qua, 9 abril 2025 10:16
Trump, tarifas e elevada volatilidade nos mercados

O Boletim de Mercado de Capitais, elaborado pelo curso de Finanças da Universidade de Fortaleza, tem como propósito trazer informações da seara financeira e análises dos principais fatos do mundo dos investimentos, em escala global, nacional, e especialmente do mercado financeiro cearense.
Mercado de Capitais Internacional
O mercado de trabalho dos EUA, em março, demonstrou resiliência, com a criação de 228 mil vagas — acima das 140 mil esperadas — apesar da taxa de desemprego ter subido ligeiramente para 4,2%, mantendo o número de desempregados em 7,1 milhões. O Federal Reserve (Fed) manteve a taxa de juros no intervalo de 4,25% a 4,50%, diante de incertezas macroeconômicas intensificadas por novas tarifas comerciais impostas pelo governo, que podem pressionar a inflação e limitar o crescimento. O índice de preços de gastos com consumo (PCE) — principal métrica inflacionária monitorada pelo Fed — avançou 0,2% no mês e acumula alta anual de 2,5%, enquanto o núcleo do PCE registra 2,8% no ano.
A economia dos Estados Unidos aparenta enfrentar grandes desafios sob a gestão do segundo mandato do governo Trump, e segundo o Goldman Sachs, o risco de recessão aumentou para 35%, refletindo os impactos da guerra comercial e novas tarifas. O banco revisou suas projeções para o PIB, agora estimado em apenas 1% para o ano, e elevou a expectativa de inflação para 3,5% no índice PCE, mesmo com a projeção de três cortes na taxa de juros pelo FED em 2025. Dados oficiais confirmam que a inflação continua pressionada, com o núcleo do PCE subindo 0,4% no mês e acumulando 2,8% em 12 meses. A recente imposição de tarifas adicionais pelo governo Trump sobre automóveis e caminhões leves gerou preocupações sobre o impacto no crescimento e no consumo.
Na Zona do Euro, a taxa de desemprego caiu para 6,1% em fevereiro, um novo mínimo histórico. Em resposta à desaceleração da inflação, que caiu para 2,2% em março (com núcleo em 2,4%), o Banco Central Europeu (BCE) reduziu suas três principais taxas de juros em 25 pontos-base, posicionando a taxa de depósito em 2,5%. A expectativa é de novos cortes ainda em 2025, sustentando uma postura expansionista diante de um crescimento econômico modesto. O BCE reiterou seu compromisso com o processo de desinflação, no entanto, a incerteza comercial com os EUA e o aumento dos gastos militares na Europa mantêm o BCE cauteloso. A previsão de crescimento do PIB para 2025 foi revisada para 0,9%, refletindo a fraqueza nas exportações e investimentos.
Em março, a taxa de desemprego urbano na China subiu para 5,4%, influenciada por fatores sazonais relacionados ao feriado do Ano Novo Lunar. Apesar das pressões inflacionárias e tensões comerciais com os EUA, o Banco Popular da China (PBoC) manteve as taxas de juros inalteradas, com a taxa prime de 1 ano em 3,1% e a de 5 anos em 3,6%, sinalizando cautela na condução da política monetária. Na China, a atividade industrial mostrou sinais de recuperação, com o PMI do Caixin subindo para 51,2, ante 50,8 de fevereiro, impulsionado por uma demanda mais forte e exportações aquecidas. Apesar do atual pulso forte da economia, as tarifas dos EUA representam um risco para o crescimento futuro, aumentando a perspectiva de incerteza para os próximos meses.
Nos mercados financeiros, março foi um mês de turbulência, com quedas expressivas nos principais índices globais. O S&P 500 recuou 5,7%, enquanto o Nasdaq teve uma retração ainda mais acentuada, de 8,2%. O DAX, na Alemanha, caiu 1,7%, e o Nikkei 225, no Japão, perdeu 4,1%. O aumento da incerteza, sobretudo em função do tarifaço do Governo Trump elevou a volatilidade, refletida na alta de 13,5% do índice VIX, indicando maior cautela dos investidores diante do cenário econômico global.
