seg, 5 junho 2023 15:37
A natureza como parte da aprendizagem
A Universidade de Fortaleza promove o contato constante com a natureza em um campus com microclima diferenciado, além de fomentar educação ambiental, produção de tecnologias sustentáveis e formação interconectada à preservação do meio ambiente
O lugar das brancas salinas semidesérticas esverdeou. Em meio à selva de pedras que tomou a quinta capital do país ao longo dos anos, os 490 mil metros quadrados do campus da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, poderiam facilmente ser confundidos com um parque diante de sua vasta cobertura vegetal, repleta de baobás, ipês e outras milhares de espécies de plantas e animais.
É uma mancha verde importante de Fortaleza que virou refúgio e também espaço de fomento à consciência ambiental. “O próprio chanceler Airton Queiroz tinha esse amor e dizia que queria trazer a floresta aqui para dentro. Acho que ele conseguiu fazer isso”, conta o engenheiro agrônomo e consultor dos jardins da Unifor, Itamar Frota.
No sentido literal e no figurado, há muitas formas de "florestar" uma universidade, e a Unifor abraçou boa parte delas. A preservação da natureza — assim como os cuidados para manter fauna e flora do rico ecossistema que lhe serve de alicerce na maior bacia hidrográfica da cidade, a do Rio Cocó — deu ao campus um microclima diferenciado, com temperatura até oito graus mais amena que o restante da cidade. Um considerável conforto térmico em meio ao calor urbano.
O lugar virou um verdadeiro patrimônio natural da capital, sendo aproveitado tanto pela comunidade acadêmica, que utiliza o campus diariamente para o lazer e a produção de conhecimento, quanto para a população, que desfruta do espaço com piqueniques e outras atividades nas férias de julho. Lá, o contato constante com o verde, somado a inúmeras palestras e eventos realizados ao longo do ano, disseminam sementes para a educação ambiental.
São 490 mil metros quadrados com extensa cobertura vegetal, proporcionando uma “ilha verde” com clima até oito graus mais ameno na capital cearense (Foto: Ares Soares)
E quem vai dizer que oferecer, em todos os cursos, uma formação interconectada à preservação do meio ambiente e à produção de tecnologias sustentáveis não é também, metaforicamente, uma forma de reflorestar a universidade? Uma forma de contribuir para o futuro do planeta em tempos preocupantes de emergência climática?
Essa ideia está presente em inúmeras ações ao longo do ano, inclusive com a presença de ambientalistas renomados (como o francês Michel Prieur em 2022) e em disciplinas ofertadas em todos os Centros de Ciências. Ela é coroada anualmente na Semana do Meio Ambiente. Chegando em 2023 à décima sexta edição, o evento busca fomentar o estudo e a prática direcionados à sustentabilidade e proteção ao meio ambiente na comunidade universitária.
O privilégio de experimentar a natureza todos os dias
A vida cotidiana da maioria das pessoas está tão distante da natureza que soa como privilégio poder estudar e produzir conhecimento em uma área verde como esta. “É engrandecedor poder ter esse contato diário com o verde. Muitas universidades são apenas prédios, e você só anda basicamente de elevador. Aqui na Unifor, temos uma área verde para passear e desfrutar nos momentos livres”, celebra o estudante do oitavo semestre do curso de Jornalismo, Davinilton Aguiar.
“Venho [para a Unifor] de ônibus, vendo muito prédio e asfalto na rua. Chegar aqui, ver tanto verde e respirar um ar mais limpo me faz bem. Acho que ajuda até na saúde mental. Uso esses espaços para descansar, conversar com amigos nos intervalos das aulas, pensar sobre a vida” — Davinilton Aguiar, aluno do curso de Jornalismo na Unifor
O impacto do ambiente na saúde mental pode ser positivo ou negativo. Se por um lado a exposição a ambientes naturais — como florestas, parques e jardins — é capaz de proporcionar sensação de paz e tranquilidade, ter maior consciência sobre o colapso ambiental que ronda o planeta tem gerado o que especialistas chamam de ecoansiedade ou ansiedade ambiental.
Ambientes restauradores como o campus da Universidade de Fortaleza podem, de fato, trazer benefícios neste sentido, já que são capazes de melhorar o humor, reduzir a fadiga e aumentar a criatividade. Davinilton diz sentir no campus uma espécie de bem-estar psicológico.
Ele conta que o contato diário com a natureza e os inúmeros eventos promovidos pela Unifor também foram despertando nele uma preocupação com o futuro do meio ambiente. O assunto tem ganhado cada vez mais relevância nos últimos anos em razão da aceleração do aquecimento global e dos desafios impostos pela crise climática. “A Universidade tem um papel crucial para pensar em soluções e ajudar no movimento pela preservação”, acredita o aluno.
