Mercado de games cresce ampliando possibilidades profissionais no setor

Impulsionado pela economia criativa, setor de jogos eletrônicos gera impacto na economia do país

Em um mundo cada vez mais impulsionado pela tecnologia, a economia criativa emerge como um dos pilares fundamentais do crescimento econômico. Segundo dados do Observatório Itaú Cultural, no Brasil de 2020, ela movimentou R$ 230,14 bilhões, equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB), superando, por exemplo, a marca de 2,1% da indústria automobilística.

Entre as vertentes desse setor em franco desenvolvimento, os jogos eletrônicos se destacam e se consolidam como importante ferramenta para geração de emprego e renda, tendo o design como uma das peças fundamentais nesse processo de crescimento.

Economia criativa

Para o designer Alberto Gadanha, ponto focal de Fortaleza na Rede de Cidades Criativas da Unesco, a industrialização por si só não é mais um caminho viável para o desenvolvimento. A economia criativa se mostra, então, como uma alternativa possível para isso.

“Uma peça de roupa, uma cadeira, ou a marca de uma empresa são elementos que, por meio do design adequado, podem chegar a altos índices de valorização e de relevância cultural”, destaca.



A economia criativa, que engloba a indústria de jogos, é uma alternativa viável para o desenvolvimento econômico (Ilustração: Getty Images)


Herbert da Rocha, designer de produtos e docente do curso de Design da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, observa que a economia criativa se baseia na ideia de criar novas formas de desenvolver um negócio, o comércio e a região como um todo, o que, para ele, traz a possibilidade de criar também novos mercados.

O mercado de jogos eletrônicos

A indústria dos games, antes vista apenas como entretenimento, hoje se estabelece como um mercado de trabalho robusto e promissor. O conjunto de habilidades criativas, tecnológicas e artísticas necessárias para a criação de jogos tornou-se um caldeirão de oportunidades profissionais.

Roteiristas, músicos, dubladores, engenheiros de software, programadores, profissionais de marketing, gerentes de projetos, entre outros especialistas fazem parte do processo que leva à construção de uma narrativa envolvente, gráficos de alta qualidade, trilha sonora cativante e demais componentes vitais para o sucesso dos jogos.



A indústria de games se estabelece como um mercado de trabalho robusto e promissor (Foto: Getty Images)


Marcelo Alves de Barros, docente da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), afirma que o mercado de games movimenta R$ 12 bilhões ao ano só no Brasil. Segundo ele, o processo criativo combina concepção, prototipagem, teste de narrativas, personagens, cenas, cenários, regras, sistemas de recompensas, identidade visual, projeto gráfico, entre outras dezenas de elementos.

A importância do designer

Herbert da Rocha observa que, no passado, não havia distinção entre designer, arquiteto e engenheiro. “Era possível juntar em uma pessoa só o conhecimento necessário para aquela época”, analisa.

O docente explica que a figura do designer trabalhando em jogos eletrônicos praticamente não existia. Havia, na verdade, o conceito do programador que centralizava os processos de idealizar e executar. Além disso, as possibilidades tecnológicas funcionavam como fatores limitantes.

Há cerca de 20 anos, houve uma melhora considerável na qualidade dos gráficos dos jogos eletrônicos. “Passou-se a observar que havia a necessidade de se colocar um pouco mais de conhecimento no projeto gráfico porque o público estaria cada vez mais exigente, querendo mais realismo, mais qualidade”, relata o docente.

Em relação ao passado, hoje o designer tem uma importância maior. Tanto que o trabalho desse profissional pode ser decisivo para o sucesso do game. Segundo Herbert, se a interface do jogo (menus, configurações etc) não for pensada por um designer, ela corre o risco de se tornar confusa e cansativa. 



“Muita gente acha que o trabalho do designer é algo puramente visual, mas não. O designer pode trabalhar também na parte conceitual e estrutural de um programa, de um produto, de um jogo. Ele pode participar do projeto, inclusive em relação ao gameplay do jogo, ao roteiro e a vários outros aspectos porque o designer consegue se encaixar bem nesse papel também” Herbert da Rocha, docente do curso de Design da Unifor
 


“O designer é o profissional que estaria mais habilitado para fazer esse tipo de trabalho, comunicando-se com a equipe técnica para desenvolver algo, explorando ao máximo os recursos gráficos necessários para que o jogo funcione de forma adequada”, pontua Rocha.

Para Alberto Gadanha, o design nos jogos contribuiu de maneira chave para o mercado de games local no sentido de criar uma identidade própria nos projetos nacionais.

“Se por algum tempo os games brasileiros tinham como referência estilos europeus ou asiáticos, hoje eles se diferenciam pela relação com a cultura e tradicionalidade regionais. Isso não só apela ao público local de maneira direta, mas também encanta e gera curiosidade no mercado global”, aponta ele.




“O design proporciona maneiras de criar uma experiência para o usuário, além das questões técnicas de funcionalidade. É no processo de design que se cria a atmosfera que o produto vai transmitir” Alberto Gadanha, designer e ponto focal de Fortaleza na Rede de Cidades Criativas da UNESCO (Foto: Igor Cavalcante)

 


Games de impacto

Com o advento de novas tecnologias e, sobretudo, com o acesso a tecnologias de curtas curvas de aprendizado para a criação de games, a concorrência tornou-se muito grande. É o que afirma o professor Marcelo Alves de Barros. 

“Todo mundo acha que pode fazer um jogo. E pode. Mas sem design, sem propósito cultural, social, artístico, ambiental. No máximo, apenas com propósito comercial”, enfatiza. 

Para se tornar um designer de games de impacto, ou seja, de jogos que transformam vidas com prazer e criatividade, o docente diz que é preciso desenvolver habilidades não técnicas essencialmente baseadas nos princípios de design. 

Sem isso, para Marcelo, o jogo torna-se medíocre, sem impacto na autopercepção do jogador sobre si mesmo como ator da narrativa e sem percepção dos universos ficcionais e reais onde ele vive como personagem.



Para se tornar um designer de jogos de impacto, é preciso desenvolver habilidades não técnicas baseadas nos princípios de design (Ilustração: Getty Images)


“A maioria dos criadores de games fazem obras medíocres, incapazes de provocar impacto positivo no usuário e no meio onde vivem. Jogos feitos sem a essência do design são commodities, descartáveis rapidamente por outros jogos descartáveis”, afirma o professor.

Oficina de Advergames na Unifor

A Unifor, em parceria com o evento “Bora! Design”, realizou uma oficina de games com Marcelo Alves de Barros. O evento, que tinha como tema “Games e Design”, aconteceu no dia 10 de outubro. Os alunos tiveram acesso a um método rápido de criação de games temáticos e a uma plataforma de divulgação deste produto, ampliando assim o impacto da produção realizada na oficina.