Quadro 1 - Comportamento dos principais índices e ativos pelo mundo (Março/2025)
Índice / Ativo |
País / Mercado |
Variação (%) | ||
Mês |
Ano |
12 meses |
||
DJI |
EUA |
-4,20 |
-1,28 |
5,51 |
S&P 500 |
EUA |
-5,75 |
-4,59 |
6,80 |
Nasdaq |
EUA |
-8,21 |
-10,42 |
5,62 |
Dólar |
Forex |
-3,07 |
-7,65 |
13,74 |
Bitcoin |
Investing.com |
-2,17 |
-11,8 |
15,70 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Mercado de Capitais Nacional
A taxa de desocupação no Brasil atingiu 6,8%, no trimestre móvel encerrado em fevereiro de 2025, de acordo com dados do IBGE. O resultado representa um aumento de 0,7 ponto percentual em relação ao trimestre anterior. Esse movimento pode refletir tanto um aumento na busca por emprego quanto os primeiros sinais de desaceleração da atividade econômica no início do ano.
Na condução da política monetária brasileira, o Banco Central elevou a taxa Selic para 14,25% na reunião de março, o maior nível desde 2015, durante o governo Dilma Rousseff. Essa foi a terceira alta consecutiva de 1 ponto percentual, reforçando a postura contracionista do Banco Central diante de uma inflação persistentemente elevada em um contexto de atividade aquecida. O aumento encarece o crédito e pode desacelerar o consumo, mas o Banco Central sinalizou que futuros ajustes deverão ser mais moderados.
Na seara da inflação, o IPCA acelerou em fevereiro, registrando alta de 1,31%, o maior avanço para o mês desde 2003, acumulando avanço de 1,47% no ano e de 5,06% em 12 meses, acima da meta de 4,5%. O aumento foi impulsionado pelo fim dos descontos na conta de luz (+16,8%) e pela alta do ICMS sobre combustíveis, enquanto os alimentos mostraram desaceleração. A prévia da inflação de março (IPCA-15) apontou alta de 0,64%, com aceleração de preços em transportes e energia, mas com desaceleração nos alimentos. O cenário reforça expectativas de que a Selic possa subir para 15% até o final do ano.
Quanto a atividade econômica, o PIB do Brasil cresceu 3,4% em 2024, com variação positiva de 0,2% no quarto trimestre, totalizando R$ 11,7 trilhões no acumulado do ano. O crescimento foi impulsionado pelos setores de serviços (+3,7%) e indústria (+3,3%), além do consumo das famílias (+4,8%), refletindo uma economia ainda robusta, apesar do cenário de juros elevados. No entanto, o ritmo perdeu força no último trimestre, com avanço de apenas 0,2%. Entre os estados, o Ceará se destacou com crescimento de 6,49%, o maior desde 2010, puxado pela agropecuária (+25,16%) e investimentos públicos. Por outro lado, especialistas alertam que desafios fiscais podem comprometer a sustentabilidade desse crescimento pelos próximos anos.
Nos mercados, o Ibovespa avançou 6,1% em março, reduzindo parte das perdas do início do ano, enquanto o dólar caiu 1,4%, refletindo um fluxo positivo de capital. No acumulado de 12 meses, a bolsa sobe 1,7% e o dólar acumula valorização de 14,8%.
