seg, 9 dezembro 2024 17:07
Câmbio e juros em alta no Brasil são os destaques de novembro
O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.
Mercado de Capitais Internacional
A economia americana apresentou queda nos pedidos de auxílio-desemprego, segundo seu Departamento de Trabalho. Os dados apresentam uma diminuição de 2 mil pedidos em relação ao mês anterior, refletindo uma recuperação de seu mercado de trabalho, após o impacto das greves e furacões de outubro deste ano que impulsionaram o número de pedidos pelo auxílio. O Banco Central Americano, Federal Reserve (FED), realizou seu segundo corte consecutivo de seu ciclo, com uma redução de 0,25 ponto percentual e fazendo a taxa americana ficar entre 4,50% e 4,75%. Fatores internos como a diminuições de pedidos pelo auxílio-desemprego e o cenário inflacionário convergindo próximo a meta de 2%, impulsionaram a decisão do FED.
O índice de preços ao consumidor (CPI) americano registrou alta de 0,2% em outubro, acumulando 2,6% em 12 meses, enquanto o núcleo inflacionário, que exclui alimentos e energia, avançou em 0,3% e acumula 3,3%. A alta teve peso pelos setores de habitação (+0,4%) e alimentos (+0,2%). O produto americano registrou um crescimento sólido de 2,8% no terceiro trimestre de 2024, impulsionado pelo consumo das famílias (+3,5%) e investimentos (+1,7%), apesar da retração na balança comercial.
Esse desempenho coloca os EUA em posição de destaque frente a outras economias desenvolvidas, mas o contexto global traz desafios. A proposta dos Brics de criar uma moeda alternativa ao dólar gerou tensões, levando o presidente eleito Donald Trump a ameaçar tarifas de 100% sobre produtos provenientes dos países membros do bloco. A medida, caso implementada, busca preservar a hegemonia do dólar no comércio internacional, mas também alimenta incertezas quanto aos impactos nas economias emergentes e no fluxo de bens entre mercados.
Na Zona do Euro, o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), Luis Guindos, declarou durante um evento em Madri que caso a inflação continue convergindo para as projeções da meta de 2%, o BCE poderá realizar novos ajustes nas taxas básicas de juros. Mesmo com o índice de inflação acelerando para 2,3%, o BCE demonstra confiança em sua condução a meta, tendo seu núcleo da inflação, que exclui itens voláteis, estável em 2,7%, refletindo desaceleração no preço dos serviços, mas aumento no preço dos bens.
O PIB da zona do euro cresceu apenas 0,4% no terceiro trimestre de 2024, evidenciando um desempenho econômico bem abaixo de outros países desenvolvidos e confrontando as expectativas de economistas. Embora o mercado de trabalho tenha demonstrado resiliência, desafios como juros elevados, recessão industrial e consumo privado enfraquecido continuam a pressionar a economia. Esse cenário inflacionário, combinado com o crescimento modesto, coloca o BCE em um delicado equilíbrio entre sustentar a atividade econômica e manter a estabilidade de preços.
Na China, com relação as taxas de juros, o Banco Popular da China (BPdC) manteve a taxa referencial de empréstimos de um ano (LPR) em 3,1% e a taxa de cinco anos em 3,6%, ambas em níveis historicamente baixos. Preocupações em torno da estabilidade do yuan representam um obstáculo aos esforços de flexibilização monetária de Pequim frente as pressões comerciais salientadas pelo contexto da vitória do presidente eleito Donald Trump nos EUA. A inflação chinesa, medida pelo índice PCI, permanece em 0,3%. O índice de gerentes de compras (PMI) para a atividade industrial subiu para 50,3 em novembro, indicando uma expansão e sinalizando que as medidas de estabilização econômica do governo de Pequim estão começando a dar frutos. No entanto, o PMI dos setores de serviços e construção recuaram, refletindo desafios persistentes nesses segmentos. Enquanto isso, a tensão geopolítica com Taiwan aumenta, com autoridades alertando sobre a possibilidade de exercícios militares chineses próximos à ilha, como resposta à visita do presidente de Taiwan, Lai Ching-te, ao Pacífico, incluindo paradas no Havaí e em Guam.
