Morning Shed: nova febre de skincare acende alerta entre profissionais de estética
Popularizada nas redes sociais, a prática propõe excesso de produtos na pele, mas especialistas alertam para os riscos dessa rotina exagerada
Uma nova moda de cuidados com a pele tem ganhado espaço entre influenciadores e usuários do TikTok e Instagram: o morning shed . A prática, que envolve a aplicação de múltiplos produtos antes de dormir e logo ao acordar, incluindo máscaras, séruns e até pomadas, promete uma “renovação celular intensiva” que seria um tratamento estimulante para a renovação da pele, resultando em um visual mais luminoso.
No entanto, especialistas têm expressado preocupação com os efeitos adversos dessa rotina. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) , o uso indiscriminado de cosméticos sem orientação profissional pode comprometer a barreira cutânea e causar efeitos rebote, que é o surgimento de sintomas que estavam ausentes, como oleosidade excessiva ou irritações.
Mas será que a técnica realmente funciona? Qual a opinião de esteticistas? Há perigos à saúde? Conversamos com o esteticista Weverton Dutra, professor do curso de Estética e Cosmética da Universidade de Fortaleza — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz —, para entender melhor a trend que tem tomado as redes sociais.
Morning shed: consequências e alternativas
Weverton alerta que a prática do morning shed, embora possa parecer inofensiva no início, traz riscos significativos quando realizada de forma contínua. Entre os problemas mais comuns estão o surgimento de acne e irritações cutâneas.
Com isso, no morning shed, muitos produtos acabam sendo usados fora de suas indicações ou em quantidades inadequadas para o tipo de pele, o que compromete a integridade da barreira epidérmica - a camada mais externa e protetora da pele.
“Na estética profissional, valorizamos a individualização do tratamento e seguimos o princípio do ‘menos é mais’, ou seja, o uso racional, seguro e consciente dos cosméticos, sempre respeitando as reais necessidades da pele”, enfatiza o especialista.
Ele explica que seguir tendências sem embasamento técnico pode, inclusive, causar efeitos contrários aos desejados. Por isso, é fundamental promover uma educação cosmética baseada na ciência, e não apenas no apelo visual das redes sociais.
O uso de cosméticos precisa ser realizado seguindo as
orientações de cada produto e, de preferência, com acompanhamento
profissional especializado (Foto: Getty Images)
Rotinas extremas de cuidados com a pele podem comprometer a barreira cutânea, resultando em consequências como:
- Sensibilização da pele
- Inflamação crônica de baixo grau (inflammaging)
- Ressecamento
- Hipersensibilidade
- Desenvolvimento de dermatites
O morning shed, quando utilizado em excesso ou de forma inadequada, pode causar a desregulação da microbiota cutânea, o enfraquecimento da função de proteção da pele e o aumento da vulnerabilidade a agentes externos. Além disso, há a consequência paradoxal de aceleração do envelhecimento cutâneo em vez de sua prevenção, explica Weverton.
O ideal é manter uma rotina básica com produtos multifuncionais e bem formulados, conforme indica o professor, que também é farmacêutico. Ele orienta a seguinte rotina básica:
- Higienizador suave, sem sulfatos agressivos, até 2x ao dia;
- Hidratante biomimético, com ceramidas, ácido hialurônico ou pantenol;
- Protetor solar de amplo espectro, com reaplicação regular;
- Opcional: antioxidantes (vitaminas C, A, E) e ativos conforme a necessidade da pele
Efeitos para cada tipos de pele
A prática de um cuidado “exagerado”, como no morning shed, pode até ser útil para alguns tipos de peles com tendência à oleosidade e com presença de comedões, desde que muito bem monitorada. No entanto, não é indicada de forma universal e pode ser especialmente prejudicial para peles secas, sensíveis ou com barreira comprometida. Por isso, a importância de uma avaliação individual é fundamental antes de aplicar qualquer protocolo esfoliativo com frequência.
“O acompanhamento com um profissional da estética
qualificado garante uma avaliação técnica das características e
necessidades da pele. Isso permite a escolha de ativos e produtos
adequados, reduzindo o risco de efeitos adversos e potencializando
os resultados” — Weverton Dutra, docente do
curso de Estética e Cosmética da Unifor
Segundo Weverton, a pressão estética está presente nesse crescimento de cuidados exagerados com a pele. Aliada ao marketing digital e à influência de redes sociais, ela cria padrões idealizados de beleza e acelera o consumo precoce de cosméticos, muitas vezes sem uma necessidade evidente. Isso pode gerar insatisfação corporal, uso indevido de produtos e até mesmo quadros de ansiedade estética.
É essencial incentivar a educação em saúde da pele desde cedo, com base em evidências científicas e não apenas em modismos ou tendências das redes sociais, pontua o professor. Ao promover o conhecimento, desenvolvemos nos jovens um senso crítico mais apurado, além de estimular o autocuidado de forma consciente, segura e responsável, respeitando as reais necessidades da pele em cada fase da vida.
O perigo do skincare infantil
Apesar do uso de redes sociais por menores de idade ser recomendado apenas sob supervisão de adultos, esse público ainda acaba sendo exposto a conteúdos virais. Essa tendência de skincare vem, inclusive, ganhando espaço no mundo infantil, trazendo riscos à saúde da criança como efeitos nocivos à pele e à saúde mental . Mas o uso de múltiplos ativos e rotinas complexas não é recomendado para crianças com menos de 13 anos.
Nessa fase, a pele está em desenvolvimento e tende a ser mais reativa, explica o professor Ewerton. Por isso, a introdução de práticas de skincare deve ocorrer de forma progressiva e educativa, com foco em higiene, hidratação e proteção solar. Apenas a partir da puberdade, com a orientação de profissionais, pode-se ajustar a rotina conforme surgirem necessidades específicas como acne ou peles oleosas e porosas.