Quadro 2 - Comportamento dos índices no Brasil (Março/2025)
Índice |
Variação (%) |
||
Mês | Ano | 12 meses | |
IBOV |
6,08 |
8,00 |
2,00 |
IFIX |
6,14 |
6,32 |
-2,79 |
IEE |
1,94 |
10,10 |
-3,81 |
SMLL |
6,73 |
8,87 |
-14,90 |
ISE |
4,69 |
7,45 |
-10,35 |
Fonte: Valor Data; Investing.com
Quadro 3 – Melhor desempenho no Ibovespa (Março/2025)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
Minerva |
BEEF3 |
42,99% |
R$ 6,32 |
Magazine Luiza |
MGLU3 |
41,96% |
R$ 10,15 |
Cogna Educação |
COGN3 |
37,50% |
R$ 2,09 |
JBS |
JBSS3 |
32,66% |
R$ 41,11 |
Marfrig |
MRFG3 |
32,50% |
R$ 18,06 |
Fonte: Infomoney.com
Quadro 4 – Pior desempenho no Ibovespa (Março/2025)
Ação |
Ticker |
Variação |
Preço |
Natura & Co |
NTCO3 |
-22,74% |
R$ 9,99 |
Marcopolo |
POMO4 |
-16,73% |
R$ 6,12 |
Azul |
AZUL4 |
-14,99% |
R$ 3,29 |
Cemig |
CMIG4 |
-6,41% |
R$ 10,26 |
Suzano |
SUZB3 |
-5,98% |
R$ 52,94 |
Fonte: Infomoney.com
Ação estudada do mês: Enel Distribuição Ceará (COCE5)
a) Análise fundamentalista
Quadro 5 – Indicadores fundamentalistas
Indicador |
Resultado |
Índice P/L |
6,73 |
Índice P/VP |
0,39 |
DY - Dividend Yield |
3,92% |
Fonte: Status Invest
Posição: 31.03.2025
Uma análise fundamentalista tem como objetivo avaliar o valor intrínseco de uma empresa, considerando seus fundamentos financeiros, operacionais e estratégicos. Essa abordagem busca determinar se uma ação está sub ou supervalorizada, auxiliando os investidores na tomada de decisão.
Dentre os diversos indicadores utilizados na análise fundamentalista, três foram escolhidos para avaliação da empresa.
O Índice Preço/Lucro (P/L) é calculado pela razão entre o preço de mercado da ação e o lucro líquido por ação nos últimos 12 meses. Esse indicador reflete o valor que os investidores estão dispostos a pagar por unidade de lucro da empresa. No caso de COCE5, o P/L atual é de 6,73.
O Índice Preço/Valor Patrimonial (P/VP), obtido pela divisão do preço da ação pelo valor patrimonial por ação, mede a relação entre o preço de mercado e o patrimônio líquido contábil da empresa. Para COCE5, o P/VP atual é de 0,39, indicando que o ativo está sendo negociado com um grande desconto em relação ao seu valor patrimonial.
O Dividend Yield (DY), por sua vez, mede a relação percentual entre os dividendos pagos pela empresa em determinado período e o preço da ação antes da distribuição. O DY atual é de 3,92%.
A Companhia Energética do Ceará (Coelce), controlada pela Enel Brasil, é uma empresa de distribuição de energia elétrica que atende a aproximadamente 4 milhões de unidades consumidoras em mais de 180 municípios do estado do Ceará. A estratégia da Coelce foca em três pilares principais: energias renováveis, modernização das redes de distribuição e o desenvolvimento de serviços e produtos de valor agregado para os clientes. A empresa está comprometida com a sustentabilidade e alinha suas ações com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente no que diz respeito à energia limpa e acessível, inovação em infraestrutura e ação contra a mudança climática. Além disso, a Coelce investe continuamente na modernização de suas infraestruturas e na oferta de soluções integradas que promovam a eficiência energética e a sustentabilidade.
b) Análise técnica
Gráfico 1 – Gráfico semanal COCE5
Posição: 31.03.2025
O ativo COCE5 apresentou um longo período de consolidação dentro da faixa entre R$ 38,15 e R$ 56,33. No segundo semestre de 2024, iniciou um movimento de baixa, configurando um canal descendente (destacado em amarelo), até testar um suporte relevante na região de R$ 23,39 (linha vermelha). Caso mantenha esse suporte, o ativo tende a buscar a resistência imediata em R$ 29,33.
No entanto, um rompimento desse nível de suporte pode levar a cotações próximas de R$ 21,40. Os indicadores HMACD e IFR atingiram a região de sobrevenda ao testar o suporte de R$ 23,39, sugerindo um possível esgotamento da pressão vendedora e um potencial movimento de alta a partir desse nível.
c) Otimização de Retornos Através do Cruzamento de Médias Móveis
A estratégia de cruzamento de médias móveis é uma técnica consagrada no acompanhamento de tendências de mercado, baseada na interação entre duas médias móveis de períodos distintos: uma média curta, que capta movimentos de curto prazo, e uma média longa, que reflete tendências de médio a longo prazo. Sinais de operação, como entradas e saídas, são gerados a partir do momento em que a média móvel curta cruza a média móvel longa, indicando possíveis pontos de inflexão no comportamento do preço.
