null Entrevista Nota 10: Janaína Ramalho e a dedicação aos transplantes de órgãos e tecidos

Seg, 20 Setembro 2021 15:20

Entrevista Nota 10: Janaína Ramalho e a dedicação aos transplantes de órgãos e tecidos

Professora de Medicina da Unifor e coordenadora da Doe de Coração 2021, a nefrologista destaca os desafios e superações da medicina e dos transplantes durante a pandemia


Janaína Ramalho é professora do curso de Medicina da Unifor e coordenadora do Movimento Doe de Coração 2021 (Foto: Ares Soares)
Janaína Ramalho é professora do curso de Medicina da Unifor e coordenadora do Movimento Doe de Coração 2021 (Foto: Ares Soares)

Doutora em Nefrologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Janaína Ramalho é professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor) há dois anos. Tem na educação a satisfação em contribuir com a formação de profissionais que farão a diferença na saúde amanhã, tendo como principal valor o amor no cuidar.

Recentemente, ela assumiu o papel de coordenadora do Movimento Doe de Coração 2021. Para Janaína, esta é mais uma oportunidade de se tornar uma só voz na sensibilização à doação de órgãos e tecidos. A atuação dela nos transplantes de órgãos e tecidos iniciou ainda cedo. Já na residência de Nefrologia, teve o seu primeiro contato com essa área. 

Hoje, ao ser a porta-voz oficial da Doe de Coração 2021, reassume o desafio de lutar pela vida daqueles que esperam por uma nova chance. Do último ano para cá, desafios maiores enfrentou com a pandemia da Covid-19. Assim como outros colegas da Saúde, Janaína lutou para manter o serviço de transplantes funcionando e superou as dificuldades para assegurar a chance dos pacientes à espera de um órgão conquistarem uma qualidade de vida.

Ao Entrevista Nota 10, a nefrologista e professora de Medicina da Unifor, Janaína Ramalho, fala sobre sua vocação, os desafios e conquistas para a Medicina durante o cenário pandêmico e a importância da sensibilização à doação de órgãos e tecidos. Confira na íntegra:

Entrevista Nota 10 - Professora, como se deu a sua escolha por Medicina e o seu ingresso na área de transplantes de órgãos e tecidos?

Janaína Ramalho - O meu ingresso na Medicina, eu acho que foi muito influenciado pela minha mãe, que é pediatra. Eu vi o exemplo dela e tive vontade de ser médica também. O ingresso na área de transplantes aconteceu no primeiro contato, foi durante a residência de Nefrologia. E logo que eu terminei a residência de Nefrologia, alguns meses depois, eu passei a integrar a equipe de transplante renal do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Eu fazia ambulatório e prestava atendimento a pacientes no pré-transplante; eu fazia ambulatório de transplante de intervivos e, a pacientes no pós-transplante. Eu trabalhei alguns anos no transplante em São Paulo, mas depois fiquei alguns anos afastada da área de transplantes. E aí no final do ano passado, eu passei a trabalhar também no hospital universitário, prestando assistência a pacientes internados no pós-transplante. Transplante de rim, claro. Eu também trabalho com pacientes que têm doença renal crônica, em diálise. Muitos deles estão esperando um transplante. São aqueles pacientes que fazem diálise três vezes por semana porque o rim deles não funciona o suficiente para eles ficarem fora da diálise.

Entrevista Nota 10 - Como funciona a sua relação com o exercício da medicina e a docência?

Janaína Ramalho - Então… Eu sou professora da Unifor há dois anos. Mas antes disso, eu fui professora substituta da Nefrologia da UFC. E logo depois que terminei a residência, eu também fiquei na função de preceptora dos residentes de Nefrologia. É uma função na instituição onde eu fiz a residência, que dura um ano. E eu sempre gostei muito dessa atividade de ensino, sempre achei que esses contatos com as pessoas e a informação faz com que a gente aprenda muito, faz com que a gente tenha vontade também de aprender. E no fim das contas, o desejo de ser modelo melhora muito a nossa ação assistencial, o jeito que a gente cuida do paciente; porque o aluno está vendo a nossa ação assistencial. Se você quer ser modelo, você vai fazer aquilo ali da melhor maneira possível.

Entrevista Nota 10 - A pandemia da Covid-19 acelerou o processo de transformação digital. Na medicina, não foi diferente. A adesão à telemedicina, teleconsultas e teleaulas teve novas proporções e destaques na área. Na sua opinião, que herança a atual crise sanitária deixará para a Medicina, tanto na relação com o paciente quanto na formação dos médicos?

Janaína Ramalho - A herança para mim é o sentimento de que nós temos mesmo uma grande capacidade de nos adaptar. O avanço da telemedicina e do ensino a distância que aconteceu nesse período vai fazer a Saúde e a Educação alcançarem lugares que antes estavam excluídos. Isso vai beneficiar com certeza muitos pacientes e estudantes. Mas confesso que sinto muita falta de olhar nos olhos dos alunos e de observar melhor a linguagem corporal deles, até mesmo quando a aula é totalmente teórica. E o mesmo vale para as consultas médicas.

Entrevista Nota 10 - Em relação ao transplante de órgãos e tecidos, o que você aponta como principais desafios e conquistas nesse último ano?

Janaína Ramalho - A pandemia representou um óbvio desafio. As equipes e os pacientes tiveram que enfrentar o medo da doença, os fluxos tiveram de ser reorganizados. Os recursos da Saúde, por exemplo, os leitos de UTI, ficaram ainda mais restritos. Mas com muito esforço de todos, os transplantes continuaram acontecendo. Aqui mais uma vez destaco o legado da telemedicina, que possibilitou manter o acompanhamento dos transplantados e que é algo que em muitos casos deverá ser mantido, até porque muitos pacientes em fila e pacientes transplantados não estão na mesma cidade ou até no mesmo estado do centro transplantador.

Entrevista Nota 10 - O Movimento Doe de Coração 2021 homenageia os profissionais de saúde que atuaram na área de transplantes de órgãos e tecidos em 2020. Como se sente ao ter sido convidada para ser coordenadora da campanha neste ano e qual a importância desse reconhecimento em relação aos colegas professores?

Janaína Ramalho - O trabalho na área de transplantes sempre exigiu uma grande dedicação. Os transplantes na maioria das vezes não têm hora pra acontecer, não param nos feriados, não podem esperar. A necessidade de superar as dificuldades com a pandemia exigiu ainda mais dos profissionais envolvidos. E para cada transplante, para cada vida salva, são muitos profissionais de saúde se esforçando e dando seu melhor. Esse reconhecimento é uma maneira de agradecer a todas essas pessoas que não deixaram o transplante parar e que trouxeram vida e qualidade de vida para aqueles que esperavam por um órgão.

Entrevista Nota 10 - Qual mensagem você gostaria de deixar sobre a importância da sensibilização à doação de órgãos e tecidos?

Janaína Ramalho - A mensagem de doação é um gesto de solidariedade que salva a vida de muitas pessoas. Pessoas de verdade, que são os amores de outras pessoas, que têm famílias que estão sofrendo junto. É realmente uma oportunidade de fazer a diferença no mundo. E mais uma vez reforçar que o desejo de doar seja informado em vida à família. Porque assim, a decisão da família, que é o que vale para autorizar a doação de órgão, vai ocorrer de maneira mais tranquila.