null Meio século de Enfermagem na vanguarda do cuidar

Seg, 22 Maio 2023 17:47

Meio século de Enfermagem na vanguarda do cuidar

O curso de Enfermagem da Unifor celebra cinco décadas de contribuições à formação de profissionais de excelência em diversas frentes de atuação, da assistência à gestão em saúde


Deborah Leite, aluna do último semestre de Enfermagem da Unifor, escreve atualmente novas cenas de uma história de 50 anos (Foto: Ares Soares)
Deborah Leite, aluna do último semestre de Enfermagem da Unifor, escreve atualmente novas cenas de uma história de 50 anos (Foto: Ares Soares)

Dos primeiros instantes neste mundo aos momentos que antecedem as despedidas, os profissionais da enfermagem estão ali conosco, durante a vida inteira. Quem os vê em ação enxerga entrega, devoção, vocação. Cuidar é mesmo uma arte, mas é, ao mesmo tempo, ciência. 

Tal compreensão reverbera até hoje na formação de futuros peritos do cuidar na Universidade de Fortaleza (Unifor), mantida pela Fundação Edson Queiroz e, em 2023, completando 50 anos como referência de ensino no Ceará e no Brasil. Criada em 1973, a graduação em Enfermagem, assim como a instituição, chega às bodas de ouro cheia de motivos para celebrar.

Olhar para trás é perceber que muito mudou em cinco décadas, do contexto de saúde à própria estrutura curricular do curso. Adaptações necessárias, no entanto, para que uma certeza permaneça: a de que, da Universidade, seguem saindo profissionais qualificados para contribuir com as demandas de cada tempo em múltiplas frentes de atuação — sejam elas na assistência, privada ou pública, na gestão em saúde e até mesmo na docência.

Teoria e prática desde o início

Quem viu de perto muitas mudanças foi a docente universitária aposentada Lucélia Farias, egressa da primeira turma do curso de Enfermagem da Unifor. Até então professora primária, ela entrou na Unifor como aluna em 1973 porque via na área um mercado de trabalho aquecido. A empregabilidade foi o primeiro atrativo.

Aos 23 anos, passou em segundo lugar no primeiro vestibular da instituição e se juntou a outras 29 estudantes —  os primeiros dois alunos homens de Enfermagem, lembra ela, ingressaram apenas na segunda turma. Àquela altura, a grade curricular privilegiava o enfoque assistencial centrado no indivíduo hospitalizado.


O curso de Enfermagem foi inaugurado em 1973, junto ao lançamento da Universidade de Fortaleza (Foto: Acervo Unifor)

“Ainda havia no Ceará a predominância de doenças infecto-contagiosas e, nesse período, existiam poucas instituições de saúde para atender a essa demanda”, recorda. “Havia necessidade de trabalho nos hospitais”.

Lucélia também conta que, no curso — com três anos de duração lá no início —, havia “certa urgência de aprendizado”. Uma das memórias é a de disciplinas em conjunto, nos primeiros semestres, com alunos de outras graduações, como Educação Física, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional.

“Éramos todos juntos em disciplinas como Fisiologia, Estatística, Moral e Cívica, Cálculo”, ilustra. No corpo docente, a egressa destaca ainda que muitas professoras atuavam como enfermeiras em hospitais, o que fazia teoria e prática serem trabalhadas em conjunto já desde o início da formação.

Ganhar o mundo e voltar à Unifor

Das 30 alunas daquela primeira turma, 15 se formaram. Várias, Lucélia tem como amigas até hoje. No caso dela, com a conclusão da graduação, veio uma especialização em Saúde Mental e Dependência Química, no Rio Grande do Sul.

Na sequência, uma carreira acadêmica de 20 anos como professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) — com mestrado, doutorado e pós-doutorado cursados durante este período. Após se aposentar, voltou ao Ceará e à Unifor, onde também atuou como docente.


“Ao longo dos anos, foram realizadas alterações curriculares, como inclusão de disciplinas e mudanças de carga horária, com vistas à contínua atualização com base nas mudanças no contexto da política de educação e saúde do país”Lucélia Farias, egressa da primeira turma de Enfermagem da Unifor

Longe das salas de aula, Lucélia segue presente na Unifor: ela dá nome ao centro acadêmico do curso e, cinco décadas depois, reconhece com amor o lugar ocupado pela instituição cearense na trajetória profissional. “Foi o aprendizado inicial que contribuiu para a minha formação em saúde. Sou muito grata por essa base”, narra.

Evolução ao longo do tempo

Quando Vládia Teles, enfermeira há 30 anos, começou a dar aulas na graduação em Enfermagem da Unifor, lá em 1994, o curso já estava, como ela mesma diz, “iniciando a vida adulta”. De dentro, ela também viu a matriz curricular ser aperfeiçoada ao longo das últimas décadas. Do foco no modelo biomédico, centrado na perspectiva curativa de doenças, a adesão a outras metodologias trouxe à formação uma abordagem mais ampla.

