Especialistas em Mobilidade Urbana de 20 cidades visitam Fortaleza e elogiam intervenções de Segurança Viária

 

Por Lara Ferreira

Foram mais de dezessete sessões em sala de aula, visitas técnicas em campo, além de atividades em grupo. A última semana foi de intenso intercâmbio de experiências para cerca de 80 gestores e técnicos de mobilidade urbana de 21 cidades do país, incluindo de Fortaleza. Eles participaram do curso “Implementando programas eficazes de segurança viária: da evidência à prática” realizado pela primeira vez no Brasil através de uma parceria entre a Prefeitura de Fortaleza, a UNIFOR, Universidade Johns Hopkins (EUA), a Parceria Global pela Segurança Viária.

“Coletamos informações daquilo que foi acertado, que foi feito no trânsito de Fortaleza, para adaptar à nossa realidade. Aqui vemos que há estudos antes e depois das intervenções. O que percebemos nesses dias é que as implantações de desenho urbano não são feitas com base no ‘achismo’, mas em focos bem definidos, como a diminuição de acidentes com readequação de velocidade”, avaliou a  responsável pela área de Educação para o  Trânsito da Prefeitura de Campina Grande, Joana Santos. Também participaram representantes de cidades como São Paulo, Recife, Salvador, Teresina, Natal e também da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana do Ministério do Desenvolvimento Regional.

Além das palestras, o evento incluiu visitas de campo em intervenções e departamentos da Prefeitura de Fortaleza como a central de monitoramento e fiscalização da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), o corredor expresso de ônibus da Avenida Aguanambi, a Área de Trânsito Calmo no entorno do Hospital Infantil Albert Sabin e também uma blitz da Lei Seca. A ideia foi a de usar a cidade como um laboratório de análise de melhores práticas para promoção de soluções sustentáveis para o deslocamento urbano, prevenção de mortes e ferimentos no trânsito.

A intenção foi a de que os participantes pudessem ter a dimensão do problema que hoje é considerado uma epidemia de saúde pública pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - as mortes e ferimentos no trânsito e suas consequências para a sociedade, além de estratégias práticas para contornar o problema. O curso trouxe o tema da segurança viária à luz das áreas de saúde pública, economia, psicologia, engenharia de tráfego, comunicação estratégica, além da coleta e análise de dados para guiar soluções. “Esse é o caminho, é  pensar no multimodal, na proteção dos pedestres, na proteção pessoal, o uso do cinto de segurança, o uso do capacete, esse é o caminho”, comentou a representante da Prefeitura de Curitiba, Ana Rosa. 

Entre os facilitadores de destaque do curso estiveram o Dr. Abdulgafoor Bachani, diretor da John Hopkins International Injury Research Unit da JHU; a PhD Judy Fleiter, gerente mundial da GRSP, braço da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho para a segurança no trânsito; Luiza Amorim, gerente de Comunicação da Vital Strategies no Brasil, formada em comunicação e mídia na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Luiz Alberto Saboia,  secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza.

O curso original, com duração de duas semanas,  já teve 6 edições e reuniu 377 participantes de 57 de países em Bang-coque, na Tailândia, Nairóbi, no Quênia, em Buenos Aires, na Argentina, além de Baltimore nos EUA. A diretora mundial da Parceria Global pela Segurança Viária (GRSP, na sigla em inglês), PhD Judy Fleiter, avaliou como positiva a oportunidade e também o engajamento de todos os técnicos e gestores que participam do curso ao longo de toda a semana. “Aqui conseguimos perceber o que deu certo, mas também aprendemos o que não funcionou. Uma das coisas que todos os países passam é construíram cidades pensadas para carros e não para pessoas. Então cidade como Fortaleza, que se volta para pessoas, é um boa atitude para que as pessoas se sintam parte do espaço público”, afirmou.