Um campus que é também um “verdadeiro jardim botânico”
Como tudo começa pelo exemplo, no arborizado campus da Unifor a ordem é cuidar dos jardins e preservar ao máximo fauna e flora das áreas de vegetação mais densa. Conviver com os inúmeros animais que habitam aqueles terrenos, como as famosas emas, sem interferir no seu modo de vida.
Poder apreciar do canto dos pássaros a árvores emblemáticas que formam verdadeiras esculturas vegetais, como os jucazeiros e pau-ferro de caules pomposos, o pau-brasil plantado na Praça Central pelo fundador Edson Queiroz ou mesmo os vultosos baobás, que chegaram ao campus nos anos 1970 pelas mãos de alunos do curso de Administração. “Temos aqui um laboratório, um verdadeiro jardim botânico”, resume, orgulhoso, o engenheiro agrônomo e consultor dos jardins da Unifor, Itamar Frota.
Os cuidados com o local unem uma preocupação de preservar a área verde mais densa com menos interferência e manter a parte jardinada com substituições que exaltem todo o seu potencial paisagístico, valorizando o plantio de espécies nativas e capazes de despertar sensações. Por isso, o passeio pelo campus é uma experiência sinestésica.
“Temos espécies com flores, onde a gente explora por vezes cores, textura da própria planta, às vezes até despertando sensações com aromas. Então a ideia sempre é tentar organizar os espaços e cuidar da questão ambiental, mas sem fugir do tópico paisagístico”, explica Itamar.
Práticas sustentáveis também acompanham o árduo trabalho de manutenção da vasta área verde do campus, como, por exemplo, um projeto piloto para aproveitar as folhas que caem das árvores para fazer compostagem e produzir o próprio adubo.
“A Unifor tem uma área que é praticamente uma mancha verde dentro da cidade e que hoje é uma área verde em preservação. Então há uma preocupação muito grande da instituição com esse contexto ambiental, não só voltada ao espaço em si, mas a despertar a consciência ambiental na comunidade em geral” — Itamar Frota, engenheiro agrônomo e consultor dos jardins da Unifor
O engenheiro agrônomo lembra que o próprio Brasil tem uma política de meio ambiente relativamente nova e que a importância da educação ambiental vem ficando mais forte nas últimas décadas, a partir das convenções climáticas globais.
“Hoje, em Fortaleza, existem movimentos com esse objetivo que fazem plantio de mudas em locais públicos”, celebra. Para Itamar, esse convívio com o verde desperta as pessoas para refletirem sobre a questão ambiental e passarem a defender a causa. E a Universidade de Fortaleza vem promovendo ações e eventos nesse mesmo ensejo.
Em comemoração aos 50 anos da Unifor e ao Dia Mundial do Meio Ambiente (5 de junho), a Fundação Edson Queiroz (FEQ) promoverá o lançamento da Floresta do Aluno e do Aroma do Campus, durante solenidade que acontecerá nesta segunda-feira, dia 5.
A Floresta do Aluno será criada com o plantio de 50 mudas de árvores de médio e grande porte, como pau-brasil, ipês, jacarandá mimoso, pau branco, pau ferro e mini flamboyant. Sua execução ficará a cargo de alunos, professores e funcionários da Unifor, curadores da FEQ e representantes das entidades do meio ambiente no Ceará.
Já o Aroma do Campus busca simular o “cheirinho” característico da instituição e tem em sua composição química óleos essenciais de copaíba, melaleuca e gerânio. O produto foi desenvolvido pelo curso de Farmácia em parceria com o Núcleo de Biologia Experimental (Nubex).
+ Confira detalhes sobre os projetos
A preocupação ambiental é uma missão de todos
O fato é que a preocupação ambiental faz parte da missão institucional da Universidade, afirma o chefe da Divisão de Responsabilidade Social, Marcus Holanda. “O meio ambiente é visto como um fator gerador do próprio desenvolvimento. Sem o meio ambiente, não se consegue ter dignidade, emprego e desenvolvimento. [...] O papel da Unifor é promover tanto a conscientização quanto o desenvolvimento de produtos e tecnologias para a preservação ambiental”, explica.
Segundo ele, a instituição está consciente de que preservar o meio ambiente é a centralidade para a própria permanência da vida humana no planeta. Sem isso, como superar a emergência climática, o aquecimento global e a poluição? É preciso pensar cada vez mais em soluções para restabelecer o equilíbrio ecológico, reduzir a incidência de desastres naturais e garantir segurança biológica.
