Dólar em queda e bolsa de valores em recuperação no Brasil marcam o mês de abril

ter, 6 maio 2025 15:43

Dólar em queda e bolsa de valores em recuperação no Brasil marcam o mês de abril

(Imagem: Getty Images)
(Imagem: Getty Images)

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.

Mercado de Capitais Internacional

Nos Estados Unidos, a economia registrou retração de 0,3% no primeiro trimestre de 2025, contrariando a expectativa de crescimento de 0,4% e marcando o primeiro recuo trimestral desde 2022. A queda foi impulsionada por um expressivo aumento de 41,3% nas importações e pela redução de 5,1% nos gastos do governo, coincidente com o início do segundo mandato de Donald Trump. Apesar disso, os investimentos, os gastos dos consumidores e as exportações evitaram uma retração mais acentuada. O índice de preços PCE, principal referência do Federal Reserve, manteve-se praticamente estável em março, com alta mensal inferior a 0,1%, acumulando 2,3% em 12 meses. O núcleo do PCE subiu 2,6% no mesmo período, ambos abaixo das expectativas do mercado.

No mercado de trabalho, a taxa de desemprego americana subiu para 4,2% em março, marcando o segundo aumento consecutivo — após 4,0% em janeiro e 4,1% em fevereiro —, embora ainda permaneça dentro do que se considera pleno emprego. Por outro lado, foram criadas 228 mil vagas em março e 177 mil em abril, superando as projeções dos analistas e evidenciando a resiliência do mercado de trabalho, mesmo diante das incertezas geradas pela guerra comercial iniciada pelo governo Trump.

No âmbito da política monetária, a taxa básica de juros tem sido mantida estável pelo Federal Reserve desde dezembro, no intervalo entre 4,25% e 4,50%. Contudo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, destacou que o mercado de títulos já precifica a necessidade de cortes, com os rendimentos dos papéis de dois anos recuando para 3,57% — abaixo da taxa efetiva dos Fed Funds. O descompasso entre os juros de mercado e a taxa básica reforça a percepção de que os investidores antecipam um afrouxamento monetário nos próximos meses, especialmente diante da desaceleração inflacionária.

Na Zona do Euro, o PIB cresceu 0,4% no primeiro trimestre de 2025, acelerando frente à alta de 0,2% no último trimestre de 2024. No entanto, as novas tarifas de 20% impostas por Donald Trump sobre produtos europeus impactaram negativamente as exportações — especialmente de aço, alumínio e automóveis —, levando à revisão para baixo das projeções de crescimento da região. Apesar disso, o mercado de trabalho permanece robusto, com a taxa de desemprego recuando para 6,1% em fevereiro, o menor nível da série histórica. A inflação anual ao consumidor desacelerou para 2,2% em março, com o núcleo inflacionário recuando para 2,4%, ambos abaixo das expectativas. Com o processo de desinflação em curso, o Banco Central Europeu reduziu novamente suas taxas básicas em abril — o terceiro corte consecutivo em 2025 —, levando a taxa de depósito para 2,25%, a de refinanciamento para 2,4% e a de empréstimos para 2,65%.

Na China, os dados de abril indicaram perda de fôlego da indústria, com o índice oficial dos gerentes de compras (PMI) recuando para 49,0 — o menor nível em 16 meses —, encerrando uma sequência de dois meses de recuperação. A queda foi atribuída à desaceleração da demanda externa e ao esgotamento da estratégia de antecipação de exportações frente às tarifas impostas pelos EUA. Embora o PMI não manufatureiro (serviços e construção) tenha permanecido acima de 50, indicando expansão, também apresentou recuo em relação ao mês anterior.

Nos mercados financeiros globais, abril foi marcado por leve recuperação nas bolsas europeias e asiáticas, enquanto os índices norte-americanos tiveram desempenho misto. O DAX, da Alemanha, avançou 1,5%, refletindo o otimismo com a retomada gradual da atividade econômica na região. No Japão, o Nikkei 225 subiu 1,2%, impulsionado pelos bons resultados do setor de tecnologia. Já nos Estados Unidos, o S&P 500 recuou 0,8%, ao passo que o Nasdaq registrou leve alta de 0,8%, sustentado pelas big techs. O índice de volatilidade VIX subiu 10,9% no mês, refletindo a maior sensibilidade dos investidores à condução da política monetária, à trajetória da inflação e às incertezas associadas à nova agenda comercial do governo Trump. As tarifas impostas a produtos estratégicos reacenderam os temores de uma desaceleração do comércio global, especialmente com impacto sobre economias exportadoras, como a chinesa.

Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Abril/2025)

Índice / Ativo

País / Mercado

Variação (%)

Mês

Ano

12 meses

DJI

EUA

-3,17

-4,41

7,55

S&P 500

EUA

-0,76

-5,31

10,59

Nasdaq 

EUA

0,85

-9,65

11,42

Dólar

Forex

-0,52

-8,14

9,27

Bitcoin

Investing.com

14,10

0,70

55,20

Fonte: Valor Data; Investing.com

Mercado de Capitais Nacional

No primeiro trimestre de 2025, a taxa de desocupação no Brasil atingiu 7%, segundo dados da PNAD Contínua do IBGE. Apesar de representar um aumento de 0,8 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, o índice ainda configura a menor taxa para o período desde 2012.

A população desocupada somou 7,7 milhões de pessoas, número 13,1% superior ao trimestre anterior, mas 10,5% inferior ao registrado no mesmo período de 2024. Ainda assim, o mercado de trabalho brasileiro permanece marcado por elevada informalidade, que atinge 38% da força de trabalho. A despeito do crescimento da renda média, a precariedade do emprego continua sendo um desafio estrutural relevante.

Na condução da política monetária, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, sinalizou que uma nova elevação da taxa Selic poderá ocorrer na próxima reunião, com o objetivo de manter os juros em patamar suficientemente restritivo para assegurar a convergência da inflação à meta de 3%. Galípolo destacou a necessidade de um ciclo prolongado de ajustes, apontando como obstáculos a baixa efetividade dos canais de transmissão da política monetária e a elevada incidência de crédito caro no país. Também chamou atenção para os efeitos das taxas subsidiadas a setores específicos, sugerindo a necessidade de reformas que aumentem a eficiência do sistema e permitam uma política de juros mais equilibrada no futuro.

Em relação à inflação, o IPCA registrou alta de 0,56% em março, refletindo principalmente os aumentos nos preços dos alimentos — com destaque para tomate, café e ovos. Embora tenha desacelerado frente à taxa de 1,31% observada em fevereiro, o índice acumula avanço de 5,48% nos últimos 12 meses, permanecendo acima do centro da meta. A persistência dos preços elevados, especialmente em itens essenciais, continua comprimindo o poder de compra das famílias e evidencia que, apesar de algum alívio recente, os desafios inflacionários ainda estão presentes.

Nos mercados, o mês de abril foi de recuperação para os ativos domésticos. O Ibovespa avançou 3,7%, impulsionado por uma maior estabilidade nos mercados internacionais e pela temporada de resultados corporativos, que contribuiu para o aumento do apetite ao risco. O dólar, por sua vez, recuou 2,4%, movimento interpretado como uma correção técnica após sucessivas altas nos meses anteriores, em um ambiente de menor aversão ao risco e menor volatilidade cambial. O desempenho reforça a percepção de um momento mais equilibrado nos mercados locais, embora o cenário interno ainda demande atenção, diante dos desafios fiscais, da inflação elevada e do ciclo de juros restritivo.

Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Abril/2025)

Índice

Variação (%)

Mês Ano 12 meses

IBOV

3,69

12,00

7,00

IFIX

3,01

9,51

0,91

IEE

12,69

24,07

12,67

SMLL

8,47

18,10

0,07

ISE

10,48

18,71

5,39

Fonte: Valor Data; Investing.com


Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Abril/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Pão de Açúcar

PCAR3

36,89%

R$ 4,23

Locaweb

LWSA3

35,21%

R$ 3,61

Azzas

AZZA3

29,96%

R$ 31,84

Yduqs

YDUQ3

28,86%

R$ 14,29

Localiza

RENT3

27,90%

R$ 42,96

Fonte: Infomoney.com


Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Abril/2025)