Os alunos de graduação dos cursos de Ciências Econômicas, Finanças e pós-graduação em Ciência de Dados da Universidade de Fortaleza (Unifor), aplicaram um algoritmo de Busca Exaustiva para otimizar essa estratégia, testando todas as combinações possíveis de médias móveis. A eficácia das combinações foi validada por meio de backtesting em Python, com comparações paralelas na plataforma Profitchart Pro. Cada ativo financeiro foi submetido a uma customização específica de médias móveis, com a otimização focada em maximizar a relação entre retorno, risco e a probabilidade de sucesso das operações.
Para o ativo COCE5, a análise identificou que a combinação mais eficiente foi uma média móvel curta de 11 períodos e uma média móvel longa de 12 períodos, aplicadas em dados diários. Essa configuração apresentou uma taxa de acerto de 48,86%, com as operações lucrativas gerando um ganho médio de R$ 107,12, enquanto as operações negativas resultaram em uma perda média de R$ 85,26, considerando negociações com lotes padrão de 100 ações. Ao aplicar essa estratégia otimizada, o investidor teria alcançado um lucro bruto acumulado de R$ 2.254,00 no período entre 16/06/2019 e 31/02/2025, com um tempo médio por operação de 5,44 dias, destacando-se como uma abordagem consistente dentro do horizonte temporal analisado.
Gráfico 2 – Retorno observado da estratégia COCE5
Exemplo de aplicação:
Em 17 de fevereiro de 2025, a média móvel curta de 11 períodos (linha branca) cruzou para cima da média móvel longa de 12 períodos (linha azul), gerando um sinal de compra, identificado pelo último símbolo laranja no (Gráfico 3). De acordo com a estratégia de cruzamento de médias móveis, essa posição comprada deveria ser mantida até que as médias se cruzassem novamente em sentido contrário, indicando o momento de encerrar a operação.
Gráfico 3 – Gráfico diário COCE5
Posição: 05.03.2025
Disclaimer
O conteúdo apresentado neste material é de caráter estritamente educacional e visa fornecer informações que auxiliem a compreensão dos temas discutidos. A (Universidade de Fortaleza – Unifor), não garante que os dados fornecidos sejam totalmente isentos de distorções e não se compromete com a veracidade ou integridade dessas informações. Não garantimos qualquer tipo de lucro, nem nos responsabilizamos por decisões de investimentos que venham a ser tomadas com base no conteúdo divulgado.
- Este material não deve ser interpretado como recomendação, oferta ou solicitação de compra ou venda de quaisquer títulos, valores mobiliários ou outros instrumentos financeiros.
- Investimentos nos mercados financeiros e de capitais envolvem riscos, incluindo a possibilidade de perdas superiores ao capital investido.
- Rentabilidade passada não é garantia de resultados futuros.
- As informações contidas aqui baseiam-se em simulações, e os resultados reais poderão divergir significativamente.
- A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos.
Equipe de elaboração
Professores
- Prof. Luiz Fernando Gonçalves Viana
Economista - Corecon-CE n. 2.718-9
CNPI-P – n. 8409
- Prof. Allisson David de Oliveira Martins
Economista - Corecon-Ce n. 3221
CNPI – n. 9113
- Prof. Ricardo Aquino Coimbra
Economista - Corecon-Ce n. 2575
CNPI – n. 9579
Alunos
- Artur Sampaio Pereira - Ciências Econômicas
- Filipe Barbosa Teixeira - Finanças
- José Freitas Alves Neto - MBA em Ciência de Dados
- José Wilker de Sousa Martins - Ciências Econômicas
- Matheus Santiago de Oliveira Tavares - Ciências Econômicas
- Vicente Aníbal da Silva Neto - Ciências Econômicas