Inibidores de apetite: conheça riscos que podem ser causados pelo uso dos medicamentos

Possível aliado na luta contra a obesidade e a diabetes, os inibidores de apetite podem gerar graves consequências físicas e neurológicas aos usuários

A pressão estética imposta pela sociedade e a busca por uma estilo de vida mais saudável fazem com que as pessoas optem, muitas vezes, por alternativas farmacológicas que tratem com urgência a demanda pelo emagrecimento. Nesse contexto, a procura por inibidores de apetite cresce Brasil afora.

Conhecidos como anorexígenos, esses medicamentos apresentam anfetaminas em sua composição, atuando diretamente no sistema nervoso central com o objetivo de inibir o apetite e aumentar a saciedade. Por conta disso, é usado como um possível aliado para o tratamento da obesidade e do sobrepeso. 

Nesse intuito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, no início deste ano, um novo tratamento: a semaglutida. Normalmente utilizada por pacientes diabéticos, esse fármaco eleva o tempo de ação de substâncias conhecidas como incretinas, que também provocam a redução do apetite pelo sistema nervoso central.

Como funciona?



A semaglutida, conhecida pela marca Ozempic, é uma substância injetável normalmente utilizada por pacientes diabéticos (Foto: Getty Images)

Otacílio Benvindo, professor do curso de Farmácia da Universidade de Fortaleza — instituição de ensino da Fundação Edson Queiroz —, explica que a redução de peso observada em pessoas obesas tratadas com anfetamina deve-se quase inteiramente a uma redução da ingestão de alimentos e, apenas em pequeno grau, a um aumento do metabolismo. 

“Os mecanismos neuroquímicos da ação não estão bem esclarecidos, mas podem envolver um aumento da liberação de noradrenalina ou dopamina, que, quando em quantidades maiores, inibem o centro da fome e suprimem a ingestão de alimentos”, afirma o docente. 

Mas, ao decorrer do tempo, notou-se uma tendência que engloba esse tipo de medicamento. Pessoas buscando resultados imediatos passaram a exercer o uso indiscriminado dos produtos, deixando para trás as práticas que resultam em um verdadeiro estilo de vida saudável.   



“São medicamentos que podem ajudar na perda de peso para pacientes que apresentam dificuldade, mas não podemos jamais levar esses medicamentos como pílulas milagrosas. Devemos focar na mudança do estilo de vida, atividade física e reeducação alimentar sempre optando pelas melhores escolhas” — Otacílio Benvindo, professor do curso de Farmácia da Unifor. (Foto: Ares Soares)


Riscos à saúde 

Além do uso inadequado, os medicamentos podem causar graves riscos à saúde, principalmente os que não são aprovados pela Anvisa. A utilização do Ozempic, por exemplo, pode causar algumas reações, como:

  • Sensação de enjoo (náusea);
  • Diarreia;
  • Hipoglicemia;
  • Vômito;
  • Suor frio, pele fria e pálida;
  • Dor de cabeça;
  • Alterações nos batimentos cardíacos e na visão;
  • Sensação de sono ou fraqueza;
  • Nervosismo, ansiedade ou confusão;
  • Dificuldade de concentração ou tremor;
  • Refluxo ou azia — também chamado de “doença do refluxo gastroesofágico” (DRGE).

Segundo o professor Otacílio, os efeitos tóxicos agudos da anfetamina constituem habitualmente extensões de suas ações terapêuticas e, em geral, são resultados de superdosagem. 

O docente destaca que a influência sobre o sistema nervoso central consiste comumente em inquietação, tontura, tremor, reflexos hiperativos, tensão, irritabilidade, fraqueza, insônia, febre e, algumas vezes, euforia. 

“Ocorre confusão, agressividade, alterações da libido, ansiedade, delirium, alucinações paranoides, estados de pânico e tendências suicidas ou homicidas, sobretudo em pacientes com transtornos mentais”, pontua. 

Acompanhamento profissional


É importante ser acompanhado de perto por profissionais da saúde para a utilização segura de inibidores de apetite (Foto: Getty Images)

Nesse contexto, é fundamental entender que a utilização de inibidores de apetite deve ser feita frente a um cenário de necessidade no quadro de saúde e com acompanhamento de equipe multidisciplinar. 

Todos os medicamentos deste tipo devem ser obrigatoriamente prescritos por um médico endocrinologista, metabologista ou nutrólogo, sempre sendo assistido por outros profissionais da área para as orientações relacionadas ao uso racional.

“Quando orientado corretamente pelo médico, em associação com as medidas não medicamentosas da equipe multiprofissional — composta por farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e profissionais da educação física —, os benefícios da utilização desses medicamentos podem melhorar a qualidade de vida do paciente e restaurar a auto-estima”, finaliza Otacílio.