Conhecimento: direito inalienável

Advogou em causa própria, atento a um chamado íntimo em defesa do inalienável direito de expandir conhecimentos mesmo após ter alcançado estabilidade profissional e financeira. Foram 15 anos de magistratura em diferentes municípios do interior cearense até que o Juiz de Direito Jorge Di Ciero Miranda, 51, chegasse à capital para honrar a beca no Fórum Clóvis Beviláqua, unidade do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Lá, em meio à rotina burocrática do trabalho de jurisdição na 4ª Vara de Delitos de Tráfico, voltou a sonhar com um mestrado acadêmico. Sonho que morava ao lado, mais precisamente no campus da vizinha Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz.


Em 2014, o juiz bateu o martelo: iria bancar a própria pós-graduação e voltar à Academia, aos 44 anos de idade. “Quando optei pela graduação em Direito, ainda na década de 1990, olhava para o surgimento da Unifor com desconfiança. E assim optei pela universidade pública. Tempos depois, vi meu irmão Germano, dez anos mais novo do que eu, cursar e concluir Direito na Unifor. Nesse ínterim, comecei a prestar atenção em sua solidez teórica. E logo o vi conquistar o primeiro lugar em um concurso da Polícia Federal. Acabei também fazendo amizade e observando mais de perto advogados colegas dele, todos egressos da Unifor, e constatei o mesmo: eram profissionais de excelência atuando brilhantemente no mercado e com êxito em concursos públicos. Foi a partir daí que comecei a pensar que a graduação na Unifor também me teria feito bem”, remonta, satisfeito com a oportunidade de, anos depois, realizar em circunstâncias favoráveis o sonho interrompido logo após sua graduação, em 1995.

Durante o mestrado, oportunos insights. Di Ciero se deparou com projetos de pesquisa preocupados com inclusão social e temas de cunho prático, imbricados à realidade. “Essa atenção deve ser redobrada na próxima década, levando em conta a pluralidade cultural e a responsabilidade social, para além da formação técnica. Descobri empresas de tecnologia atuando na própria Unifor e vi como os trabalhos científicos podem aplicar seus resultados para atender aos interesses e demandas de clientes potenciais. Isso é fantástico enquanto metodologia e conceito de formação no século XXI. E a Unifor parte na frente”, observa, elogiando ainda iniciativas como a do Escritório de Direito, que integra a estrutura do campus e assiste gratuitamente uma parcela da população em situação de vulnerabilidade socioeconômica.

Para ele, voltar ao ambiente acadêmico também fez acordar subjetividades adormecidas em alguém que se diz um “burocrata do serviço público”. “Fiz o mestrado degustando mesmo, talvez porque estava com mais idade do que os meus colegas de sala e isso me proporcionava uma visão diferente. Revivi e entendi o que não tinha percebido ou apreendido na minha graduação. Voltei a pensar em como alcançar as pessoas excluídas que não são acessadas pela advocacia, em como criar uma linha verde de associativismo e chegar aonde os espaços institucionais não chegam... Tudo porque a Unifor é um celeiro de ideias associativistas e ainda pode avançar muito na profundidade, produzindo tecnologias e gerando estatísticas e indicadores de qualidade, para que não precisemos mais buscar nada disso fora”, destaca. 

Irreversível e progressivo, o prazer do reencontro com a Academia gera desdobramentos: com o doutorado em Direito Constitucional em curso na Unifor, o juiz Jorge Di Ciero agora pensa um modelo de política institucional de investimento em pós-graduação a ser aplicada no Tribunal de Justiça. “Como fazer para que o investimento em educação gere resultado institucional de qualidade e maior eficiência? Como a pesquisa pode se institucionalizar no Tribunal de Justiça? O que precisamos pesquisar? Ainda não existe resposta institucional para essas questões. E penso que uma pesquisa não pode ser acidentalmente boa, mas deve ser institucionalmente boa. Daí porque o apoio institucional é fundamental mesmo para o aluno genial, já que assim ele pode ir mais longe”, opina, de cátedra, o doutorando.