“Foi se dando uma visão mais coletiva, saindo daquele modelo hospitalar para um modelo centrado no indivíduo, na família, na coletividade e, principalmente, na prevenção em saúde. O ciclo vital todo, desde o nascimento até a morte, é voltado às ações de prevenção. Você assiste o indivíduo na sua totalidade”, explica.

A mudança na formação veio acompanhada de outras: a estrutura física do curso foi aperfeiçoada, além de atualizações curriculares que garantem um ensino conectado ao mercado de trabalho. As ligas e os grupos de estudos em diversas áreas são também espaços de aprendizado.


Os ambientes de prática foram sendo modernizados ao longo dos anos, sempre acompanhando as mudanças da enfermagem em cada período (Foto: Acervo Unifor)

“O curso evoluiu e evolui positivamente, porque procura sempre o aprimoramento do seu currículo acadêmico, porém também mira essa questão da visão epidemiológica, do empreendedorismo, de gestão das atividades do enfermeiro, tanto na área privada quanto na área pública, para o egresso sair preparado para o mercado de trabalho”, analisa.

A dimensão prática também está presente do primeiro ao décimo semestre. Um dos diferenciais da estrutura curricular, destaca a professora, é o “contato com o ser enfermeiro”. A maioria do corpo docente é formada por mestres, doutores e pós-doutores, mas a experiência não se resume à carreira acadêmica.

“São também profissionais que realizam atividade assistencial — seja na área hospitalar, seja na área coletiva —, então vivenciam diretamente a atividade do profissional enfermeiro. Isso é um diferencial. Quando o aluno entra na Unifor, ele já tem essa vivência simulada com o professor; e também a Universidade leva o aluno a ter essa vivência em campos de prática”, enfatiza.

A duração do curso, por sua vez, que passou de três para quatro anos até chegar aos cinco atuais, foi um ajuste não só de tempo. Para Vládia, representa também um salto de qualidade no tripé ensino-pesquisa-extensão. Hoje, afirma ela, a Unifor forma enfermeiros preparados para assumir os três pilares de atuação da área: assistência, gestão e docência.


“Apesar de sermos muitos, temos campo de mercado de trabalho, principalmente com a mudança do perfil da nossa pirâmide etária do Brasil. Já não somos um país de tantos jovens. Para as novas gerações, o que a Universidade, através do curso de Enfermagem, traz de contribuição é o foco na prevenção dessa mudança. O curso não visa só a questão curativa, mas a qualidade de vida”Vládia Teles, professora do curso de Enfermagem da Unifor

Inovação sempre

Alinhada a este pensamento, a coordenadora da graduação em Enfermagem da Unifor, Kiarelle Penaforte, ressalta, com orgulho, que avanços e inovações acontecem dia a dia, o que consolida o curso como dinâmico, assim como o mercado de trabalho.

“Estamos sempre atentos às necessidades desse mercado e, assim, seguimos adquirindo novas tecnologias de ensino, inserindo temas contemporâneos na nossa matriz curricular, equipando nosso laboratório de habilidades para criarmos ambientes de simulação realística o mais fidedignos possível, inserindo os alunos a partir do primeiro semestre nas práticas”, enumera.


O curso de Enfermagem conta com diversos ambientes de prática para a formação do seu corpo discente (Foto: Robério de Castro)

Fomentar formações para que o corpo docente esteja sempre atualizado e preparado para atender às necessidades da nova geração de alunos é também uma prioridade. Exemplo disso, na prática, é o apoio acadêmico oferecido aos estudantes no que diz respeito à saúde mental.

“Sabemos que uma boa orientação de como organizar o tempo para estudo, apoio psicológico quando necessário, facilidade no acesso à coordenação do curso e canais de comunicação efetiva também fazem parte da construção de um bom profissional, já que para ele ser considerado ‘competente’ é preciso ter três pilares fortes: conhecimentos, habilidades e atitudes”, analisa. 

Professora do curso desde 2015, Kiarelle também realiza na Unifor um sonho que surgiu ainda no segundo semestre como aluna na mesma Universidade: o da docência. Além das tantas características citadas por Vládia como garantidoras de uma formação de excelência, a coordenadora destaca também o Laboratório de Habilidades de Enfermagem (Laben), onde estudantes praticam todas as técnicas da profissão antes mesmo da chegada aos campos de prática.


“Contamos com várias salas com cenários realísticos de todos os ambientes das unidades de saúde, tanto na atenção primária quanto secundária e terciária. Isso favorece ao aluno vivenciar inicialmente, de forma realística, o que ele irá vivenciar brevemente de forma real. Essa antecipação favorece ao aluno maior segurança, destreza e habilidade antes de praticar com o paciente nos campos de prática”Kiarelle Penaforte, coordenadora do curso de Enfermagem da Unifor

“Tudo equipado conforme o aluno irá encontrar nos estágio curriculares e extracurriculares”, conta Kiarelle sobre o Laben. Além de muitas outras possibilidades, o Laboratório ainda dispõe de: 

  • salas de vacina,
  • salas de parto,
  • centro cirúrgico,
  • centro de material e esterilização,
  • enfermarias de adulto,
  • incubadoras neonatais,
  • salas de alojamento conjunto,
  • unidade de atendimento ao paciente crítico.

Diferença no mercado

No mercado de trabalho, a bagagem adquirida na Universidade faz a diferença. Que o diga a enfermeira Aline Medeiros, egressa da Unifor. Ainda adolescente, sempre que passava de ônibus em frente à instituição, dizia para si mesma: “ainda vou estudar aqui”. A escolha pela Enfermagem veio durante uma experiência profissional na Secretaria da Saúde do Ceará, quando trabalhou ao lado de enfermeiras e passou a admirar a profissão. 

O desejo adolescente virou realidade. Na Unifor, ela viu, na prática, a relevância do acompanhamento do corpo docente para a própria formação. Musicista desde a infância, Aline lembra, por exemplo, de quando uma professora usou da música para acalmá-la durante a execução de um curativo.

“No período de estágio, tinha muita dificuldade de chegar perto do paciente, tinha medo. Um dia, fui executar um curativo com as pinças, que não é uma tarefa fácil, e ela estava do meu lado. Viu que eu estava nervosa e começou a cantar perto de mim, baixinho, como forma de me tranquilizar”, recorda. Resultado: conseguiu fazer o curativo e guarda com carinho a lembrança até hoje.

Hoje coordenadora de enfermagem da emergência do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), a egressa considera que a Unifor prepara o aluno para ser um perito de excelência não apenas na dimensão técnica, mas também em relação à postura profissional. Aline diz que associa muito do que aprendeu na Universidade à rotina na assistência em saúde.


“Tem uma disciplina do internato em que a professora, a cada aula no campo de prática, que era no hospital, delegava uma líder. Éramos grupos de cinco e a líder tinha que fazer a divisão dos leitos para cada colega, e ali a gente já tinha que gerenciar aquele pequeno grupo. Já era um preparo”Aline Medeiros, enfermeira egressa do curso de Enfermagem da Unifor

Especialmente após os momentos mais críticos da pandemia de Covid-19, Aline acredita que a enfermagem ganhou mais visibilidade. O piso salarial, conquistado recentemente por lei, é para ela um reconhecimento da profissão, mas não deve parar por aí. “O mercado de trabalho está muito mais amplo do que antes. Agora, destacam-se aqueles profissionais que são diferenciados”, afirma.

+ Com mercado aquecido, profissional de enfermagem tem ampla atuação

Expectativas

Se Aline já vivencia tudo isso, para Deborah Leite, aluna do décimo e último semestre da graduação em Enfermagem, o momento é de expectativa para a colação de grau. Desde a metade do curso, ela vem afunilando experiências na área de saúde da mulher (ginecologia e obstetrícia) e projeta, desde já, a futura especialização.

“Como possuímos a disciplina de Gestão e Empreendedorismo na Enfermagem, me encontrei na ideia do empreendedorismo através do consultório de enfermagem e já estou realizando planejamento para implementar meu consultório em saúde da mulher”, planeja.

+ Empreendedorismo na enfermagem traz nova forma de valorizar a profissão

Já na reta final do curso, ela guarda como memória importante a cerimônia do internato em saúde coletiva, no nono semestre, quando viu fotos dos primeiros estágios, além de registros com colegas e professores que a acompanham desde o início da graduação. “Esse momento foi tão especial! Um mix de saudades, alegrias e expectativas”.

A entrega dos professores, acrescenta Deborah, é exemplo para quem está em formação. “A marca mais impactante que a Unifor me trouxe como aluna foi a forma como os profissionais da instituição se doam ao máximo pelo aluno”, considera.


“Além disso, a Universidade possui laboratórios muito bem equipados, materiais tecnológicos de ponta, professores mestres e doutores, e proporciona muitas oportunidades ao aluno”Deborah Leite, aluna do curso de Enfermagem da Unifor

Também no último semestre do curso, a aluna Thatiane Coelho tem outros planos, igualmente possíveis a partir das vivências na Unifor: quer fazer mestrado e se tornar pesquisadora, além de fazer um intercâmbio para a Europa. “Quem sabe levar uma pesquisa iniciada na Universidade e dar continuidade em um centro de pesquisa e estudos na Suíça”, relata.

Ao olhar para trás, Thatiane considera ter sido assertiva na escolha. Toda a dedicação exigida durante o curso já tem recompensa: para ela, a Unifor lhe deu segurança para entrar no mercado de trabalho.


“O padrão de ensino da universidade é elevado, os professores são qualificados e muito experientes. Sempre me senti muito segura, pois sempre tive certeza que estava estudando e me preparando para o mercado de trabalho dentro de uma Universidade com excelência no ensino”Thatiane Coelho, aluna do curso de Enfermagem da Unifor

Thatiane, Deborah e muitos outros alunos são os que, hoje, escrevem as próximas cenas de uma história de 50 anos. Para a aluna, cursar enfermagem é o maior desafio acadêmico já vivido, mas, antes mesmo da formatura, é possível dizer, com orgulho, que valeu a pena: “As trocas de conhecimento com o corpo docente me trouxeram sabedoria, amadurecimento e mais amor e admiração pela enfermagem”.