A importância do setembro amarelo para a promoção da saúde mental no ambiente de trabalho
No atual cenário de trabalho remoto e híbrido, o Setembro Amarelo destaca uma questão crítica para os gestores: a saúde mental dos colaboradores. Com o lema "Se precisar, peça ajuda!", a campanha de 2024 reforça a necessidade de um olhar atento ao bem-estar emocional dentro das empresas.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 14 mil suicídios são registrados no Brasil anualmente, muitos dos quais poderiam ser prevenidos com apoio psicológico adequado no ambiente de trabalho, uma vez que o trabalho ocupa uma posição central na vida do indivíduo.
O impacto das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na saúde mental dos trabalhadores está sendo problematizado por alguns estudiosos ao conceito de "pervasividade", pois essas tecnologias infiltram tanto na rotina profissional quanto na vida pessoal, enfraquecendo as divisões entre ambas. Essas ferramentas fazem com que o trabalho esteja sempre presente na vida dos colaboradores. Como resultado, surgem fenômenos como o tecnoestresse e a telepressão – a sensação de estar permanentemente conectado e acessível – que levam ao esgotamento emocional e afetam negativamente a qualidade de vida.
Estudos recentes indicam que a falta de uma separação clara entre vida profissional e pessoal pode agravar esses problemas. Um estudo realizado na Holanda, em 2018, com 116 participantes, mostrou que trabalhadores que percebem uma baixa segmentação entre trabalho e vida pessoal experimentam um menor distanciamento mental do trabalho e pior qualidade de sono nos dias em que fazem uso intensivo de smartphones.
Além da segmentação, o tipo de liderança é um fator determinante para a elevação do tecnoestresse. Um estudo conduzido em 2019 com 379 profissionais no Brasil demonstrou que estilos de liderança laissez-faire – caracterizados por baixa intervenção e suporte – aumentam a sensação de tecnocomplexidade e tecnoincerteza. Isso agrava o estresse no ambiente de trabalho e reduz a motivação e a satisfação dos colaboradores.
A integração excessiva entre vida pessoal e trabalho, intensificada pelo uso contínuo de TIC, impacta o equilíbrio mental dos trabalhadores. As empresas desempenham um papel importante ao estabelecer políticas que promovam a segurança psicológica e uma divisão saudável entre as esferas profissional e pessoal. Isso envolve a definição de diretrizes claras sobre a conectividade fora do horário de trabalho, visando reduzir a telepressão e fornecer apoio emocional adequado.
Para enfrentar o tecnoestresse de forma eficaz, é preciso ultrapassar os métodos tradicionais de avaliação. Algumas ferramentas fornecem uma visão mais abrangente dos efeitos das TIC na saúde mental dos trabalhadores. Existem, inclusive, escalas que avaliam tanto os fatores que contribuem para o tecnoestresse – como sobrecarga de trabalho, invasão de privacidade e insegurança no emprego – quanto os fatores que o mitigam, como suporte técnico, treinamento adequado e satisfação no trabalho.
Além disso, é essencial que os gestores promovam ativamente fatores que inibem o tecnoestresse, como:
- Treinamento adequado para adaptação às novas tecnologias;
- Suporte técnico eficiente para resolver rapidamente problemas relacionados às TIC;
- Incentivo ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com políticas claras de desconexão;
- Criação de um ambiente de trabalho que valorize a satisfação e o bem-estar dos colaboradores;
- Fomento à comunicação aberta e ao feedback constante, garantindo que os funcionários se sintam ouvidos e apoiados em suas necessidades tecnológicas e emocionais.
Ao promover um ambiente de trabalho que valorize o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, oferecendo recursos de apoio emocional e serviços de saúde mental, cria-se um espaço produtivo e com medidas de proteção psíquica. Investir no bem-estar dos colaboradores é uma estratégia perene e rentável para as empresas.
Nesse contexto, o Setembro Amarelo nos lembra que a prevenção ao suicídio no ambiente de trabalho é uma responsabilidade compartilhada, que exige uma combinação de políticas de apoio psicológico, boas práticas de liderança e uma organização clara do trabalho.
Oferecer aos colaboradores o suporte necessário para equilibrar suas responsabilidades pessoais e profissionais é fundamental para criar um ambiente de trabalho favorável e seguro. Nesse contexto, as pessoas se sentem mais à vontade para expressar suas necessidades, cuidar do ambiente e realizar um trabalho de qualidade, promovendo, assim, um espaço de crescimento e bem-estar mútuo.
Texto por Hercilia Correia, psicóloga e professora do curso de Administração da Universidade de Fortaleza