Do Ceará para o Mundo: Egressa da primeira turma de Medicina compartilha experiência no Canadá

seg, 14 agosto 2023 16:35

Do Ceará para o Mundo: Egressa da primeira turma de Medicina compartilha experiência no Canadá

Graduada pela Universidade de Fortaleza, Renata Menezes dá dicas para quem sonha em trilhar carreira internacional na área da saúde


Renata tem mestrado em Ciências em Medicina Experimental pela University of British Columbia (Foto: Arquivo pessoal)
Renata tem mestrado em Ciências em Medicina Experimental pela University of British Columbia (Foto: Arquivo pessoal)

Uma nova etapa da vida de Renata Barbosa começou em dezembro de 2016. Após se formar em Medicina pela Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz — e trabalhar quatro anos em emergências hospitalares, postos de saúde e medicina pré-hospitalar na capital cearense, a jovem médica decidiu seguir o sonho de morar fora do país ao se mudar para o Canadá.

Antes de encontrar colocação na área, trabalhou vários meses com atividades diversas, como auxiliar de cozinheiro e vendedora de vinhos. Foi em 2017 que começou a ser voluntária em um laboratório de pesquisas com neuroestimulação da University of British Columbia, o Non-Invasive Neurostimulation Therapies (NINET-UBC).

Lá, Renata atuou como pesquisadora até julho deste ano. Essa ocupação a levou, em 2018, ao Mestrado em Medicina Experimental, realizado na mesma universidade, onde estudou estimulação transcraniana em pacientes com transtornos de humor.

Pesquisa e voluntariado

A preparação para a vida no exterior teve início logo no internato, quando Renata escolheu, no mês de eletivo, ir para um laboratório de pesquisa em neuroestimulação no Spaulding Rehabilitation Hospital, em Boston, nos Estados Unidos (EUA).

Tempos depois vieram as primeiras tentativas para o mestrado no Canadá. Sem aprovação imediata, a egressa da Unifor não se deixou desanimar: ela recalculou a rota e buscou a experiência que precisava para alcançar seus objetivos.


Renata Menezes e o Dr. Felipe Fregni, diretor de pesquisa e professor de Medicina Física e Reabilitação na Harvard Medical School, em Boston (EUA) (Foto: Arquivo pessoal)

Assim, a profissional de saúde começou a acumular experiências em centros de pesquisa brasileiros. “Auxiliei a coleta de dados de controles humanos nas pesquisas de duas estudantes do mestrado da Unifor por intermédio da Dra. Fernanda Maia”, relembra.

Renata ainda passou duas semanas no laboratório do Dr. Norberto Cysne Coimbra, na Universidade de São Paulo (campus de Ribeirão Preto), para aprender mais acerca de pesquisas sobre ansiedade e uso de componentes canabinoides em ratos.

De volta a Fortaleza, ela atuou como voluntária no Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) junto à Dra. Adriana Rolim, docente e coordenadora de Pesquisa na Vice-Reitoria de Pesquisa (VRP) da Unifor. Seu papel foi auxiliar nas pesquisas de antinocicepção — redução na capacidade de perceber a dor — envolvendo peixes, especialmente o zebrafish, espécie aliada da ciência nos estudos em biomedicina. 


O voluntariado no NUBEX foi uma das atividades que Renata realizou na Unifor (Foto: Arquivo pessoal)

Tratar e apoiar

Mais na frente, enquanto atuava no laboratório NINET-UBC, Renata teve como principal função selecionar pacientes para participar das pesquisas e acompanhá-los durante o período em que estavam recebendo tratamento de estimulação magnética transcraniana. Esse acompanhamento é realizado por meio de questionários que ajudam a quantificar e qualificar a evolução da condição psiquiátrica. 

“Durante meus anos no laboratório, também apliquei tratamentos de transcranial magnetic stimulation (TMS), participei de treinamentos, treinei novos entrevistadores e coordenei o controle de qualidade relacionado às entrevistas. Também contribuí com a análise de dados de algumas pesquisas desenvolvidas no local”, destaca a médica.


Renata (de vermelho) e equipe de pesquisa do laboratório NINET-UBC, no Canadá (Foto: Arquivo pessoal)

Para Renata, estar em contato com o paciente e avaliar como o tratamento está influenciando sua condição é extremamente importante do ponto de vista da pesquisa e do trato com o indivíduo.

“[Isso] requer conhecimento clínico e imparcialidade na leitura das informações fornecidas pelos participantes e, ao mesmo tempo, é o momento em que eles podem falar com alguém e se sentirem apoiados durante o processo de tratamento”, explica.

Da Unifor para a vida

Durante a graduação na Unifor, Renata teve participação ativa: foi representante de turma e monitora na disciplina de Habilidades Médicas; atuou no Programa de Educação Tutorial (PET-Medicina); participou de duas olimpíadas do Centro de Ciências em Saúde (CCS); além de ter integrado grupos de pesquisa em Melioidose e em Nefrologia.

“Sinto que me adaptei muito bem ao sistema de ensino de Medicina na Unifor, o problem-based learning (aprendizagem baseada em problemas, em português), pois me impulsionava a estudar frequentemente, já que a cada semana tínhamos novos grupos tutoriais com novas problemáticas a serem resolvidas”, recorda a egressa.


Durante a graduação, Renata [à esquerda] também teve uma experiência no Hospital Distrital Gonzaga Mota (Gonzaguinha) de Messejana (Foto: Arquivo pessoal)

A médica conta que fez excelentes amizades na Universidade e destaca a proximidade com o corpo docente como algo favorável. “Havia um contínuo trabalho e empenho para melhorar as atividades fornecidas, sempre que possível envolvendo o corpo discente nas tomadas de decisões”, pontua.

Renata ressalta ainda a disponibilidade e o apoio que encontra nos setores que compõem o curso de Medicina. Segundo ela, sempre que precisa de documentos ou orientações, tanto a secretaria quanto a coordenação e os professores estão abertos para ajudar. “A Unifor me deu a base médica para poder desbravar e expandir meus sonhos”, enfatiza. 

Jornada de desafios

Nos últimos anos, Renata tem realizado provas para validar o diploma no exterior e fazer residência médica. “Não é fácil conseguir vagas para ingressar na residência como médica de graduação internacional sem especialidade prévia”, revela. 

Ela conta que vem se preparando para entrevistas médicas e investindo em diferentes aspectos. “Exige muita dedicação e um pouco de sorte, além da prática médica recente. Então tomei a complexa decisão de vir a Fortaleza e trabalhar pelos próximos meses aqui”, elucida.


“Ajudar os outros me dá um senso de pertencimento à minha comunidade. E ajudar a sanar o sofrimento físico ou psíquico me pareceu a forma mais apropriada de fazê-lo.” — Renata Menezes, egressa do curso de Medicina da Unifor

A parada no Brasil é estratégica e deve durar cerca de três meses. A egressa planeja adquirir prática independente recente e aplicar para residência médica no Canadá no final de 2023. “Meu objetivo final é atuar como médica em prática independente no Canadá na [área de] psiquiatria. Vou continuar trabalhando para isso”, afirma Renata.

Firme na busca pelos objetivos que traçou para si, a médica apresenta conselhos práticos para quem, como ela, anseia pela carreira internacional: “Acredite no seu sonho e desenvolva estratégias para obtê-lo. Entenda o processo para chegar ao seu objetivo, faça conexões e abra portas por onde passar. Domine a língua do país em que pretende viver e estruture-se financeiramente”.