Ação

Ticker

Variação

Preço

Azul

AZUL4

-55,32%

R$ 1,47

Brava Energia

BRAV3

-24,85%

R$ 17,36

Petro Recôncavo

RECV3

-20,79%

R$ 12,84

Petrobras ON

PETR3

-19,71%

R$ 32,05

Petrobras PN

PETR4

-17,35%

R$ 29,99

Fonte: Infomoney.com

Ação estudada do mês: HAPVIDA (HAPV3)

a) Análise fundamentalista

Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas

Indicador

Resultado

Índice P/L

-26,94

Índice P/VP

0,36

EV/EBITIDA

9,76

Fonte: Status Invest
Posição: 30.04.2025

Uma análise fundamentalista tem como objetivo avaliar o valor intrínseco de uma empresa, considerando seus fundamentos financeiros, operacionais e estratégicos. Essa abordagem busca determinar se uma ação está sub ou supervalorizada, auxiliando os investidores na tomada de decisão.

Dentre os diversos indicadores utilizados na análise fundamentalista, três foram escolhidos para avaliação da empresa:

A análise fundamentalista da Hapvida (HAPV3) revela um cenário interessante para os investidores. Com um índice P/L de -26,94, observamos que a empresa registrou prejuízos nos últimos doze meses, situação que pode ser atribuída aos significativos investimentos em expansão e ao processo de integração pós-fusão. 

O índice P/VP de 0,36 indica que as ações estão sendo negociadas a apenas 36% do valor patrimonial da empresa. Este múltiplo significativamente baixo sugere uma subvalorização no mercado, apresentando uma interessante oportunidade para investidores com horizonte de longo prazo que acreditam na capacidade da empresa de reverter seu atual quadro.

O EV/EBITDA de 9,76 mostra-se alinhado com a média setorial, refletindo que o mercado continua reconhecendo a solidez do modelo de negócios verticalizado da Hapvida, mesmo diante dos desafios recentes. 

A Hapvida consolida-se como a maior operadora de saúde integrada da América Latina, combinando um modelo verticalizado, qualidade assistencial e preços acessíveis para enfrentar os desafios da inflação médica no Brasil. Com presença nacional e um portfólio diversificado que inclui planos de saúde e odontológicos, a companhia fortalece sua liderança no mercado, impulsionada por resultados sólidos, sinergias pós-fusão e iniciativas de sustentabilidade.

b) Análise técnica

Gráfico 1 – Gráfico semanal HAPV3


Posição: 30.04.2025

O ativo HAPV3 vinha em uma forte tendência de baixa desde o início de 2022, até encontrar um suporte na região de R$ 1,95 (linha tracejada amarela). Após essa expressiva queda, o ativo iniciou um movimento de lateralização, oscilando principalmente entre o suporte em R$ 1,95 e a resistência em R$ 5,00 (linha tracejada verde). A recente tentativa de recuperação dentro desse canal lateral encontrou novamente a resistência em R$ 5,00, levando o preço a recuar para testar o suporte inferior. Caso esse suporte se mantenha, o ativo pode iniciar um novo ciclo de alta dentro desse canal, com a resistência em R$ 5,00 como alvo inicial a ser superado para buscar patamares mais altos. Os indicadores IFR e o histograma MACD apresentam-se em níveis baixos, sugerindo uma condição de sobrevenda, o que poderia preceder um movimento de alta dentro do canal.

c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis 

A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.

Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e Pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando várias combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.

Para o ativo HAPV3, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 29 períodos e uma média móvel longa de 30 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 53,7%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 69,68 enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 32,02, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 2.473,00 no período entre 01/08/2020 e 30/04/2025. 

Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia HAPV3

Exemplo de aplicação:

Em 25 de abril de 2025, a média móvel curta de 29 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 30 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra (Gráfico 3) e reforçando a hipótese de reversão de tendencia. De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.

Gráfico 3 – Gráfico diário HAPV3


Posição: 02.05.2025

Disclaimer 

O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A Universidade de Fortaleza – Unifor não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado.

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  • Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros. 
  • As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente. 
  • A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.

Equipe de elaboração

Professores

  • Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
    Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
    CNPI-P – n. 8409
     
  • Prof. Allisson David de Oliveira Martins
    Economista - Corecon-Ce n. 3221
    CNPI – n. 9113
     
  • Prof. Ricardo Aquino Coimbra
    Economista - Corecon-Ce n. 2575
    CNPI – n. 9579

Alunos

  • Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
  • Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
  • José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
  • José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
  • Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas 
  • Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas