Pesquisa Unifor: Estudo investiga efeito da bromelaína na redução da nocicepção orofacial em peixes-zebra adultos
ter, 2 janeiro 2024 14:33
Pesquisa Unifor: Estudo investiga efeito da bromelaína na redução da nocicepção orofacial em peixes-zebra adultos
Bromelaína é a principal enzima encontrada na planta do abacaxi e possui grande potencial farmacológico

Desenvolver estudos científicos visando uma reflexão positiva dos resultados na sociedade é fundamental para alcançar cada vez mais uma melhora da qualidade de vida humana. Nesse sentido, pesquisadores se dedicam a estudos inovadores que envolvem os mais variados métodos e abordagens de pesquisa.
Dentro dessa perspectiva, Saulo Rodrigo Ribeiro, egresso do Programa de Pós Graduação em Ciências Médicas (PPGCM) da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz, produziu o artigo “A bromelaína regula os canais TRP para induzir alívio da nocicepção orofacial em peixes-zebra adultos”.
O estudo tem como objetivo avaliar o papel dos canais Receptores de Potencial Transitório (TRP) nos efeitos de alívio na nocicepção – processo pelo qual o organismo detecta, modula e transmite estímulos nocivos que podem causar danos aos tecidos do corpo – da bromelaína na região orofacial do peixe-zebra adulto. O propósito é refletir futuramente as descobertas do estudo nos seres humanos.
Os canais TRP formam uma grande família de canais iônicos encontrados em diversas células e tecidos de organismos multicelulares, incluindo humanos. Esses canais desempenham um papel crucial na transmissão de sinais sensoriais e na regulação de diversas funções fisiológicas.
Dessa forma, os achados do estudo corroboram a relevância terapêutica da bromelaína, principal enzima encontrada na planta do abacaxi, como supressor da nocicepção orofacial.
“Nosso estudo demonstrou o potencial farmacológico da bromelaína como um inibidor da nocicepção orofacial, ação esta que parece ser modulada pelos canais TRPV1 e TRPM8. Em conjunto, os resultados sugerem que a bromelaína é um promissor fitofármaco para o tratamento da dor orofacial” – Saulo Rodrigo Ribeiro, discente do PPGCM.
Além de Saulo, também participaram da elaboração do estudo Adriana Rolim, professora do PPGCM, Sacha Aubrey Alves, Ana Lívia Oliveira, Gabriella Mesquita e Antônio Eufrásio Vieira Neto, todos pesquisadores do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Unifor.
Métodos
Inicialmente, a equipe trabalhou para obter a bromelaína a partir de uma extração de 100g de talos de abacaxi. Em seguida, coletaram peixe-zebras adultos, machos e fêmeas, com idade entre 60 e 90 dias, aproximadamente.
Após a obtenção da enzima e a coleta dos animais, os investigadores realizaram um teste de campo aberto para avaliar o impacto potencial da bromelaína no comportamento locomotor dos peixes.
Com isso, a nocicepção orofacial foi induzida com capsaicina, cinamaldeído ou mentol nos lábios dos animais. A aplicação ocorreu uma hora após os animais terem sido tratados com bromelaína.
Assim, o comportamento nociceptivo dos peixes, medido pela contagem de cruzamento de linhas, foi observado e registrado durante intervalos de tempo específicos: 10–20 minutos para capsaicina, zero a cinco minutos para cinamaldeído e zero a 10 minutos para mentol.
Resultados
A partir dos métodos realizados, foi constatado que a bromelaína não alterou a atividade locomotora dos peixes-zebras, não apresentou efeito tóxico e preveniu a resposta nociceptiva induzida por cinamaldeído, capsaicina e mentol, além de salina ácida e glutamato. Isso significa que os animais não sentiram dor quando foram expostos a essas substâncias.
Ademais, o efeito antinociceptivo da bromelaína foi resistente ao pré-tratamento com HC-030031 (antagonista do canal TRPA1), amilorida (antagonista do canal ASIC) e cetamina (antagonista do canal NMDA). Antagonistas são substâncias que atuam para bloquear ou inibir a ação de neurotransmissor, hormônio ou outra molécula sinalizadora em um organismo.
No contexto do estudo, esses fármacos foram usados para analisar se haveria uma diminuição da percepção de algum estímulo. O resultado foi a constatação de que os efeitos da bromelaína não dependem das atividades desses canais.
De forma geral, o estudo mostrou o potencial farmacológico da bromelaína como um inibidor da nocicepção orofacial, mas com indicações de ser modulada pelos canais TRPV1 e TRPM8. Em conjunto, os resultados sugerem que a enzima é um promissor fitofármaco para o tratamento da dor orofacial.
Publicação internacional
O artigo foi publicado no periódico internacional Biochemistry and Biophysics Reports em novembro deste ano. A revista divulga pesquisas originais de todos os campos da bioquímica, biofísica e áreas relacionadas.
O periódico aceita ainda uma ampla gama de estudos, desde os mais preliminares até os descritivos, confirmatórios e de pequena escala. É necessário, no entanto, que as investigações sejam sólidas, agreguem novos dados e conhecimentos e tenham o potencial de contribuir para pesquisas futuras e confirmar ou refutar uma hipótese existente.