Workshop discute inversão de prioridades no planejamento urbano

Terça-feira, 07 Agosto 2018 18:30
Por Omar Jacob

Transformar a experiência do pedestre ao caminhar, é chave para ocupação dos espaços públicos. Essa foi a discussão central do Workshop de Infraestrutura para Pedestres realizado pela Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, através da Iniciativa Global de Desenho de Cidades da National Association of City Transportation Officials (GDCI-NACTO/EUA). Engenheiros, arquitetos e urbanistas da academia e do poder público se reuniram para discutir como melhorar os espaços destinados às pessoas, e não aos veículos, nas ruas de Fortaleza.

"Precisamos inverter a lógica com que as nossas ruas em todo o mundo têm sido planejadas e construídas ao longo das últimas décadas" disse Skye Duncan, diretora da GDCI-NACTO. Esse movimento global avança a passos ainda tímidos, mas com resultados positivos em cidades como Amsterdã, Copenhague, Auckland e inclusive Fortaleza. "Experiências como o Cidade da Gente do Dragão do Mar nos ajudam a ver as ruas sobre uma nova luz e testar o que é possível", explica.

O ponto de mudança, segundo Skye Duncan, começa com profissionais e técnicos na área de planejamento urbano compreendendo a necessidade de rever as prioridades. “A participação da sociedade civil é fundamental, mas além disso os técnicos e planejadores dessas cidades no norte da Europa tomaram a decisão de construir um ambiente mais seguro para as crianças, os idosos, para facilitar a acessibilidade. Então sociedade civil e técnicos precisam trabalhar em conjunto para que a mudança realmente aconteça” afirma.

De acordo com a especialista, cidades por todo o mundo chegaram à conclusão de que, quanto mais espaço das ruas é construído para carros particulares, mais carros passam a circular nas ruas, como num ciclo vicioso. É por isso que, por todo globo, as cidades têm investido cada vez mais em planejar as cidades com foco no uso sustentável e mais eficiente do espaço disponível, como transporte público, infraestrutura cicloviária e calçadas. "[as ruas] são lugares para não apenas se mover, mas para brincar, celebrar, jantar, ganhar dinheiro, encontrar amigos e desfrutar de nossos bairros", pondera a urbanista neozelandesa.

Com papel, mapas, pincéis e um "cardápio" de soluções apresentadas no Guia Global de Desenho de Ruas (em inglês), os técnicos discutiram novas possibilidades com exemplos reais das ruas de Fortaleza. "Achei uma experiência interessante, por que nos mostra que é possível fazer muita coisa e tornar nossa cidade mais acessível e confortável para todos" avalia a mestranda em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará, Raquel Morano.

Mas além de trabalhar por uma melhor infraestrutura física, os participantes também discutiram sobre as facilidades que as pessoas devem ter disponíveis nas ruas, como estímulo ao uso do espaço público. "Não apenas nós devemos nos preocupar em projetar as infraestruturas de forma correta, com as dimensões corretas e boa qualidade de execução, mas também a calçada e a rua são muito mais do que isso. É uma experiência multidimensional pra quem vai caminhar por aquela região, que tem múltiplos fatores: tem que ter mobiliário, árvores e sombreamento, quanto mais portas abertas para a rua, comércio, mesinhas na calçada e etc. mais interessante vai ser a experiência da pessoa ao caminhar pela cidade" explica Eduardo Pompeo, coordenador de projetos da GDCI-NACTO.

 

                Antes e depois do projeto "Cidade da Gente" no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. 

Projeto Cidade da Gente do Dragão do Mar ajuda a reimaginar uso do espaço público

A Prefeitura de Fortaleza, com apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global, iniciou no último sábado (04/08) o projeto ‘Cidade da Gente’ na área próxima ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, mais especificamente na rua Almirante Jaceguai, no trecho entre as avenidas Monsenhor Tabosa e Almirante Barroso, ao lado do Porto Iracema das Artes. Na sequência da intervenção realizada na Cidade 2000 em setembro do ano passado, a ideia é demonstrar, com um novo exemplo, como é possível dar um outro uso ao espaço público disponível nas ruas, além do trânsito de veículos por exemplo.

Com tinta comum, jarros de plantas, bancos e outros mobiliários de baixo custo, cerca de 300 metros da rua Almirante Jaceguai e entorno ganharam uma nova cara, bem mais acessível a pedestres, ciclistas e pessoas com necessidades especiais. Durante quinze dias quem passar pelo local também vai encontrar atividades culturais, educativas, prestação de serviços públicos em uma nova área de convívio para a comunidade local e visitantes.