Ora como mestrando, ora ao longo do doutorado em curso, Jorge experimentou um contentamento a mais: conviver no campus com a esposa e as filhas que também passaram a integrar, nesse ínterim, o quadro discente da Universidade de Fortaleza. Ana Joyce Di Ciero, a matriarca da família, já havia cursado a graduação em Psicologia na Unifor quando decidiu voltar à instituição para o mestrado, ao mesmo tempo em que via a primogênita, Clara, seguir os passos dos pais ao também optar pela Unifor e cursar Engenharia Ambiental e Sanitária. Mais recentemente, foi a filha do meio, Paloma, quem se somou ao time Unifor para cursar Administração de Empresas. Sem esconder o orgulho ou disfarçar seu poder de influência, o pai é o elo confesso de união da família com o anseio e o gosto pelo saber.

“O meu mestrado me levou a participar ativamente da escolha da Clara em cursar Engenharia Ambiental. Dialogamos muito e até estudamos juntos. E hoje, com a Paloma cursando Administração, vejo meu doutorado encostar nos interesses e conteúdos do curso dela quando penso uma arquitetura institucional que proporcione melhor proveito do investimento em pesquisa para trazer resultados ao Tribunal de Justiça. Essa sensação de estarmos trocando conhecimentos e ampliando nossa visão de mundo juntos e misturados, de dentro para fora de casa, é um aprendizado não só prazeroso como profundo, já que se impregna no nosso cotidiano comum e se ramifica em nossas relações afetivas”, afirma. 

As “porcelanas” e o tempo da delicadeza

Gravidezes. Eis a palavra-chave que conduz a memória da psicóloga Ana Joyce D’Ávila Di Ciero, 46, de volta aos bancos da faculdade. Ela, que em 1996 ingressou no Curso de graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza para, no ano seguinte, trazer Clara na barriga, a primogênita de três filhas com Jorge Di Ciero. Acontece que não se viu sozinha na “aventura” precoce de ser mãe ao mesmo tempo em que vislumbrava o primeiro diploma. Do grupo de sete amigas mais próximas, quase todas também engravidaram e tiveram filhos enquanto se graduavam. Talvez por isso, arrisca Joyce, aquelas moças que só andavam juntas e costumavam sentar em um mesmo banco na Unifor para compartilhar sonhos, desafios e realizações próprias da maternidade e do início de uma carreira profissional tivessem ganho um delicado apelido: “porcelanas”. 

“Alguns dos nossos amigos, brincando, falou que éramos as porcelanas do Curso de Psicologia. Talvez por sermos as grávidas da turma e andarmos sempre juntas, a ponto de eleger um banco da Unifor como o nosso. O fato é que assumimos o apelido na época e ele permanece conosco até hoje, sendo inclusive o nome do nosso grupo no whatsapp. Essas sete amigas nunca perderam o contato e mesmo tendo algumas morando fora de Fortaleza sempre planejamos voltar à Unifor para fazer uma foto com todas no nosso banco de estimação. Acho que ele ainda está no mesmo lugar: é aquele que fica perto da Tops. Ainda existe essa lanchonete?”, pergunta Joyce, rindo-se do tempo em que ela e as amigas de sala também tomaram a iniciativa de abrir uma conta-poupança no extinto Banco Econômico, à época tendo uma agência funcionando na Unifor, para juntarem dinheiro durante todo o ano com vistas à festa de formatura. “Hoje isso é comum, mas ali fomos pioneiras e a turma aderiu”, recorda. 

Em 2000, com o canudo na mão, Joyce e família partiram para morar no interior cearense, dada a própria natureza da carreira profissional do marido juiz de Direito. Quinze anos depois, retornando a Fortaleza, a Unifor também voltou a ter lugar cativo e importância ímpar no processo de readaptação familiar. “Um dos passeios que mais me distraía quando voltei era vir para o Espaço Cultural da Unifor ver as exposições. E depois caminhar entre as árvores dos jardins belíssimos do campus, sentar de frente para aquelas fontes, fazer piqueniques aos finais de semana, levando as bicicletas, tudo era muito prazeroso e familiar a nós, que havíamos estudado ali e agora trazemos as filhas. Cheguei inclusive a mostrar o banco de estimação para elas”, recupera Joyce, vinculando a emoção ao fato de ela e o marido também terem escolhido a Unifor para ingressar em suas pós-graduações, primeiro ele, depois ela. “O fato é que quando Clara, a mais velha, passou no vestibular ficamos os três – pai, mãe e filha – estudando na mesma universidade durante certo período. E isso só aumentou o nosso vínculo afetivo com a Unifor”, reafirma.

