sex, 19 junho 2020 18:54
Aluno da Pós-Unifor se torna o primeiro doutor surdo em Administração do Ceará
Defesa da tese aconteceu de forma online e reuniu cinco professores na banca avaliadora.
Na última sexta-feira, 12 de junho, o estudante Fábio Luiz Benício Maia Nogueira apresentou a tese de doutorado “Gestão inclusiva de pessoas surdas e a sustentabilidade institucional” em libras (Língua Brasileira de Sinais) no Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGA) e se tornou o primeiro doutor surdo qualificado pela Universidade de Fortaleza e o primeiro doutor em administração surdo do Ceará.
Com orientação da Dra. Mônica M. Tassigny, professora titular do Programa de Pós-graduação em Direito (PPGD/Unifor) e colaboradora do PPGA, a defesa da tese aconteceu de forma online pela plataforma Google Meet e contou com a mediação de dois intérpretes de libras e cinco professores na banca avaliadora.
Também pela Universidade de Fortaleza, Fábio se tornou o primeiro mestre em administração surdo do Ceará, em 2012. Sua dissertação de mestrado pesquisou as universidades acessíveis e inclusivas no Ceará e, como resultado, evidenciou a Unifor como uma instituição completa nesta particularidade.
Segundo dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta com mais de 10 milhões de pessoas com diversos tipos graus de surdez e deficiência auditiva. No Ceará, existem aproximadamente 530.000 pessoas com deficiência auditiva ou surdez. Segundo o Instituto Nacional de Surdos (INES), existem cerca de 36 doutores surdos e 92 mestres surdos.
Para Mônica Tassigny, professora orientadora da tese, a orientação consiste em um desafio complexo, mas também construtivo enquanto professora e pesquisadora. Confira abaixo entrevista com a docente.
Como funcionou a apresentação?
A apresentação online pelo google meets contou com 2 intérpretes em libras. A Banca foi composta por mim que presidi e os membros professores Dr. Randal Pompeu (Unifor), Dr. Roberto Ciarlini (Unifor) e os participantes externos Dra. Luciana Freire (UECE) e o Dr. Armando Nembri (Fiocruz). Este último também surdo, constituindo uma defesa inédita em todos os sentidos: um doutorando e um professor Doutor surdos, por uma plataforma online e em um período de pandemia.
Foi a primeira apresentação em libras de uma tese de doutorado na Unifor?
Sim. Principalmente meio online e ainda contexto de pandemia. O Fábio foi pioneiro no Brasil e no Ceará. Foi o primeiro Mestre em Administração (PPGA/UNIFOR) que eu também orientei do Brasil no ano de 2012 e agora, em um grave contexto de pandemia em 2020, consegue o feito histórico de ser o primeiro Doutor em Administração do Brasil e do Ceará, além de ter sido aprovado com louvor, outro fato inédito.
Como funciona a acessibilidade no programa da Pós-Unifor?
Os Programas Stricto Sensu da Unifor acolhem todos os candidatos, sem distinção, e conta com serviços de apoio como o Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP). No caso do Fábio, que é surdo, quando iniciou seu percurso na Unifor o edital foi se aperfeiçoando para estar cada vez mais inclusivo. Ofertou-se a possibilidade de acompanhamento com intérpretes em Libras e assim garantimos todas as condições para a excelência, inclusão e acessibilidade.
Como foi participar da orientação deste trabalho?
O Brasil conta com quase 10 milhões de pessoas com diversos tipos de surdez a deficiência auditiva. No Ceará tem aproximadamente 530.000 entre pessoas com deficiência auditiva ou surdas. Incluir essa população, constitui grande desafio. Escrever e orientar uma tese não constituem tarefas das mais fáceis. Eu e o Fábio tivemos que superar muitas dificuldades, desde a barreira da língua até a escrita do trabalho e as várias fases de desenvolvimento da pesquisa. Contudo, finalizo a etapa com a sensação maravilhosa de missão bem cumprida, de ter de fato colaborado com o processo de formação, inclusão e de ter me colocado a serviço de toda uma comunidade surda.
Acessibilidade na Unifor
A Unifor oferece e promove inclusão social desde o vestibular até a colação de grau. Com projetos e ações afirmativas, a instituição mantém a tradição em ser uma das maiores universidades inclusivas e acessíveis do mundo.
No Campus, os alunos que demandam atenção especial são acompanhados de perto com base em cada necessidade, como é o caso dos estudantes surdos, que contam com o apoio dos intérpretes de libras do Programa de Apoio Psicopedagógico (PAP) seja na graduação ou pós-graduação.
Atenta à acessibilidade física no Campus, a Universidade procura diminuir as barreiras arquitetônicas, com a oferta de alguns equipamentos físicos e visuais em partes de maior movimentação do campus, além de projetos comunicacionais, metodológicos, digitais e, principalmente, atitudinais.
A Universidade de Fortaleza também é referência em inclusão social de professores. Segundo dados do MEC, a instituição está entre as 21 universidades brasileiras que apresentam maior taxa de profissionais ativos que possuem alguma deficiência.