Tratamento da fibromialgia envolve cuidados físicos e psicológicos

Na Universidade de Fortaleza, o Ambulatório da Dor oferece atendimento gratuito a pacientes com dor crônica

De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia, 2,5% da população mundial é afetada pela fibromialgia, doença crônica que se caracteriza, principalmente, por dor no corpo todo, especialmente dor muscular.

O problema costuma acometer mais mulheres que homens e, no geral, surge entre os 30 e 55 anos. A maior incidência nessa faixa etária, no entanto, não exclui a existência de casos em crianças e adolescentes, mesmo que em menor número.

A enfermidade não tem cura e causa impactos negativos à rotina dos portadores. Ela influencia, inclusive, a saúde mental dos indivíduos, que, por muitas vezes, se veem angustiados pela dor que “circula” pelo corpo, dificultando a possibilidade de encontrar uma intervenção capaz de reduzir o desconforto.

Sintomas e diagnóstico

Entre os sintomas que a fibromialgia apresenta estão:

  • dor difusa por todo o corpo,
  • cansaço,
  • sono não reparador,
  • problemas de memória e concentração,
  • ansiedade,
  • formigamentos/dormências,
  • depressão,
  • dores de cabeça,
  • tontura,
  • alterações intestinais.


Apresentar grande sensibilidade ao toque e à compressão de pontos no corpo é uma característica do paciente com fibromialgia (Foto: Getty Images)


Conforme explica Lysiane Ramos, médica reumatologista e docente de Medicina na Universidade de Fortaleza — da Fundação Edson Queiroz —, o diagnóstico é clínico, ou seja, acontece durante a consulta por meio da coleta de informações pelo médico.

A observação de grande sensibilidade em pontos específicos dos músculos (conhecidos como pontos dolorosos) contribui para chegar a essa conclusão. “Podem ser utilizados alguns questionários que ajudam tanto no diagnóstico quanto no acompanhamento dos pacientes”, complementa a profissional de saúde.

Causas e tratamento

Lysiane ressalta que ainda não existe causa definida para a doença, mas há possibilidades que justificam a condição. “Acredita-se que o cérebro dos indivíduos com fibromialgia perceba de forma exacerbada os estímulos, ativando todo o sistema nervoso a sentir mais dor”, destaca.

Ela afirma ainda que a enfermidade também pode surgir após eventos graves, como um trauma físico, psicológico ou mesmo uma infecção séria.




“Evidências científicas demonstram que essas pessoas apresentam uma sensibilidade maior à dor devido a uma percepção cerebral exacerbada aos estímulos, levando a pessoa a sentir mais dor” — Lysiane Ramos, médica reumatologista e docente do curso de Medicina da Unifor

 


O tratamento é realizado com medidas farmacológicas e não farmacológicas. A dor e outros sintomas não costumam melhorar com o uso de analgésicos simples ou antiinflamatórios. Para combater a fibromialgia, os medicamentos utilizados são antidepressivos, relaxantes musculares e neuromoduladores.

Além disso, atividades físicas regulares, como aeróbica, alongamento e fortalecimento muscular, são fundamentais para o sucesso terapêutico. No entanto, a reumatologista faz uma ponderação: “O paciente deve respeitar seus limites físicos, pois ao excedê-los pode agravar as dores e o cansaço”.

Quando os sintomas associados ao sono inadequado estão exacerbados, o uso isolado de medicamentos que induzam ou perpetuem o sono pode não ser suficiente, sendo obrigatório medidas que melhorem a higiene do sono, como reduzir ruídos e claridade do local onde dorme. Também é importante evitar ingerir alimentos ou bebidas estimulantes antes de deitar.

Suporte psicológico para lidar com a dor

Trabalho, lazer, humor, vida social e sexual. Segundo Thiago Guimarães, psicólogo clínico e docente do curso de Psicologia da Unifor, são muitas as áreas afetadas na rotina de quem tem fibromialgia, acarretando grande impacto na qualidade de vida dessas pessoas.