Durante o mestrado, vale acrescentar, o reencontro com professores da época da graduação também resultou em sólidas amizades, a ponto de Joyce recebê-los em casa na confraternização natalina do ano de 2018.  “Viramos família de fato, por isso que voltar à Unifor tanto tempo depois me fez sentir acolhida de todas as formas. Não bastasse isso, ainda me deparava encantada com minha filha estudando ali, aquela moça de 20 anos que havia conhecido a Unifor dentro da minha barriga. Vê-la nos intervalos de aula, com os livros na mão, ou pegando carona comigo para chegar à Unifor era emocionante. E logo que concluí o mestrado, a filha do meio, Paloma, ingressou na Unifor, claro que bastante influenciada por nós e segura de sua escolha. Ou seja, nossa forma de pensar e ver o mundo, mas também nossos melhores sentimentos e recordações, passam pela Unifor. E assim não há como evitar o saudosismo e o desejo de sempre querer voltar”, sustenta Joyce. 

Em tempo: ela voltou. À convite da reportagem, Joyce e algumas das sete amigas “porcelanas” concordaram em se encontrar na Unifor para serem fotografadas no mesmo banco em que se encontravam na juventude. Mas, dessa vez, as “porcelanas” Joyce, Léa, Michelle, Luana e Rebeca já não falaram da vida de recém-casadas, dos primeiros filhos ou filhas e das lições que o próprio Curso de Psicologia da Unifor lhes trazia de bandeja para enfrentar com mais segurança a maternidade bem no início da vida profissional. Ali, sentadas lado ao lado, eram elas e um passado ainda bem presente na memória, repercutindo nas mulheres e profissionais que haviam se tornado. 

E eis que as voltas do tempo ainda lhes revelariam surpresas. Frente a frente com Léa, Joyce falaria da emoção de ver o filho da amiga cantar na colação de grau on-line da sua primogênita Clara, ao final do segundo semestre de 2020. “A Unifor contratou uma banda, a The Mob, para cantar ao vivo em um palco armado na área em frente à biblioteca. Isso para celebrar a colação de grau de uma turma de jovens, que, como minha filha, não puderam se encontrar presencialmente numa festa de formatura, por conta da pandemia da Covid-19. Pudemos assistir pela TV, na sala de casa, enquanto fazíamos um jantar em família para Clara se sentir comemorando o fechamento de um ciclo. De repente, qual não foi a minha surpresa quando percebi que o vocalista da banda era Igor, o primogênito também da minha amiga Léa, que engravidou logo depois de mim quando ainda éramos as ‘porcelanas’, estudantes de Psicologia da Unifor. Foi emocionante! Há 23 anos, não imaginaríamos essa cena: Igor cantando na Unifor e Clara se formando lá também, ao som da sua voz e banda”, suspira Joyce, ciente do belo laço que a memória pode dar em cada história de vida entrelaçada a tantas outras.

Como nossos pais

Influência dos pais, sim. Mas Clara D´Ávila Di Ciero, 23, foi “testando” até definir a sua escolha pela graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária na Universidade de Fortaleza. “Iniciei o mesmo curso em duas universidades diferentes, mas a diferença quanto à infraestrutura e à qualidade dos laboratórios era gritante e foi decisiva na minha escolha pela Unifor. Os colegas da outra faculdade ficaram abismados quando eu contei que lá (na Unifor) havia disponibilidade de um microscópio por pessoa, além do acesso irrestrito a uma vasta biblioteca para deixar no esquecimento a tal máquina de xérox. Tive acesso a tudo isso logo no primeiro semestre, além de considerar todo o bem-estar proporcionado pelo verde do campus e seus lugares de convivência, que já conhecia desde adolescente em passeios deliciosos com meus pais”, destaca.  


