Dengue, zika e chikungunya: Saiba como se prevenir das arboviroses no período de chuvas
Vacina contra dengue deve ser combinada com outras estratégias de proteção
O período de chuvas no Ceará traz consigo a necessidade de reforçar cuidados para evitar a transmissão de arboviroses – doenças transmitidas por mosquitos –, principalmente aquelas que têm como vetor o Aedes aegypti: zika, dengue e chikungunya, as arboviroses urbanas.
Com o aumento da umidade e dos chamados criadouros (qualquer recipiente que acumule água parada, como garrafas pet, latas, caixas d’água destampadas), o número de mosquitos fica subitamente maior, o que pode levar ao aumento dos casos dessas doenças.
Sintomas
O médico infectologista Antonio Lima Neto, secretário executivo de Vigilância em Saúde da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e professor do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, explica que os sintomas febris estão presentes nas três enfermidades citadas, embora o paciente com zika apresente uma febre mais baixa.
O docente menciona ainda que dores articulares em pacientes com chikungunya podem se tornar crônicas, permanecendo por anos. Conheça abaixo os sintomas de cada uma das três arboviroses mais comuns no Ceará.
Dengue
- Febre alta;
- Calafrios;
- Dor no corpo;
- Dor de cabeça intensa;
- Dor nos músculos;
- Dor atrás dos olhos;
- Manchas pelo corpo.
Zika
- Febre baixa;
- Manchas pelo corpo;
- Coceira.
Chikungunya
- Febre alta;
- Calafrios;
- Inflamação e dor intensa nas articulações;
- Rigidez matinal.
Tratamentos
Como não existem antivirais específicos para nenhuma dessas doenças (todas causadas por vírus), a indicação é realizar um tratamento de contingência. No caso da dengue, a principal recomendação é a hidratação. Além de uma classificação de risco por idade e presença de comorbidades.
“Estamos passando pela maior epidemia de dengue da história do Brasil, concentrada no Centro-Sul do país, com um número muito grande de óbitos, sobretudo de idosos. Então, é muito importante classificar o risco e saber que o ‘remédio’ para a dengue é uma hidratação correta e adequada para cada caso”, destaca Antonio, que é conhecido como Dr. Tanta.
A febre é o sintoma em comum entre as três principais arboviroses no Brasil (Foto: Getty Images)
Para as três enfermidades, o médico epidemiologista indica o uso de analgésicos para dor e febre, normalmente dipirona (em alternância com paracetamol, eventualmente). “A zika pede que o paciente aguarde. Ela tem um curso clínico”, acrescenta o professor.
Quando se fala em chikungunya, é importante salientar que a doença apresenta três fases: a aguda, a pós-aguda e a crônica. Para cada uma delas, há um conjunto de medidas a serem tomadas.
“Na fase aguda, por exemplo, o foco é controlar a febre e a dor por meio de analgésicos clássicos, mas conforme a dor se intensifica, é possível que corticóides sejam indicados. Alguns imunossupressores podem ajudar no caso de reações inflamatórias e dores excruciantes, que impedem [o paciente], inclusive, de realizar as atividades de vida diária”, pontua Antonio.
Em qualquer caso de suspeita de dengue, zika ou chikungunya, a orientação principal é a de procurar atendimento médico para avaliação e tratamento adequados e seguros de acordo com cada caso.
Prevenção individual e comunitária
Segundo o Dr. Tanta, a prevenção dessas doenças está muito ligada à questão do controle do vetor, ou seja, a eliminar recipientes e possíveis focos de água parada que podem servir como criadouros.
“Aproximadamente 85% dos focos estão dentro de casa. São latas, baldes, tanques, cisternas, vasos de água de animais de estimação, além do lixo doméstico, onde recipientes podem estar expostos recebendo a água da chuva”, alerta o secretário executivo de Vigilância em Saúde. Ele também ressalta a importância da proteção individual com o uso de repelentes.
Existem evidências de que é possível eliminar criadouros em uma residência dedicando de 10 a 15 minutos por semana a essa tarefa (Foto: Getty Images)
Vacina da dengue
Desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, a Qdenga é a primeira vacina contra a dengue a ser incorporada ao Programa Nacional de Imunizações, do Sistema Único de Saúde. Ela está sendo indicada para pessoas de 4 a 60 anos, uma vez que não foram feitos testes para pessoas acima dessa faixa etária.
“É uma vacina que se mostrou eficaz e segura, principalmente contra o sorotipo tipo 1 e 2, que era o que estava circulando na época em que o imunizante foi testado”, ressalta Antonio.
No Ceará, as primeiras doses começam a ser aplicadas no dia 13 de maio, em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos. As 42 mil unidades recebidas pelo Estado estão sendo distribuídas nos municípios de Fortaleza, Aquiraz, Eusébio e Itaitinga.
“[A vacina] é um alento surgindo depois de tanto tempo. O Ceará, por exemplo, já vive com a reemergência da dengue desde 1986, são quase 40 anos” — Antonio Lima Neto, secretário executivo de Vigilância em Saúde da Sesa, médico infectologista, pesquisador e professor do curso de Medicina da Unifor
Para o Dr. Tanta, o imunizante é uma arma a mais, no entanto, será preciso um longo período para vacinar a população de maneira mais abrangente. “O número de doses ainda é bem restrito e, enquanto isso, vamos ter que continuar no combate ao vetor utilizando tecnologias novas, como por exemplo os mosquitos Wolbachia”, observa o docente.
Essa forma de combate consiste em soltar “mosquitos do bem” contaminados com a bactéria Wolbachia, que impede o desenvolvimento dos vírus causadores da dengue, zika e chikungunya dentro do seu principal vetor, o Aedes aegypti.