Vape pode ser tão prejudicial quanto tabaco orgânico e cigarro tradicional
Segundo especialistas, os dispositivos eletrônicos não são alternativas saudáveis para minimizar danos causados por outras formas de tabagismo
Os cigarros eletrônicos, também conhecidos como vaporizadores ou vapes, surgiram como ideia na década de 1960, mas só passaram a ser comercializados nos anos 2000. Apesar de terem sido inventados para tentar reduzir os danos provocados pelo cigarro convencional e auxiliar na diminuição da dependência à nicotina, ainda contém mais de 80 substâncias tóxicas e cancerígenas.
Esses aparelhos são uma opção convidativa para o público jovem, uma vez que são mais tecnológicos e socialmente aceitos do que cigarros tradicionais ou tabacos orgânicos. Entretanto, os três tipos de tabagismo trazem malefícios ao corpo e aumentam a probabilidade do desenvolvimento de doenças cardiovasculares, respiratórias e cânceres.
A pneumologista Daniela Chiesa, professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza, afirma que não há consumo seguro de tabaco: “Os três são prejudiciais à saúde porque o tabagismo é reconhecido como uma doença crônica causada pela dependência à nicotina, sendo considerado a principal causa de morte evitável”.
Os principais produtos que contém tabaco são:
- cigarro,
- charuto,
- cigarrilhas,
- cachimbo,
- narguilés,
- cigarros eletrônicos (vaper),
- tabaco orgânico.
Quais as diferenças entre os cigarros?
O tabaco orgânico não pode ser considerado uma forma mais segura de tabagismo, uma vez que também é aquecido para ser fumado e a inalação dessa fumaça gera os mesmos derivados da combustão de cigarros tradicionais. “Cada cigarro de palha (fumo in natura) equivale a três cigarros industrializados em relação à carga tabágica”, explica Daniela.
O cigarro possui mais de sete mil substâncias em sua composição, além do próprio tabaco (Foto: wirestock/Freepik)
O cigarro tradicional é produzido a partir de folhas de tabaco, que são misturadas com outros produtos químicos durante esse processo, para dar sabor e aroma. Esses cigarros podem ou não terem filtros, dependendo do fabricante.
Além da nicotina, existem várias substâncias nos produtos com tabaco, algumas geradas pela alta temperatura da combustão dessa folha. Dentre as mais de sete mil substâncias, sendo 69 sabidamente cancerígenas, as principais são:
- monóxido de carbono,
- alcatrão,
- amônia,
- acetona,
- naftalina,
- fósforo,
- formol,
- aldeídos,
- acroleína,
- arsênio,
- nitrosaminas,
- plutônio,
- níquel,
- cádmio,
- cianeto,
- benzeno,
- benzopireno,
- chumbo,
- tolueno.
Já os vaporizadores funcionam à base de uma bateria que aquece a solução líquida, chamada de essência, que é inserida nos dispositivos. Essa queima produz um aerossol que aumenta os riscos de doenças cardíacas e pulmonares nos usuários. Daniela afirma que os malefícios estão relacionados ao aquecimento de alguns líquidos utilizados nos vapes.
Quais as consequências do uso excessivo?
De acordo com a professora, a utilização do tabaco pode ocasionar cânceres em diversas partes do corpo, como pulmão, boca, faringe, laringe, estômago, fígado e outros. O uso em excesso também pode desenvolver doenças do aparelho respiratório, como enfisema pulmonar e bronquite crônica.
Já as substâncias presentes nos vaporizadores podem causar uma doença pulmonar chamada Evali. Os corantes alimentícios presentes nos vapes, ressalta a pneumologista, não foram feitos para serem aquecidos, o que acaba ocasionando irritação na garganta e nos brônquios pulmonares.
A cantora Solange Almeida pensou em desistir da carreira musical em razão das consequências causadas pelo uso de vape (Foto: Reprodução/Instagram)
Em 2022, a cantora Solange Almeida relatou que quase desistiu da carreira por conta da utilização excessiva de cigarros eletrônicos, segundo matéria publicada no portal de notícias Estadão. A artista ainda contou que foi atraída pelo sabor das essências.
Daniela Chiesa comenta que os sabores doces mascaram os riscos e favorecem o uso dos vaporizadores em maior quantidade: “Muitos acham que os vapes são inofensivos à saúde e não apresentam os mesmos riscos das doenças relacionadas ao tabaco, desconhecendo os efeitos nocivos aos pulmões”.
Os principais sintomas apresentados nos casos de Evali são: tosse, falta de ar e dor no peito. Sendo comum também dores na barriga, vômitos e diarreias, além de febre, calafrios e perda de peso, podendo facilmente ser confundida apenas com um quadro gripal.
A Evali ainda pode causar fibrose pulmonar, pneumonia e chegar à insuficiência respiratória, levando o paciente a necessitar de internação em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).