Brain Rot: como proteger sua mente do excesso de estímulos superficiais na era digital?
O que parece exagero linguístico reflete uma preocupação real sobre o impacto do consumo de conteúdo digital raso e constante na saúde mental, especialmente entre crianças e jovens
O termo brain rot , eleito Palavra do Ano de 2025 pelo Dicionário Oxford , descreve um fenômeno contemporâneo alarmante: a suposta deterioração do estado mental ou intelectual causada pelo consumo excessivo de conteúdo trivial, especialmente nas redes sociais. Em português, a tradução mais próxima seria “cérebro podre” ou “podridão cerebral”, mas o significado vai muito além de uma metáfora provocativa.
Quem acende o alerta sobre esse fenômeno são diversos especialistas, como a psicóloga Andrea Amaro Quesada, docente do curso de Psicologia da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz . Com base em estudos recentes e na observação clínica, ela aponta que o brain rot está diretamente ligado ao uso desenfreado de mídias digitais e à exposição constante a conteúdos superficiais.
“Estamos diante de uma nova forma de desgaste cognitivo, silenciosa, mas profunda, que afeta principalmente crianças e adolescentes”, afirma a PhD em Neurociências pela Ruhr-Universität Bochum .
Segundo o Dicionário Oxford, brain rot se refere à “deterioração do estado mental ou intelectual de uma pessoa, frequentemente causada pela exposição constante a materiais considerados pouco desafiadores, principalmente conteúdos online”. O conceito tem ganhado força à medida que cresce a preocupação com os impactos das redes sociais na saúde mental e nas funções cognitivas da população, especialmente entre os mais jovens.
Brain rot: conexão entre dopamina, vício e nomofobia
A psicóloga Andrea Quesada destaca que o uso intenso de mídias sociais ativa circuitos de prazer no cérebro por meio da liberação de dopamina, neurotransmissor associado à sensação de recompensa. “A expectativa por um ‘like’, por exemplo, é um gerador de prazer. O que se tem visto hoje é um vício do celular e das mídias sociais”, afirma a professora.
Ela alerta que esse comportamento pode provocar sintomas de irritabilidade, ansiedade e até um quadro conhecido como nomofobia, o medo irracional de ficar sem o celular. Crianças e adolescentes, ainda em formação cognitiva e emocional, são os mais vulneráveis a essas situações. Os impactos são múltiplos:
- redução da qualidade do sono,
- déficit na memória de trabalho,
- dificuldades de atenção,
- prejuízo na consolidação de novas informações,
- aumento nos riscos de ansiedade e depressão.
Há ainda evidências científicas de que o uso abusivo de telas pode reduzir a densidade da substância cinzenta no cérebro, afetando diretamente funções cognitivas e emocionais. “Afeta memória de trabalho, linguagem, raciocínio, dentre outras funções psicológicas, além de aumentar as chances de isolamento”, explica Andrea.
Italian Brainrot: o meme que simboliza a era da saturação digital
Em meio à popularização do termo, surgiu nas redes sociais um subgênero de memes conhecido como Italian Brainrot . Em 2025, esse tipo de conteúdo explodiu em popularidade, especialmente entre adolescentes e jovens adultos.
Exemplos de memes do fenômeno Italian Brainrot, usualmente
gerados por IAs (Imagens: Reprodução/TikTok)
Os vídeos e imagens, muitas vezes criados com inteligência artificial, são surrealistas, absurdos e propositalmente caóticos: um tubarão com pernas usando sapatos, um crocodilo que tem corpo de avião, e outras combinações sem sentido que se espalham com rapidez viral.
Apesar do tom cômico, especialistas alertam para os efeitos negativos desse tipo de consumo. Os chamados “vídeos de baixa qualidade”, rápidos, confusos e sem estrutura narrativa, sobrecarregam os sentidos e interferem na cognição, tornando o cérebro menos tolerante a estímulos normais e mais dependente de estímulos extremos.
“O brain rot trata-se de um fenômeno com
consequências biopsicossociais significativas, pois compromete
funções como memória de trabalho, linguagem, raciocínio e atenção.
No campo social, pode intensificar o isolamento e dificultar a
construção de vínculos saudáveis entre jovens” —
Andrea Quesada, docente do curso de Psicologia na
Universidade de Fortaleza
A especialista aponta que a solução envolve a promoção da educação digital e o fortalecimento de fatores de proteção. Segundo Andrea, é fundamental orientar crianças e adolescentes quanto ao uso consciente de smartphones e redes sociais.
Além disso, a psicóloga destaca a importância de estimular a prática de atividades físicas, prazerosas e socialmente enriquecedoras como forma de equilibrar os efeitos negativos do excesso de vida digital. “É fundamental fortalecer os fatores de proteção e reduzir os fatores de risco”, conclui a mestre em Ciências do Comportamento.
O reconhecimento do termo brain rot pelo Dicionário Oxford como Palavra do Ano não é apenas simbólico. Ele serve como um alerta sobre os rumos da sociedade digital e a urgência de repensar o modo como interagimos com a tecnologia, especialmente nas fases mais vulneráveis do desenvolvimento humano.
Se a era da informação nos prometeu conhecimento e conexão, é preciso agora encarar os efeitos colaterais dessa promessa. O desafio do século XXI será, talvez, o de preservar o que temos de mais humano: a saúde da mente em um mundo de estímulos infinitos.
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