Trânsito é a principal causa de morte entre crianças e jovens
13 de Fevereiro de 2019 16:08
Por Yasmim Rodrigues
Um novo relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que os acidentes de trânsito matam, todos os anos, cerca de 1,3 milhão de pessoas em todo o globo - e já são a principal causa de morte entre crianças e jovens de 5 a 29 anos de idade. O Relatório de Status Global em Segurança Viária mostra também que, além da tragédia humana e social, a quantidade de casos também representa um grande transtorno para a economia dos países com custo estimado de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).
Em algumas regiões do mundo como as Américas, a Europa, o Pacífico Ocidental e outros 48 países de renda média e alta houve declínio na quantidade de mortes no trânsito, mas o mesmo não ocorre na África, Ásia e alguns países da América Latina. “Segurança viária é um problema que não chega nem perto de receber a atenção que merece - e realmente é uma das nossas grandes oportunidades para salvar vidas ao redor do mundo” afirma o fundador e CEO da Bloomberg Philantrophies e, também, embaixador da ONU de doenças não transmissíveis e lesões, Michael Bloomberg.
Apesar do aumento no número de mortes, as taxas de mortalidade relativas ao tamanho da população mundial se estabilizaram. O relatório aponta que certas medidas contribuem para a redução de mortes. Nos locais em que houve progresso, o sucesso é frequentemente atribuído a uma melhor legislação em torno de problemas como: excesso de velocidade, beber e dirigir, não uso do cinto de segurança, não uso ou uso inadequado do capacete para motociclistas, não uso de cadeirinhas ou assentos para crianças e também a melhorias de desenho urbano, como por exemplo calçadas e infraestrutura cicloviária.
Experiências na América Latina dão exemplo
Em alguns lugares da América Latina existem melhorias notáveis. “Medellín, na Colômbia, é um exemplo de transporte sustentável integrado a políticas de desenvolvimento social. A meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustável 11.2 parece ter na cidade colombiana uma prova cabal da sua viabilidade,” afirma o consultor de segurança no trânsito da OPAS/OMS no Brasil, Victor Pavarino.
Para ele, as iniciativas mais eficazes no combate a mortes e lesões no Brasil, são aquelas baseadas na qualificação da informação para fundamentar intervenções e integração intersetorial. “Destacaria ainda as medidas que, sem deixar de reconhecer a importância de iniciativas de educação e fiscalização, priorizam os aspectos da infraestrutura e do desenho urbano que, em última análise, são determinantes para o comportamento que desejamos ver nas vias”. De acordo com o representante da OPAS/OMS no Brasil construir espaços de circulação que em seu desenho limitem a velocidade dos veículos, por exemplo, pode garantir o cumprimento efetivo de limites definidos por uma legislação e informados em campanhas educativas.
Os motociclistas ainda são as maiores vítimas fatais de acidentes de trânsito e, de acordo com Victor Pavarino, uma formação rigorosa dos condutores é fundamental para prevenir acidentes com motocicletas “O crescimento exponencial da frota nas Américas desde os anos 1990 se dá, em boa medida, pela falta de uma resposta adequada para uma crescente demanda por mobilidade e as necessidades de transporte não atendidas. Não podemos Ignorar e deixar de agir sobre os fatores estruturantes dessa situação.”
Fortaleza busca superar paradigmas e se tornar referência
Nos últimos 4 anos o número de mortes no trânsito em Fortaleza caiu 40%, de acordo com a Prefeitura da cidade. Os índices de segurança viária têm melhorado consideravelmente ao longo dos anos. “De 2014 para 2017 houve um redução firme nesse tipo de acidente [de trânsito]. Ainda não é o suficiente, mas é uma redução, a meu ver, significativa e principalmente sustentável, duradoura, a qual veio a partir de um compromisso político muito forte no sentido de equipar tecnicamente os diversos setores da prefeitura que trabalham com o tema” avalia o professor do departamento de engenharia de transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC) e PhD em engenharia civil, Flávio Cunto. “Cabe dizer ainda que, por incrível que pareça, essa redução aconteceu com intervenções de baixo custo, como redução de velocidade em algumas vias e reforços em infraestrutura para pedestres e ciclistas” destaca.
Em Fortaleza os desafios também se encontram no âmbito político. “Precisamos consolidar a segurança viária na agenda política das próximas gerações. De forma mais específica, é preciso avançar na agenda e se concentrar também nas vítimas feridas”, aconselha o professor Flávio Cunto.
A Prefeitura de Fortaleza anunciou em 2018 que o plano de segurança viária está sendo desenvolvido baseado no conceito de “Visão Zero”, que de acordo com o professor universitário é um paradigma já consolidado em vários países europeus como a Suécia, Holanda e Noruega. “Esse paradigma de segurança viária em linhas gerais, considera inaceitável que existam acidentes com vítimas fatais ou seriamente feridas.”
O conceito de Sistemas Viários seguros foi apresentado pela primeira vez na Europa, durante a década de 1990 e desde então vem ganhando adeptos em diversos países do continente, além da Austrália, Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Colômbia, além de vários outros. A cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos, também anunciou na mesma época, a adoção do conceito de que os sistemas viários devem prever que todos os usuários, condutores ou não, são suscetíveis de erros no trânsito que podem levar à acidentes, com mortos e feridos. A partir dessa premissa, toda a lógica de desenho das ruas, fiscalização e mesmo de responsabilidade do poder público e sociedade civil passa a ser orientada para evitar os conflitos nas ruas que, potencialmente, podem gerar vítimas.
O professor defende que, ao adotar o conceito de Visão Zero como premissa básica em seu plano, Fortaleza se apresenta em posição de vanguarda e líder na busca por um sistema de transporte sustentável e de equidade. “Trata-se de uma decisão que irá impactar de forma positiva a segurança viária por várias gerações, que coloca o tema como plano de estado e certamente vai resgatar a qualidade de vida de nossas viagens do dia a dia.”
Saiba mais:
Relatório de Status Global de Segurança Viária da OMS
Conheça as estatísticas de segurança no trânsito em Fortaleza