As bolsas globais reagiram com otimismo diante dos recentes dados econômicos, com o DAX e o Nikkei subindo 2,9% e 2,2%, respectivamente. Nos EUA, os índices de ações registraram ganhos significativos, com o S&P 500 e o Nasdaq avançando 5,7% e 6,2%, impulsionados por uma recuperação nas expectativas de crescimento econômico. O VIX, indicador de volatilidade, caiu 41,7%, refletindo uma redução do temor entre os investidores, diante de um cenário macroeconômico mais estável.
Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Novembro/2024)
Índice / Ativo |
País / Mercado |
Variação (%) | ||
Mês |
Ano |
12 meses |
||
DJI |
EUA |
7,54 |
19,16 |
24,94 |
S&P 500 |
EUA |
5,73 |
26,47 |
32,06 |
Nasdaq |
EUA |
6,21 |
28,02 |
35,09 |
Dólar |
Forex |
3,22 |
23,10 |
21,39 |
Bitcoin |
Investing.com |
37,20 |
128,10 |
155,60 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Mercado de Capitais Nacional
No mercado de trabalho, o Brasil registrou uma queda significativa na taxa de desemprego, que recuou para 6,2% no trimestre encerrado em outubro, atingindo o menor nível desde o início da série histórica da PNAD Contínua, em 2012. O número de desocupados diminuiu para 6,8 milhões, o menor desde 2014, com uma redução de 8% em relação ao trimestre anterior e de 17,2% na comparação anual. A população ocupada alcançou 103,6 milhões de pessoas, com alta de 1,5% no trimestre e de 3,4% no ano, elevando o nível de ocupação para 58,7%.
Na condução da política monetária, o Banco Central brasileiro (BACEN) deu continuidade ao ciclo de alta de juros, aumentando em 0,5 ponto percentual a Selic em novembro. O Brasil ocupa o 3º lugar entre os países com maiores taxas reais, com taxa anualizada projetada de 8,08%. A recepção do mercado frente a apresentação do novo pacote fiscal do ministério da fazenda, chefiado pelo ministro Fernando Haddad, gerou preocupações com a capacidade do governo na condução da política fiscal, levando economistas a prever que o BACEN pode elevar a Selic nas próximas reuniões de forma mais intensa, elevando a taxa terminal para 14%. O descontentamento do mercado com novo pacote fiscal gerou pressões na condução da política monetária, ocasionando uma alta no valor do câmbio a patamares elevados, tornando o ambiente desafiador para os próximos meses.
Na seara da inflação, dados do IPCA-15, indicador prévio da inflação oficial, registraram uma alta de 0,62% em novembro, destacando-se o aumento nos preços de alimentos como óleo de soja (8,38%), tomate (8,15%) e carnes (7,54%). O grupo de Alimentação e Bebidas teve um avanço de 1,34%, impactando em 0,29 ponto percentual o índice. No acumulado de 2024, a variação foi de 4,35%, e nos últimos 12 meses, de 4,77%, superando a meta do Banco Central de 3%, embora ainda dentro da margem de tolerância, que vai de 1,50% a 4,50%. A aceleração da inflação junto as incertezas do novo pacote fiscal podem corroborar com o contínuo ciclo de aumento das taxas de juros do país.
A condução da política fiscal tem gerado apreensão no mercado, especialmente diante do crescente déficit e da elevação da dívida pública. A proposta do novo pacote fiscal, que inclui isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil, gerou incertezas sobre a inflação e possíveis aumentos nas taxas. O governo prevê uma economia de R$ 71,9 bilhões em 2025-2026, porém analistas esperavam cortes mais profundos nas despesas. O pacote fiscal, que era aguardado com expectativa, não conseguiu agradar os investidores, gerando fuga de capital e uma queda significativa do Ibovespa. O dólar também reagiu à insegurança, superando a marca de R$ 6,00. Analistas, que inicialmente previam a estabilização dos juros, passaram a revisar suas projeções para cima, ajustando as expectativas sobre a taxa de juros de equilíbrio. A principal preocupação é controlar a taxa de câmbio e lidar com a inflação ainda persistente, que exige um maior aperto monetário.
Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Novembro/2024)
Índice |
Variação (%) |
||
Mês | Ano | 12 meses | |
IBOV |
-3,12 |
-6,0 |
-1 |
IFIX |
-2,11 |
-5,26 |
-1,23 |
IEE |
-5,08 |
-13,57 |
-7,75 |
SMLL |
-4,48 |
-18,66 |
-12,93 |
ISE |
-5,6 |
-12,2 |
-6,9 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Novembro/2024)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
Embraer |
EMBR3 |
19,91% |
R$ 58,13 |
Marfrig |
MRFG3 |
19,63% |
R$ 18,77 |
Brava Energia |
BRAV3 |
17,96% |
R$ 20,03 |
CVC Brasil |
CVCB3 |
17,07% |
R$ 2,40 |
Gerdau S.A. |
GOAU4 |
12,92% |
R$ 11,46 |
Fonte: Infomoney.com
Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Novembro/2024)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
MRV |
MRVE3 |
-23,70% |
R$ 5,28 |
Hapvida |
HAPV3 |
-23,30% |
R$ 2,70 |
Lojas Renner |
LREN3 |
-18,90% |
R$ 15,06 |
Cyrela |
CYRE3 |
-15,36% |
R$ 18,40 |
CSN Mineração |
CMIN3 |
-14,98% |
R$ 18,40 |
Fonte: Infomoney.com
Ação estudada do mês: BRISANET (BRIT3)
a) Análise fundamentalista
Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas
Indicador |
Resultado |
Índice P/L |
11,74 |
Índice P/VP |
0,87 |
DY - Dividend Yield |
2,88% |
Fonte: Status Invest
Posição: 29.11.2024
O Índice Preço/Lucro (P/L) é calculado pela razão entre o preço de mercado da ação e o lucro líquido por ação nos últimos 12 meses. Esse indicador reflete o valor que os investidores estão dispostos a pagar por unidade de lucro da empresa. No caso de BRIT3, o P/L atual é de 11,74.
O Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP), obtido pela divisão do preço da ação pelo valor patrimonial por ação, mede a relação entre o preço de mercado e o patrimônio líquido contábil da empresa. Para BRIT3, o P/VP atual é de 0,87, indicando que o ativo está sendo negociado com um desconto em relação ao seu valor patrimonial.
O Dividend Yield (DY), por sua vez, mede a relação percentual entre os dividendos pagos pela empresa em determinado período e o preço da ação antes da distribuição. O DY atual é de 2,88%.
Os resultados da Brisanet podem ser justificados por uma estratégia que combina expansão geográfica, inovação tecnológica, liderança regional e compromisso com práticas sustentáveis. A empresa tem ampliado sua presença no mercado de telecomunicações, atingindo mais de 220 cidades, incluindo capitais, e expandindo sua cobertura para áreas interioranas por meio de franquias. A empresa está em uma posição de liderança no mercado de fibra óptica no Nordeste, pois em várias capitais, a empresa detém entre 50% e 65% de participação, evidenciando sua forte penetração regional.
b) Análise técnica
Gráfico 1 – Gráfico semanal BRIT3
Posição: 02.12.2024
No BMC de abril de 2024, mostrou-se que o papel formava uma Linha de Tendência de Alta (LTA) e formava um topo importante na faixa de R$ 4,50. Ao longo do segundo semestre o preço voltou a cair, chegando a testar o suporte anterior de R$ 2,80 (linha tracejada em azul claro).
O HCMCD está em mínimas e o IFR está sobrevendido que, segundo a teoria da Análise Técnica, indica possível correção do preço para voltar a testar a resistência de R$ 4,50 ou romper o suporte de R$ 2,80 e, eventualmente, ir buscar o suporte anterior na faixa de R$ 1,70.
c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis
A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.
Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.
Para o ativo BRIT3, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 8 períodos e uma média móvel longa de 11 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 53,52%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 43,13, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 19,60, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 1.106,00 no período entre 01/07/2019 e 29/11/2024, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado.
Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia BRIT3
Exemplo de aplicação:
Em 21 de novembro de 2014, a média móvel curta de 8 períodos (linha branca) cruzou para baixo da média móvel longa de 11 períodos (linha azul), gerando um sinal de venda (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição vendida deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.
Gráfico 3 – Gráfico diário BRIT3
Posição: 02.12.2024
Disclaimer
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- As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente.
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Equipe de elaboração
Professores
- Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
CNPI-P – n. 8409
- Prof. Allisson David de Oliveira Martins
Economista - Corecon-Ce n. 3221
CNPI – n. 9113
- Prof. Ricardo Aquino Coimbra
Economista - Corecon-Ce n. 2575
CNPI – n. 9579
Alunos
- Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
- Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
- José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
- José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
- Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas
- Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas