convive com a pessoa diagnosticada são as questões que envolvem socialização, funcionamento social e ocupação, além do esquecimento nos eventos diários. “O apoio da família, dos amigos, da escola, todos que fazem parte do convívio do paciente, forma uma importante rede de apoio para o indivíduo”, conclui Sara.