Impacto de lesões no trânsito pode diminuir com engajamento

 

Quinta-feira, 27 Agosto 2018 15:00
Por Lara Montezuma

As lesões consequentes dos acidentes no trânsito são um problema de saúde pública e trazem efeitos prejudiciais à sociedade. Foi o que o Phd em saúde pública pela John Hopkins University, Abdulgafoor M. Bachani, afirmou durante o IV Fórum do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza. O evento aconteceu na última quinta (21), na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), e teve como tema “Acidentes de trânsito: uma epidemia de saúde pública”.

Abdulgafoor, que também é diretor da John Hopkins Injury Research Unit, afirmou que existem dois tipo de lesões, as que são intencionadas, como a automutilação, e as que não são, categoria na qual os acidentes estão enquadrados, assim como queimaduras e quedas. De acordo com dados da instituição, 3.600 mil pessoas são mortas por dia no trânsito sendo, em média, uma pessoa morta a cada 24 segundos.

Entretanto, quando o PIB do país é maior, a probabilidade é que ocorra o aumento dos acidentes e a diminuição das mortes. Em países de média e alta renda, a quantidade de mortos no trânsito diminui, aproximadamente, duas vezes em relação aos países de baixa renda. Apesar dos países de baixa renda terem acesso a apenas 54% dos veículos no mundo, eles sofrem 90% do total de mortes no trânsito - e o Brasil se insere nesse contexto. A diferença pode ser atribuída, principalmente, a medidas referentes à segurança viária em locais que priorizam ações em prol da prevenção de mortes nas vias, como fiscalização, desenho urbano, campanhas de conscientização e coleta e análise de dados que orientem tecnicamente todas essas intervenções.

Medidas estratégicas para alcançar soluções

A severidade dos acidentes depende de uma série de fatores, como a energia cinética dissipada, do formato dos objetos que colidem e a tolerância de quem é atingido. Já o impacto das lesões dependem, principalmente, das medidas pós-acidente e da reabilitação. Caso a vítima não seja tratada da maneira correta, a dimensão dos prejuízos podem ser maiores. Por exemplo, no caso de um acidente, além das consequências físicas e psicológicas, o indivíduo terá que se ausentar do trabalho, o que pode gerar falta de produtividade e impactar diretamente na economia na qual está inserido.

Além da influência direta no ciclo social do acidentado, as lesões não tratadas também causam mudanças significativas no contexto no qual ele está inserido. Os custos diretos abrangem a saúde, os serviços de emergência, de leis de fiscalização e jurídicos. Já os indiretos tratam, entre outros, de mortes prematuras, perda de qualidade de vida e de desenvolvimento econômico. Consequentemente, estes países podem ter melhores números em assuntos diretamente ligados ao trânsito, como a poluição.

Mas o que é necessário para que esta realidade mude?  Segundo Abdulgafoor, “a mudança de comportamento é extremamente complexa. Não há um primeiro passo, ou passo mais importante, que você possa fazer para mudar esse comportamento. Você precisa de ações diferentes acontecendo ao  mesmo tempo”, afirma. Também é preciso investir dinheiro, instigar o interesse governamental e buscar engajar profissionais com diferentes interesses. Ao utilizar o uso do capacete para exemplificar como essa mudança pode acontecer, o PhD em saúde pública pontua o saber como uma das principais ferramentas. “O conhecimento tem que ser repassado de maneira objetiva, para que as pessoas possam entender e se identificar”, explica.

O profissional ainda ressaltou que, apesar dos avanços, não estamos onde necessitamos estar quando trata-se de segurança viária. Ele mencionou o plano de ação global lançado em 2011 pela Organização das Nações Unidas (ONU), chamado de Década de Ação pela Segurança no Trânsito 2011-2020, que para ser potencializado deve utilizar da liderança e força de ação, pois já “sabemos o que funciona” na teoria, mas cada lugar precisa estudar o seu contexto e adaptar as soluções ao seu contexto.

 

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