Em cinco anos de graduação recém-completados, Clara ainda leva na bagagem como bônus o fato de ter convivido com os pais no mestrado e doutorado deles. “Assisti à defesa da dissertação de minha mãe quando ela se tornou mestre em Psicologia que, ao contrário da minha, foi presencial, já que não existia pandemia. E com meu pai cheguei a assistir um ciclo de palestras sobre meio-ambiente na pós em Direito, já que o projeto dele como mestrando era relacionado a Direito Ambiental. Acompanhamos também as palestras do Mundo Unifor juntos e conversávamos sobre as aulas em comum ali nos jardins da Unifor. Adorava! Com minha mãe, como eu estudava à noite e ela à tarde, teve uma época da vida que a gente praticamente só se via na Unifor, onde sentávamos juntas para lanchar no Centro de Convivência. Então, a Unifor se tornou sim uma segunda casa para mim”, afirma Clara.

Em ambas as “casas”, acrescenta Clara, os livros e a leitura sempre pautaram as conversas. “Quando lembro dos meus pais no ambiente doméstico, eles estão sempre lendo. Temos uma biblioteca na sala farta de livros acadêmicos de Direito, principalmente, e Psicologia, além de literatura. São tantos que não há espaço para os meus e os da minha irmã Paloma, que acabou de ingressar na graduação na Unifor. Então temos que nos virar com nossas estantes nos quartos mesmo; mas não reclamo. Nossos pais são fontes de conhecimento sempre acessíveis e estimulam muito a gente a ler sobre temas variados, a fazer cursos livres, além de aprender outras línguas. Eu falo inglês e sueco, meu pai domina o inglês e o italiano, até pela sua própria origem, e minha mãe o francês. Paloma estudou piano e flauta, por influência do meu pai. Então, estamos sempre ligados também pelo prazer de estudar”, comemora.

Finda a graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária na Unifor, Clara, a exemplo dos pais, se prepara para um mestrado, mas na Itália, já que tem cidadania italiana. Enquanto a irmã afivela as malas, Paloma D’Ávila Di Ciero, 19, inicia graduação em Administração de Empresas na Unifor, mas de forma remota, como preconizam as normas de biossegurança relacionadas à pandemia da Covid-19.  É um novo modelo de formação que tende a se tornar híbrido, pós-vacinação em massa, mas que só Paloma vem experimentando desde o início de sua vida acadêmica. “É estranho não poder aproveitar agora o que a Unifor tem de melhor - além do ensino de excelência, claro - que são os espaços de convivência. Aquele campus verde e horizontal, onde podemos circular livremente e que é propício à troca de ideias entre estudantes das mais diversas áreas, sempre foi um atrativo a mais. Saber que temos acesso a uma exposição de artes ou a um teatro a poucos metros de distância é um sonho para qualquer jovem que entra na universidade e não quer se ater apenas à sala de aula, mas ampliar sua visão de mundo. Então, é esperar para ter tudo de volta e viver a mesma experiência que meus pais e minha irmã viveram e tanto me influenciaram a estar e permanecer na Unifor”, resigna-se Paloma.

Enquanto aguarda bom tempo, a estudante de Administração vibra com o primeiro estágio e as oportunidades que sabe que virão. “Na Unifor, o aluno, desde os primeiros semestres, é estimulado a se inserir no mercado de trabalho. Então basta querer para começar a estagiar, virar bolsista, integrar grupos de estudos ou pesquisa, trabalhar em empresas juniores sediadas na própria universidade, tentar intercâmbios ou mesmo buscar uma dupla titulação. A Unifor vai abrindo portas. E as plataformas de ensino a distância já disponíveis permitem que a gente não perca as chances de prática e nem abra mão da autonomia para conduzir a própria trajetória acadêmica e profissional. Além disso, conto, nesse momento de aulas on-line, com um pai muito curioso e dedicado ao conhecimento que faz questão de estudar e aprender junto comigo, até porque ele também está com o doutorado em andamento na Unifor. Está puxado, porque é um estudante muito qualificado e exigente, mas vai dar certo”, diverte-se.