Fortaleza: referência global em segurança no trânsito
Foto Ares Soares
22 de Fevereiro de 2019 15:41
“Poucas são as cidades no mundo que tem conseguido alcançar uma redução tão significativa na redução de mortes no trânsito”. A declaração é da representante da equipe de saúde pública da fundação norte-americana Bloomberg Philanthropies, Becky Bavinger, que participou da VI edição do Fórum do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza. O evento, realizado no dia 19/02 no Teatro Celina Queiroz da Universidade de Fortaleza, veio logo em seguida ao anúncio da Prefeitura da cidade de uma redução de 40% no número de mortes causadas por acidentes de trânsito entre 2014 e 2018.
A pauta do Fórum do OSV reuniu especialistas dos Estados Unidos, Canadá e da França, além de referências locais em segurança no trânsito para discutir as metas traçadas pela Organização das Nações Unidas (ONU) que em 2010 criou a Década de Ação pela Segurança Viária. O objetivo era reduzir as mortes provocadas pelo trânsito em 50% até 2020, índice que ainda parece distante de acordo com o Relatório de Status Global em Segurança Viária, divulgado pela OMS em dezembro do ano passado - segundo a OMS, o número de óbitos em ruas e avenidas de todo o globo estabilizou, ao invés de diminuir.
Em Fortaleza, no entanto, os esforços de prevenção aos acidentes de trânsito promoveram resultantes expressivos. Ao longo de 2018 foram registradas 226 mortes decorrentes de acidentes de trânsito, um número 40% menor do que os 377 óbitos anotados pelas autoridades de trânsito e saúde em 2014. O levantamento também mostra que, em relação ao ano anterior, a queda nas fatalidades foi de 12%. O resultado conquistado por Fortaleza é fruto de uma estratégia que combina esforços de fiscalização, campanhas educativas, melhorias na coleta e análise de dados e também na engenharia e redesenho de ruas e avenidas.
De acordo com o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos, Luiz Alberto Saboia, que apresentou os dados durante o Fórum, graças as intervenções e estratégias de segurança viária que vem sendo implementadas desde o início da gestão, cerca de 423 pessoas deixaram de morrer em acidentes que puderam ser prevenidos. “Essa projeção mostra a importância das ações que temos implementado em Fortaleza desde 2014. Essas pessoas que hoje estão junto de suas famílias, produzindo e participando ativamente da sociedade, teriam morrido se nada fosse feito. É urgente seguirmos implementando ações de prevenção aos acidentes para seguir salvando vidas” explica.
O levantamento realizado pela Prefeitura de Fortaleza também identificou que os homens representam 83,2% do total de vítimas que perderam a vida no trânsito. Entre os usuários que lideram o ranking, estão motociclistas e pedestres, com 45,6% e 39,8% respectivamente. Uma das reduções mais expressivas de fatalidades foi entre usuários de veículos de duas rodas, que registrou queda de 21%, com uma redução acumulada de 30,4% se analisado o período desde 2016. A faixa etária que vai de 30 à 59 anos concentra a maior parte dos óbitos, com 49,1% do total de mortes registradas.
A trajetória e os resultados que a cidade tem conquistado foram discutidos durante o encontro que trouxe ao debate a especialista em projetos de segurança viária da fundação norte americana Bloomberg Philanthropies, Becky Bavinger. Ela é responsável por monitorar e acompanhar projetos para prevenção de mortes e feridos no trânsito em uma rede de 10 cidades ao redor do globo. A Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global atua desde 2015 na capital cearense oferecendo apoio técnico e financeiro para prevenção de acidentes. Também participam da discussão a coordenadora de projetos da ONG norte-americana Vital Strategies, Sylviane Ratte e também a consultora e mestre em saúde pública da mesma instituição, Sara Whitehead; a secretária adjunta de saúde de Fortaleza, Ana Estela Leite; o secretário executivo de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza, Luiz Alberto Saboia e o deputado estadual do Ceará, Queiroz Filho.
Em todo o mundo, cerca de 1,35 milhão de pessoas morrem em consequên-cia de acidentes de trânsito e 93% dessas vítimas fatais perdem a vida em países em desenvolvimento, como o Brasil segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em todo o país, 41 mil pais, mães, filhos e filhas morreram em acidentes que po-deriam ter sido evitados, ainda segundo a OMS. O cálculo da instituição é de que os acidentes de trânsito custam para a maioria dos países aproximadamente 3% do seu Produto Interno Bruto (PIB). Sem uma ação contínua, a agência da ONU prevê que os acidentes no trânsito poderão se tornar a sétima principal causa de morte até 2030.
O Relatório de Status Global da OMS sobre segurança no trânsito 2018 destaca que agora o principal responsável pela morte de crianças e jovens com idade entre 5 e 29 anos em todo o mundo são os acidentes de trânsito. "Essas mortes são um preço inaceitável a pagar pela mobilidade", disse o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Não há desculpa para inação. Este é um problema com soluções comprovadas. Este relatório é uma chamada para governos e parceiros para tomar medidas muito maiores para implementar essas medidas”.