“Estresse, ansiedade, depressão e abuso sexual são questões muitas vezes observadas nos relatos das pessoas tratadas. Observa-se, inclusive, que quando estas questões não são o próprio fator desencadeador das crises de dor, algumas delas podem aparecer como comorbidades (como ansiedade e depressão)” Thiago Guimarães, docente da graduação de Psicologia da Unifor

 



Para o professor, compreender como a condição clínica da fibromialgia afeta os indivíduos é importante, mas é apenas uma parte do tratamento. Ele diz que, independente da abordagem utilizada pelo psicólogo, é possível ajudar o sujeito portador da enfermidade por meio da atuação psicológica. Os pontos-chave a serem trabalhados por paciente e profissional são:

  • Compreensão da história de vida da pessoa;
  • Histórico de saúde do paciente;
  • Entendimento de como e quando as dores apareceram;
  • Reflexões sobre a experiência dolorosa (seus sentidos e significados possíveis);
  • Compreensão da vida a partir do diagnóstico, porém sem se fechar nele;
  • Expansão da consciência corporal, para evitar que a dor se torne um fator limitante em todos os momentos.

“De modo geral, o cuidado psicológico fundamental é amparar este sujeito, escutar sua queixa e validar seu sofrimento, haja vista que muitos pacientes (para não dizer quase todos) sofrem principalmente pelo descrédito que muitas pessoas, inclusive alguns profissionais da saúde, têm em relação à queixa da dor”, acrescenta Thiago.

O docente destaca ainda a existência de artigos científicos que apontam para o tratamento multi e interdisciplinar da dor, envolvendo as áreas de fisioterapia, psicologia, medicina, nutrição e educação física.

O papel da fisioterapia 

Pessoas acometidas pela fibromialgia têm na fisioterapia uma importante aliada para o tratamento. Quem garante é Ana Paula Abdon, docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e da graduação em Fisioterapia da Unifor.

Segundo a fisioterapeuta, o tratamento consiste em protocolos que incluem exercícios físicos associados a outros procedimentos para tecidos moles, como terapia manual e massoterapia, bem como a aplicação do laser e da neuroestimulação elétrica transcutânea (TENS).



“Atualmente, as recomendações para o tratamento da fibromialgia incluem a educação em dor e intervenções não farmacológicas. Entre os tratamentos indicados, a fisioterapia é essencial para as pessoas acometidos por esta síndrome” Ana Paula Abdon, docente do PPGSC e do curso de Fisioterapia da Unifor 

 


Cuidado multidisciplinar

Ana Paula faz parte da equipe multidisciplinar que atende pacientes no Ambulatório da Dor, equipamento da Universidade de Fortaleza que trata pessoas acometidas pela dor crônica (com duração superior a três meses) dos subtipos musculoesquelética e fibromialgia.

Os pacientes recebem atendimento gratuito. Por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), eles são encaminhados dos postos de saúde para o Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) e, após uma triagem no setor de Fisioterapia, direcionados para o Ambulatório.



Equipe multidisciplinar, com profissionais de medicina, fisioterapia e psicologia, é responsável pelo atendimento no Ambulatório da Dor (Foto: Ares Soares)


Lá, a pessoa passa por uma avaliação inicial ampla, composta por questionários e avaliações específicas, juntamente com a equipe de profissionais da fisioterapia, psicologia e nutrição. Após essa etapa, o paciente permanece em atendimento por cerca de dois meses.

Os acompanhamentos em fisioterapia e psicologia contam com a participação de alunos de graduação e pós-graduação Lato Sensu e Stricto Sensu da Unifor, supervisionados pelos professores.

“O Ambulatório traz um olhar interdisciplinar, no qual os profissionais dialogam e convergem para o objetivo de favorecer um melhor manejo da dor, pautado nas evidências, centrado na pessoa e no estabelecimento de metas com o paciente.  Acredito que isso faça a diferença, para além de técnicas e procedimentos”, declara a fisioterapeuta.

Serviço

Ambulatório da Dor
Atendimento: segundas e quartas-feiras, das 14h às 17h
Local: setor de Fisioterapia do NAMI, 1º andar
Endereço: Rua Desembargador Floriano Benevides, 221, Bairro Edson Queiroz – ao lado do Fórum Clóvis Beviláqua