Fortaleza foi escolhida para sediar o curso realizado pela primeira vez no país por conta dos resultados que vem alcançando na prevenção de mortes e ferimentos no trânsito. Ao longo de 2018 foram registrados 226 óbitos decorrentes de acidentes de trânsito em Fortaleza, um número 40% menor do que as 377 mortes em 2014. A taxa de mortalidade por 100 mil habitantes, usada para comparar os índices entre cidades e países de todo o mundo, caiu de 14,7 para 8,5 no mesmo período. Para se ter ideia, segundo a OMS, a taxa de mortes por 100 mil habitantes do Brasil em 2016 foi de 19,7. No mesmo período, a Suécia e a Dinamarca, consideradas referências mundiais, registraram respectivamente índices de 2,8 e 4,0 mortes por 100 mil habitantes.

“Essa foi uma experiência pioneira para Fortaleza e pro Brasil, em que conseguimos reunir representantes de 21 cidades do país para pensar em conjunto como prevenir mortes e acidentes de trânsito. Pudemos compartilhar juntos nossa experiência ao longo dos últimos anos e a nossa trajetória em Fortaleza para reduzir em 40% as fatalidades no trânsito nos últimos 4 anos. Queremos fazer mais e com uma rede de cidades engajadas  nesse propósito, acreditamos que é possível fortalecer o movimento nacional pela prevenção desses casos. É muito mais eficiente investir em prevenção!” pondera o secretário Luiz Alberto Saboia.

O curso contou com participantes de diversas áreas de atuação, como engenheiros de transportes, arquitetos e urbanistas, jornalistas e pesquisadores acadêmicos, por exemplo. Durante a cerimônia de diplomação do evento, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio lembrou aos participantes que o trabalho em mobilidade urbana sustentável é contínuo e disse que "não há nenhuma cidade perfeita, muito menos em dimensões complexas como mobilidade. A gente tem a consciência de que avançou muito e temos orgulho disso, mas também de que ainda há muito o que caminhar", disse.

Sobre a ‘Global Road Safety Partnership’ (GRSP)

A Parceria Global de Segurança Viária (tradução livre para Global Road Safety Partnership), braço da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, é baseada na sede da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICR), em Genebra, na Suiça. A instituição tem colaboradores com base na China, Vietnã, Camboja, Tailândia, Austrália, Brasil, México, Rússia, África do Sul e Líbano. O objetivo da GRSP é criar e apoiar parcerias de segurança viária multisetoriais que estão envolvidas com intervenções de segurança viária de primeira linha em países e comunidades em todo o mundo.

Sobre a "Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health"

A Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health (Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, em tradução livre) é uma das parceiras da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária na área de pesquisa, coleta e análise de dados relacionados aos acidentes de trânsito. A instituição, um dos braços da renomada da Universidade Johns Hopkins, com sede em Baltimore, nos Estados Unidos, é referência internacional em saúde pública, colaboradora certificada da Organização Mundial da Saúde (OMS) e conta com pesquisadores laureados com o Prêmio Nobel 27 vezes. Mais informações estão disponíveis em www.jhsph.edu  (em inglês).

Sobre o curso

“Implementando programas eficazes de Segurança Viária: da evidência à prática” foi inspirado no curso Global Road Safety Leadership, realizado pela Universidade Johns Hopkins em conjunto com a Parceria Global pela Segurança Viária com uma abordagem multidisciplinar para os diferentes aspectos na área de segurança no trânsito. O evento teve o apoio de diversas organizações internacionais que além dos organizadores incluem também a Iniciativa Global de Desenho de Cidades da National Association of City Transportation Officials (NACTO, EUA), Vital Strategies (EUA), além de especialistas da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global.

Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global

A política de segurança viária desenvolvida pela Prefeitura de Fortaleza é apoiada pela Bloomberg Philanthropies por meio de um programa de segurança viária, a "Iniciativa Bloomberg para Segurança Viária Global". Em 2015 a capital cearense foi uma das dez cidades contempladas com o projeto e hoje conta com uma equipe de técnicos especializados, além de uma rede internacional de organizações, que dão suporte as ações do poder público municipal em melhorias no gerenciamento de dados, infraestrutura, fiscalização, educação e comunicação.  

Em todo o mundo estão participando do mesmo projeto as cidades de Accra, em Gana, Adis Abeba, na Etiópia, Bandung, na Indonésia, Bangkok, na Tailândia, Bogotá, na Colômbia, Ho Chi Minh, no Vietnã, Shanghai, na China, Mumbai, na Índia além de Fortaleza e São Paulo, no Brasil.