Educação Superior de Excelência
ENTREVISTA: Edson Queiroz Neto
Sempre voltada para a qualidade de seus cursos, a Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, tem investido ao longo de seus 45 anos de vida no aperfeiçoamento da qualidade da infraestrutura instalada, na seleção e qualificação de seu corpo docente e no crescimento quantitativo e qualitativo dos programas de pós-graduação. Segundo o Chanceler Edson Queiroz Neto, esta é a receita da trajetória de sucesso da Unifor, responsável pelo ingresso de mais de 90 mil graduados de excelência no mercado de trabalho local e nacional, contribuindo, de maneira efetiva e sistemática, para o desenvolvimento socioeconômico do Ceará e do País.
Apesar do aumento significativo de Instituições de Ensino Superior (IES) a partir dos anos de 1990, a Unifor permanece como a melhor do Norte e Nordeste em todos os rankings. Como o senhor avalia essa trajetória?
O principal aspecto orientador desta situação é o posicionamento estratégico da instituição. A Unifor sempre se posicionou como uma Universidade voltada para a qualidade de seus cursos. Este tem sido um grande desafio, pois a gestão de uma Universidade deste porte requer complexa dinâmica que assegure sustentabilidade sem abrir mão da qualidade e da excelência. Essa trajetória requer permanente busca por inovação dos produtos e ao mesmo tempo atratividade e eficiência na gestão. A decisão, tomada anos atrás, de ampliar as condições de oferta por meio da melhoria na infraestrutura instalada, da seleção e qualificação dos professores, além do crescimento quantitativo e qualitativo nos programas de pós-graduação, com grande ênfase na pesquisa, foi elemento essencial para que alcançássemos esses patamares. Mas há muito o que conquistar ainda, temos esta convicção.
Qual a avaliação que o senhor faz da relação público/privado no desenvolvimento da Educação no Brasil? De que forma essa retroalimentação pode contribuir melhor para uma efetiva política de inclusão no Ensino Superior?
Este é um dado muito significativo: de cada dez alunos matriculados no ensino superior no Brasil, 7 estão em instituições particulares. O papel do segmento privado na correção de uma defasagem histórica de brasileiros com nível superior é indiscutível. Entretanto, nossos números ainda são muito baixos: cerca de metade dos alunos matriculados em toda a rede de ensino abandonam os cursos até o quarto ano. Apesar do crescimento das matrículas, a principal dificuldade do país na graduação ainda é fazer com que os estudantes escolham o curso mais alinhado ao perfil pessoal e, principalmente, que concluam o ensino superior. Neste sentido, o segmento privado tem buscado inovar, ampliando vagas para o turno da noite, aumentando as chances de alunos que precisam trabalhar possam cursar uma graduação e ampliando a oferta de cursos semipresenciais ou a distância.
O que o senhor vislumbra para o ensino superior nos próximos anos?
O cenário ainda é de cautela otimista. Nossas demandas de desenvolvimento de pessoas é muito grande, o que representa enorme potencial de crescimento. Mas o segmento - tanto público quanto privado - depende do contexto macroeconômico, e portanto sofre diretamente a instabilidade da economia. Como há uma visão, no fim do túnel, de melhoria do contexto geral, a tendência é de retomada do crescimento do setor. Mas isto tem que vir acompanhado de mudança também na forma de como se faz ensino superior. Não é mais possível que se tenham modelos do século passado de formação, orientados para a transmissão de conhecimentos, e com forte ênfase na teoria. É necessário que a formação dos universitários nos próximos anos assegure a articulação entre ensino e mercado, teoria e prática, conhecimento e aplicação. E a Unifor caminha neste sentido.
De acordo com a meta 12 do Plano Nacional de Educação, que trata do ensino superior, o país precisa aumentar a taxa bruta (nº de matrículas sobre a população de 18 a 24 anos) para 50% e a líquida (nº de matrículas de jovens entre 18 e 24 anos sobre a população de 18 a 24 anos), para 33% - atualmente os números são de 31,4% e 15,5%, respectivamente. Em suma, seria preciso colocar mais de 37 milhões de alunos na universidade em dez anos. Que estratégias devem ser revistas para correr atrás dessa meta proposta na esteira das políticas públicas?
