Abril Azul: entender o autismo é o primeiro passo para inclusão e mudança de vida

Mês destaca a importância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado para melhorar a qualidade de vida de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O mês de abril é marcado pela campanha de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) , um movimento que busca ampliar o conhecimento da sociedade sobre o tema e combater o preconceito.

Identificar sinais precoces do autismo, garantir um diagnóstico assertivo e promover o acesso a tratamentos individualizados são passos fundamentais para que crianças, jovens e adultos com TEA tenham mais qualidade de vida, autonomia e inclusão social.

O diagnóstico precoce é um dos fatores mais decisivos na trajetória de desenvolvimento de uma criança com TEA, de acordo com pesquisa . Durante a primeira infância, o cérebro apresenta uma plasticidade maior, ou seja, uma capacidade mais ampla de criar e reorganizar conexões neurais a partir dos estímulos recebidos. Esse é o período ideal para ensinar novos comportamentos, desenvolver habilidades sociais, cognitivas e promover maior autonomia.

Intervenções realizadas desde cedo por psicólogos e neurologistas infantis, de forma integrada entre terapia, ambiente escolar e, principalmente, família, potencializam os resultados e favorecem aprendizados mais intensos em diferentes contextos.

Por isso, iniciativas como o Preparando para a Vida são essenciais nesse suporte. Promovido pelo Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) da Universidade de Fortaleza — instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz —, o programa realiza atendimento terapêutico especializado e multidisciplinar para crianças e adolescentes com TEA entre 10 e 16 anos.

Eduarda Rabelo Barros, psicóloga do programa e especialista em Terapia Cognitiva Comportamental, enfatiza como a repetição e a consistência nos estímulos são fundamentais nesse processo, pois é por meio delas que a criança assimila o que aprendeu e consegue aplicar no cotidiano, especialmente no convívio com a família e os amigos.


“A conscientização não busca a cura, mas sim a compreensão dos sintomas. Com a condução adequada do caso, o conhecimento sobre a individualidade e o respeito ao diagnóstico, é possível proporcionar uma melhor qualidade de vida para a pessoa com TEA e para todos ao seu redor”Eduarda Rabelo, psicóloga clínica e terapeuta cognitiva e comportamental

Identificando o TEA

A psicóloga explica que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) é classificado em três níveis de suporte, que variam de acordo com a intensidade das dificuldades apresentadas e o grau de apoio necessário no dia a dia:

  • No nível I, a pessoa pode ter dificuldades nas habilidades sociais e apresentar comportamentos restritivos;
  • No nível II, há uma necessidade de intervenção constante;
  • Já no nível III, as limitações na comunicação e socialização são mais evidentes e exigem suporte intensivo para o desenvolvimento de habilidades funcionais. 

Ela ressalta que todos os níveis demandam atenção, cuidado e um olhar sensível às particularidades de cada indivíduo. Mesmo em casos classificados como nível I, uma única dificuldade pode representar um grande desafio. Por isso, é fundamental compreender como cada pessoa aprende, respeitar seu tempo e oferecer terapias personalizadas que promovam autonomia, inclusão e qualidade de vida.

Eduarda Rabelo indica que o primeiro passo após a suspeita de autismo é buscar um médico especialista, como um neuropediatra, neurologista infantil ou psiquiatra. Após o diagnóstico, o profissional irá indicar as intervenções adequadas, que podem incluir terapias como:

  • Análise do Comportamento Aplicada (ABA);
  • Terapia fonoaudiológica;
  • Terapia ocupacional;
  • Grupos de habilidades sociais;
  • Atividades esportivas e musicoterapia;
  • Avaliação neuropsicológica.

O objetivo dessas ferramentas é garantir o desenvolvimento das potencialidades e melhorar a qualidade de vida da pessoa com TEA — seja criança, adolescente ou adulto — e de sua família.

Preparando para a Vida

O programa Preparando para a Vida tem se consolidado como uma importante iniciativa voltada ao cuidado e inclusão de pessoas com TEA, proporcionando atendimento terapêutico especializado para adolescentes autistas entre 10 e 17 anos. O NAMI definiu essa faixa etária após identificar necessidade de uma proposta terapêutica específica para essa fase da vida, que apresenta desafios únicos tanto para os jovens quanto para suas famílias.

Desde que Lucas Freitas iniciou sua participação no Preparando para a Vida em 2023, tem apresentado importantes conquistas ao longo desses anos de acompanhamento, conforme explica sua mãe, Samara Sângela. Com a realização de atividades em grupo, terapias integradas e um atendimento pautado na humanização, o rapaz demonstrou avanços significativos.

A mãe conta que Lucas, hoje com 20 anos, tornou-se mais confiante nas tarefas do dia a dia, passou a interagir com os colegas do programa com mais naturalidade, iniciou conversas espontâneas e participa ativamente das atividades propostas pelas profissionais que realizam o acompanhamento.


“Lucas já reconhece que as quartas-feiras são dias especiais, é quando vai ao NAMI. Ele acorda animado, sabendo que encontrará os amigos e participará das atividades propostas pelas terapeutas, carinhosamente chamadas por ele de ‘tias’, tia Duda, tia Ju e tia Adriana.”Samara Sângela, mãe de Lucas

Samara expressa com emoção sua gratidão ao programa Preparando para a Vida. Para ela, a iniciativa é essencial justamente por olhar com sensibilidade não apenas para os adolescentes, mas também para as famílias que os acompanham.

“Sinto uma profunda gratidão por cada pessoa que faz parte do projeto. Ele oferece o apoio necessário para que nossos filhos se sintam mais seguros e preparados para enfrentar os desafios da vida”, destaca.

Inscrições abertas 

Desde sua criação, o programa Preparando para a Vida já acolheu 38 famílias, entre avaliações e atendimentos terapêuticos, com algumas delas permanecendo até hoje. Atualmente, 22 adolescentes participam da iniciativa, que tem capacidade para atender até 50 pessoas.

As inscrições continuam abertas e são realizadas por meio de um formulário, com valor acessível. O programa realiza uma triagem inicial para melhor compreender as necessidades dos interessados.

Serviço

Programa “Preparando Para a Vida”
Local: Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) - Rua Desembargador Floriano Benevides, 221, bairro Edson Queiroz (ao lado do Fórum Clóvis Beviláqua)
Contato: (85) 9230-3372
Inscrições: acesse o formulário aqui