Música, ioga e poesia: Programa de Pós-graduação em Psicologia inova em metodologias na sala de aula

ter, 23 maio 2023 10:56

Música, ioga e poesia: Programa de Pós-graduação em Psicologia inova em metodologias na sala de aula

Na disciplina “Ócio, trabalho e temporalidades sociais”, ministrada pelo Prof. Dr. Clerton Martins, pesquisadores do PPGP da Unifor dialogam reflexões do campo de estudo à arte


Encontro na disciplina de
Encontro na disciplina de "Ócio, trabalho e temporalidades sociais" teve o objetivo de promover experiências de reconexão com a arte e a vida (Foto: Divulgação)

A sociedade segue um fluxo cada vez mais acelerado. Em um contexto automatizado, exausto, ansioso e depressivo — como cita o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han em sua obra “Sociedade do Cansaço” (2010) —, fazer nada pode até parecer fora de cogitação. Por vezes, o inconsciente coletivo opera a lógica “tudo, ao mesmo tempo e agora”, sem espaço na rotina para planejar momentos de pausa ou realizar experiências prazerosas.

No Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz, por meio da disciplina de “Ócio, trabalho e temporalidades sociais”, os pesquisadores apresentam estratégias para obter processos de inovação e renovação de si. As aulas são ministradas pelo prof. dr. Clerton Martins, coordenador do Otium - Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre da Unifor e referência nos estudos sobre ócio e lazer no Brasil.

Durante a disciplina, os pesquisadores do PPGP dialogam reflexões e provocações do campo de estudo à vivência da arte. A partir de leituras das pesquisas sobre o ócio, mestrandos e doutorandos em Psicologia são convocados à exposição de referências artísticas e culturais, como poesia, filmes, música e mais possibilidades.

A turma do semestre 2023.1, inclusive, viveu uma experiência singular na última quarta-feira (10). Na sala de aula, a partir dos estudos sobre ócio, lazer, tempo livre e experiência, o professor Clerton Martins propôs um encontro que pudesse permitir reconexões. Como técnicas metodológicas, foram utilizadas ioga e música.

O psicólogo, administrador e instrutor de ioga Gustavo Oliveira, mestrando em Psicologia pela Unifor, ofereceu uma aula de ioga aos colegas. A prática milenar proporciona autoestudo por meio de técnicas respiratórias, posturas físicas, meditação, além de uma conduta ética e moral. De pés descalços para sentir as energias do solo, os pesquisadores puderam respirar e inspirar tranquilamente, alongar o corpo e abstrair a mente.


A prática milenar do ioga promove autoestudo por meio de técnicas de respiração e posturas (Foto: Divulgação)

Já o momento de música foi liderado pela professora, pianista e musicoterapeuta Paula Franco e pelo terapeuta ocupacional e musicoterapeuta Tiago Madeira — também mestrandos em Psicologia da instituição. A sala de aula foi colorida por diversos instrumentos musicais nas mãos dos pesquisadores. Percussão e corda se misturavam ao teclado, enquanto um coral se formava em meio ao ambiente acadêmico.

Composto pelos pesquisadores, o coral foi orientado por Paula e Tiago, a partir da preparação das vozes e percepção sobre ritmo, tonalidades e cadências. A turma foi convidada a cantar a música “Canto de um Povo de Um Lugar”, composta por Caetano Veloso, entoando os versos: “Todo dia o Sol levanta/ E a gente canta/ Ao sol de todo dia”. A disciplina ainda ganhou um canto próprio. O coro reivindicava: “Ócio, lazer e tempo livre”.

Após a experiência, os acadêmicos comentaram sobre os sentimentos provocados pela atividade. Para Silvia Helena de Amorim Martins, psicóloga e mestranda, foi “um exercício de reconhecimento e reconexão”. Já o professor Márcio Rodrigues, doutorando do PPGP, relatou o aprendizado de “se permitir” viver momentos de pausa e imergir na meditação e na arte.


Musicoterapeutas Paula Franco e Tiago Madeira, pesquisadores do PPGP da Unifor, orientaram atividade de música em experiência da disciplina de Ócio (Foto: Divulgação)

Num contexto social operado pela lógica insistente do consumo-produção-trabalho, essa experiência envolve a desconexão do ritmo acelerado provocado pelas tecnologias, com aceno à reconexão com a vida, o mundo à sua volta e consigo. 

“Estou emocionado! Cada um viveu a experiência da capacidade de experimentar. E tudo foi vindo de muito texto. Gratidão”, disse Clerton Martins, doutor em Psicologia e mestre em Artes da Cena.

Na disciplina, os pesquisadores discutem a literatura do campo de estudo sobre ócio e temas correlacionados. Alguns dos textos utilizados são “Ócio, lazer e tempo livre na sociedade do consumo e do trabalho”, de Cássio Aquino e Clerton Martins; “Notas sobre a experiência e o saber da experiência”, de Jorge Larrosa; e “A sociedade do Cansaço”, de Byung-Chul-Han.

Ócio, lazer e tempo livre

Considerando o cenário de intensas e aceleradas metamorfoses sociais, pensar possibilidades de ócio, lazer e tempo livre e também criar estratégias para a incorporação prática desses temas podem ser vistos como atos transformadores. Segundo o coordenador do Otium, esse é um assunto necessário para quem estuda psicopatologias e qualidade de vida.

Não à toa, os brasileiros procuram cada vez mais formas de “desacelerar”, em contraposição a essa dinâmica contemporânea para reencontrar os caminhos do bem viver. Isso se intensificou diante da pandemia da Covid-19. Segundo pesquisa da Fiocruz em parceria com a Faculdade de Medicina de Petrópolis, mais da metade da população adotou técnicas e ferramentas de autocuidado em 2020.

No Otium - Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre ligado à linha de pesquisa Processos de Trabalho e Saúde do PPGP da Unifor, o professor Clerton Martins orienta pesquisas multidisciplinares. Os estudos entrelaçam Psicologia, Sociologia, Comunicação, Arte e Cultura Popular no mundo contemporâneo à luz do ócio, do lazer e do tempo livre.


Encontro de pesquisadores doutorandos do Laboratório Otium da Universidade de Fortaleza (Foto: Divulgação)

Parceiro da Associação Ibero-Americana de Estudos de Ócio, o Laboratório atua desde 2005. Pesquisadores, estudantes, professores e entusiastas nos temas são bem-vindos para colaborar com os estudos. O Laboratório conta com um perfil na mídia social Instagram, onde os interessados podem acompanhar as atualizações sobre as pesquisas e os encontros do grupo.

Serviço

Otium - Laboratório de Estudos sobre Ócio, Trabalho e Tempo Livre
Coordenação: Prof. dr. Clerton Martins
Acompanhe: @laboratoriootium
Mais informações: otium.laboratorio@gmail.com