Veja como são grandes os nossos desafios como nação. E isso precisa vir acompanhado de melhoria no ensino básico, não podemos esquecer. Entendo que as principais estratégias estão no campo da flexibilização da oferta, com maior diversidade de programas. Os modelos convencionais dos bacharelados clássicos, com o passar dos anos, não responderão mais às demandas dos serviços e da indústria. Novas carreiras e profissões serão requeridas, e portanto será necessário novo portfólio de cursos e programas, a meu ver mais customizados e on demand do que temos hoje. Será necessário também resolvermos o problema da ocupação: não se trata somente de ofertar vagas, quando mais da metade não chega nem sequer a ser ocupada. Isso vai requerer revisão dos turnos, da educação a distância e outros mecanismos de inclusão. E por fim há o componente financiamento. Ensino superior é caro, tanto no setor público quanto no privado. O Estado precisa equacionar a relação custo-efetividade na oferta de vagas ou no financiamento para assegurar a manutenção de alunos em instituições com qualidade reconhecida.
Como a Unifor vem criando mais condições para a ampliação do acesso e permanência na Educação Superior?
Com as características de uma instituição de excelência, de muitas formas, em grande parte com todas essas possibilidades de que falei antes. Temos buscado ofertar um conjunto diverso de cursos de graduação e pós-graduação, buscando cobrir as áreas mais necessárias no contexto profissional em nossa região. Temos mais de 30 cursos de graduação e muitos cursos de pós-graduação e educação continuada. Também buscamos, na medida da demanda, ofertar cursos diurnos e noturnos, ampliando as opções para nossos alunos. Do ponto de vista da permanência, nossos Centros possuem processos de acompanhamento do desempenho dos alunos, de modo a identificar e procurar atuar sobre alunos com dificuldades de aprendizagem, bem como tem notável política de acessibilidade.
Muitos estudantes precisam conciliar trabalho e estudo, na maioria das vezes sem apoio financeiro do Estado, acreditando que o estudo poderá melhorar a sua condição de vida. Existe preocupação, em particular, da Unifor, com esses estudantes?
Este é, sem dúvidas, um grande desafio. A consolidação de uma formação de qualidade requer, naturalmente, dedicação por parte do aluno, e o equilíbrio entre atividades acadêmicas e laborais é elemento essencial para o sucesso. Os currículos da Unifor têm buscado equacionar a carga horária presencial para equilibrar o esforço e a dedicação do aluno, bem como ampliar os recursos de suporte (inclusive virtuais) para facilitar o acesso a conteúdos de aprendizagem em qualquer hora ou lugar, caso, por exemplo, dos milhares de títulos de livros eletrônicos de nossa biblioteca, acessíveis online em qualquer dispositivo.
“Educação é gênero de primeira necessidade e investimento prioritário”. Essas foram as palavras do chanceler Edson Queiroz, quando da inauguração da Unifor. Partindo da premissa de que conhecimento é um bem público e primordial para o desenvolvimento econômico, social e cultural de um lugar, quais os maiores impactos que o senhor vê refletidos no Ceará com a criação da Unifor?
É interessante como essa frase de meu avô, há mais de quarenta anos, continua viva, nova e necessária. Há alguns indicadores, dentre muitos, que me fazem pensar que a fundação da Unifor impactou fortemente para esse contexto. Em primeiro lugar, os mais de noventa mil egressos. É um número muito significativo. Essas pessoas estão em todos os segmentos de nossa economia, em cargos de gestão, em funções públicas e privadas. Não há quem não conheça ou não seja impactado pela ação direta de um profissional formado na Unifor. Também no âmbito da produção de conhecimento, especialmente nos últimos anos, com o crescimento da pós-graduação e dos programas de mestrado e doutorado. Apesar de notória, é essencial mencionar também a repercussão em toda a região dos programas de responsabilidade sociocultural, como os atendimentos em saúde e na área jurídica, os programas de arte e esporte, este nosso campus... A vida de nossa cidade, do nosso Estado seria, indubitavelmente diferente - e quero crer, tornou-se muito melhor - graças à presença da Fundação Edson Queiroz e de nossa Universidade.
Texto publicado na Revista Unifor | Edição 03 | Março 2018