“A Unifor busca a conscientização e o respeito individual e coletivo. Ela mostra a necessidade da preservação e da promoção desse ecossistema até para garantir o futuro intergeracional. Temos que proteger o meio ambiente hoje para que as futuras gerações também possam usufruir dele” — Marcus Holanda, chefe da Divisão de Responsabilidade Social da Unifor
Criar soluções e tecnologias sustentáveis
A Universidade está aberta para mergulhar em busca de soluções, com o desenvolvimento de tecnologias e inovações para cidades sustentáveis e a luta por justiça ambiental. É por isso que o tema perpassa todos os eixos possíveis, estando presente no dia a dia dos cursos da Unifor, com todos os atores acadêmicos envolvidos diretamente em eventos como a Semana do Meio Ambiente.
“A Unifor pensa na responsabilidade social, na ética, na governança. A gente se preocupa com a restauração dos ecossistemas, com a proteção da biodiversidade ecológica, com a segurança química e biológica”, acrescenta Marcus Holanda. Vem desse pensamento, por exemplo, a construção de uma usina solar responsável por gerar parte da energia utilizada na instituição.
Segundo maior estacionamento solar do país, a usina da Unifor conta com 5.580 placas solares instaladas em 22 mil m² e uma produção capaz de suprir de 25% a 30% do consumo de energia elétrica do campus (Foto: Ares Soares)
A Unifor também estimula que o aluno leve essas práticas para sua vida pessoal e profissional, seja ao oferecer em todos os cursos uma disciplina optativa como a de Responsabilidade Social e Ambiental ou ao desvelar a importância do cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU, uma exigência crescente também nas grandes empresas do mercado.
“A gente busca mostrar ao aluno a importância da sua atuação enquanto profissional em relação às pessoas, ao meio ambiente, à transformação. Oferecemos uma formação diferenciada para um profissional com perfil mais humano, mais sensível e que entenda a importância da natureza para a manutenção da vida”, explica o docente.
A conscientização ambiental também é construída nas artes
A Unifor realiza ações diversas ao longo do ano relacionadas à preservação da natureza. Isso vai desde a manutenção do espaço verde no campus até movimentos de conscientização ambiental e aterriza também no mundo das artes. Mas como se dá a ligação entre arte e natureza dentro da Universidade?
Segundo a professora Adriana Helena, Chefe da Divisão de Arte e Cultura, a arte estimula a percepção, a sensibilidade, a cognição, a expressão e a criatividade, além de ter uma função social, “pois é capaz de reinserir pessoas na sociedade e de ampliar os horizontes de cidadãos”.
“Por sua vez, vivenciar a exuberância do campus da Unifor, em meio a esculturas, instalações, árvores etc, nos leva a refletir e questionar temas como os perigos que assolam o planeta e sobre sua conservação, o aquecimento global, o desmatamento ou as consequências do consumo massivo”, explica.
Neste mês, uma exposição nesse sentido entra em cartaz, chamada “Naza na Natureza”, da artista plástica Naza Mcfarren. A mostra, que entra em cartaz dia 5 de junho, integra a programação especial comemorativa pelos 50 anos da Unifor e carrega diversos questionamentos relacionados à natureza e à conscientização dos perigos ambientais que espreitam o planeta.
Parte das obras da artista plástica tem como tema animais em extinção, para chamar a atenção das pessoas sobre a necessidade de preservação do meio ambiente (Foto: Ares Soares)
“A artista propõe uma concepção de arte relacionada à pesquisa e utilização de elementos do meio ambiente. Suscita reflexões e diálogos importantes e necessários em nossa sociedade, alertando em defesa do meio ambiente e a fragilidade da natureza”, afirma Adriana.
A exposição poderá ser apreciada de duas formas: fisicamente, por meio de intervenção artística no campus da Universidade de Fortaleza com o envelopamento de árvores com obras da artista, e com óculos de realidade virtual no Espaço Cultural Unifor.
Para Adriana, qualquer temática, inclusive a ambiental, pode ser expressa, refletida e discutida pelas diversas linguagens artísticas. “A arte levanta questões não apenas no nível racional ou concreto, mas, sobretudo, sob uma perspectiva simbólica, ampliando e enriquecendo os saberes a respeito de determinado tema”, defende.
“A Unifor desempenha diversos papéis no que tange às questões ambientais, dentre eles podemos destacar a educação ambiental, o desenvolvimento de soluções sustentáveis, a promoção de diálogos científicos para o equilíbrio ecológico ambiental. Prima pela busca de implementar uma justiça ecológica, bem como garantir um meio ambiente ecologicamente equilibrado” — Adriana Helena, chefe da Divisão de Arte e Cultura da Unifor