Educação antirracista: Projeto Cores da Igualdade conquista prêmio nacional de boas práticas no ensino superior
ter, 22 abril 2025 14:13
Educação antirracista: Projeto Cores da Igualdade conquista prêmio nacional de boas práticas no ensino superior
Iniciativa do curso de Direito da Unifor ganhou o Prêmio Conciliar é Legal 2025 na categoria Ensino Superior na modalidade de Boas Práticas

O debate antirracista vem tomando grandes proporções por questionar as diferentes formas de desigualdade social, com raízes históricas profundas e impactos diários na sociedade. Abordar o racismo em ambiente acadêmico é fundamental para formar profissionais conscientes, comprometidos com a justiça social e preparados para enfrentar os desafios da construção de uma sociedade mais igualitária, plural e inclusiva.
Pensando nisso, docentes e discentes do curso de Direito da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz, idealizaram o Cores da Igualdade. Nascido na disciplina de Direito e Gestão Consensual de Conflitos, ministrada pela professora Bleine Caúla, o projeto de extensão se debruça sobre o racismo e sua abordagem no ensino médio, com o intuito de contribuir para a construção de uma cultura de paz e de equidade racial nas escolas.
Por seu trabalho focado na justiça social e educação antirracista, o Cores da Igualdade foi reconhecido nacionalmente com o Prêmio Conciliar é Legal 2024, na modalidade Boas Práticas – Categoria Ensino Superior. A solenidade de premiação ocorrerá no dia 19 de maio, na sede do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília.
“Ao escolher o projeto Cores da Igualdade, com certeza, o CNJ entendeu o racismo como um conflito e, obviamente, como órgão do Poder Judiciário, acredita que tem um papel preponderante de beneficiar a sociedade com um novo olhar sobre a igualdade racial e a desconstrução da cultura racista. Não teremos uma cultura de justiça pela paz com olhos fechados para a igualdade racial”, afirma Bleine.
“Não se destrói uma prática sem que suas causas sejam discutidas no meio acadêmico e social”
O processo de desenvolvimento do Cores da Igualdade contou com a participação ativa dos estudantes da disciplina de Direito e Gestão Consensual de Conflitos em 2024.1 e 2024.2. A proposta do nome, por exemplo, veio da aluna Giulia Maia Pioto, já a identidade visual foi criada por Beatriz de Carvalho Castro, também responsável pela estruturação do conteúdo da cartilha que fundamenta o projeto.
Esse tipo de movimento promove o protagonismo estudantil no debate antirracista não só trazendo os discentes para o centro da discussão, mas os colocando como atores da mudança social por meio da educação. Além de incentivar a conscientização racial, também reforça uma formação cidadã, onde cada aluno é capaz de promover a transformação a partir da sala de aula.
De acordo com a professora Bleine, coordenadora do projeto, “não se destrói uma prática sem que suas causas sejam discutidas no meio acadêmico e social. Não é suficiente tipificar o racismo como crime. É preciso entender as causas que levam à prática, e a educação pode transformar esse cenário”.
“Nosso objetivo é conscientizar os estudantes do ensino médio sobre as diferentes manifestações de racismo e suas consequências sociais; promover a inclusão de grupos marginalizados; incentivar a valorização da diversidade e o direito à igualdade racial; estabelecer um espaço de diálogo aberto e respeitoso para discutir questões raciais e buscar soluções colaborativas” — Bleine Caúla, professora do curso de Direito e coordenadora do projeto Cores da Igualdade
A cartilha do Cores da Igualdade, desenvolvida pelos alunos dentro da disciplina, adota como base a Comunicação Não Violenta (CNV) para propor um diálogo construtivo e empático. Após finalizado, o produto foi distribuído a alunos de escolas públicas e privadas durante visitas institucionais organizadas pelo projeto.
Uma outra ação de grande impacto da iniciativa foi a realização de um encontro com estudantes do ensino médio, que participaram de uma experiência interativa com Lívia Vaz, promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia e uma das cem pessoas negras mais influentes do mundo.
Lívia compartilhou reflexões sobre o epistemicídio, que é a destruição de conhecimentos, culturas e saberes de grupos excluídos ou “a morte do conhecimento causado pela colonização e seus reflexos no racismo estrutural”, que foi o tema da palestra. A atividade proporcionou aos participantes um espaço seguro de fala e escuta, além de contato direto com os alunos de Direito da Unifor, que compartilharam suas perspectivas e conhecimentos adquiridos.
“O direito deve estar a serviço da transformação social”
A importância do Cores da Igualdade vai além do seu reconhecimento institucional. Para a professora Bleine Caúla, o projeto representa um avanço no currículo do curso de Direito ao incluir o racismo como tema central da extensão universitária, da mesma forma que já se discute gênero, meio ambiente, acessibilidade e outros temas sensíveis à sociedade.
O impacto na formação dos alunos também é significativo. A estudante Beatriz de Carvalho Castro, do 3º semestre de Direito, atua na área trabalhista como estagiária e relata que a experiência de participar do projeto de extensão foi transformadora.
“Foi uma vivência extremamente enriquecedora em todas as esferas da minha vida. Aprendi sobre empatia, escuta ativa, trabalho em equipe e, principalmente, sobre o nosso papel social enquanto futuros operadores do direito” — Beatriz de Carvalho, aluna do curso de Direito
A motivação dos estudantes em participar do projeto surgiu da própria proposta da professora, que lançou o desafio de desenvolver um material educativo a partir dos conceitos aprendidos em sala. “Promovemos o diálogo e a conscientização, contribuindo assim para a formação de profissionais do direito mais preparados para lidar com os desafios sociais contemporâneos”, diz a professora Bleine.
Para Beatriz, “o direito deve estar a serviço da transformação social, e o projeto me deu a chance de aprofundar o conhecimento sobre o racismo e contribuir com um material acessível, informativo e com potencial de impacto real na vida das pessoas. Foi uma oportunidade única de unir teoria e prática em prol de uma causa essencial. Entendi que poderia contribuir não só como estudante, mas como cidadã”.