Pesquisa Unifor: Estudo analisa uso do aplicativo Renal Health por pacientes em tratamento de hemodiálise
seg, 29 julho 2024 19:01
Pesquisa Unifor: Estudo analisa uso do aplicativo Renal Health por pacientes em tratamento de hemodiálise
O uso de aplicativos na área da saúde se destaca por sua aceitabilidade e potencial como estratégia de autocuidado
A Doença Renal Crônica (DRC) é um problema de saúde pública significativo em todo o mundo, possuindo uma prevalência crescente devido ao aumento de outras enfermidades, como diabetes e hipertensão, principalmente. No entanto, há certos obstáculos para aqueles que convivem com essa condição médica, sendo um deles o acesso ao cuidado adequado.
Nesse contexto, a enfermeira nefrologista Analayde Lima de Azevedo, egressa do Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem (MPTIE) da Universidade de Fortaleza, produziu o artigo “Renal health: Evaluation of the spontaneous use of a new m-health technology and validation of its content to support patients undergoing peritoneal dialysis”.
A pesquisa (“Renal Health: Avaliação do uso espontâneo de uma nova tecnologia mHealth e validação de seu conteúdo para suporte a pacientes em diálise peritoneal”, em tradução livre) avalia o uso do aplicativo Renal Health para pacientes em hemodiálise, além de validar conteúdo para apoiar aqueles em diálise peritoneal.
Esse software é um exemplo de tecnologia mobile health (mHealth), que tem ganhado espaço nos últimos anos devido a sua facilidade de prestar serviços de saúde e promover informações fundamentais para os pacientes.
“Embora as soluções mHealth existentes tenham demonstrado eficácia no apoio a pacientes com DRC, o desenvolvimento de uma seção dedicada dentro do aplicativo Renal Health, adaptada especificamente para pacientes com diálise peritoneal, representa uma inovação significativa neste domínio” — Analayde Lima, enfermeira nefrologista e egressa do MPTIE
Além de Analayde, também participaram da produção do artigo professores e alunos do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) e do MPTIE, ambos da Unifor.
Métodos
Para desenvolver o trabalho, os pesquisadores dividiram o estudo em duas etapas. A primeira consistia na avaliação do uso espontâneo do aplicativo pelo paciente. Já a segunda, abrangia pesquisa metodológica para o desenvolvimento, avaliação e aprimoramento de um instrumento tecnológico para uso na prática clínica como suporte a pacientes em diálise peritoneal (DP).
A equipe examinou o uso do software de julho de 2018 a março de 2021, envolvendo 757 usuários ativos que usaram o aplicativo voluntariamente. A análise se concentrou no perfil sociodemográfico dos usuários e na intenção de usar recursos específicos na seção de hemodiálise, como ingestão de água, controle de peso e exames laboratoriais (cálcio, fósforo e potássio).
O aplicativo Renal Health foi desenvolvido por professores, pesquisadores e alunos da Universidade de Fortaleza (Imagem: Divulgação)
A etapa de pesquisa ocorreu no laboratório Vortex, da Unifor, que serviu como um espaço para projetar, desenvolver e testar o instrumento tecnológico. Os pacientes foram convidados pessoalmente durante suas visitas de tratamento e forneceram autorização assinada para participar da avaliação de usabilidade do aplicativo.
Além dessas ações, um grupo de dez especialistas/pesquisadores, chamados de juízes, foram convidados a validar o conteúdo a ser incorporado ao aplicativo Renal Health.
Resultados
Os pesquisadores concluíram, ao fim do estudo, que a seção de hemodiálise do aplicativo Renal Health despertou interesse na população, sendo o ganho de peso e a ingestão hídrica os principais recursos utilizados. A seção de DP foi validada por especialistas, podendo ser uma estratégia auxiliar para dar suporte ao tratamento de pacientes em DP e que precisa ser avaliada na prática clínica, no acompanhamento dessa população.
Dessa forma, o aplicativo Renal Health mostra-se como uma ferramenta valiosa tanto para pacientes em hemodiálise quanto para aqueles em diálise peritoneal, promovendo um melhor gerenciamento da saúde e oferecendo suporte contínuo. A implementação e a avaliação contínua na prática clínica são passos essenciais para garantir que essa tecnologia possa contribuir de forma significativa para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes renais.
Karla Rolim, docente do Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem (MPTIE), também participou da produção do artigo. Ela enfatiza que o estudo introduziu inovação ao substituir os registros em papel por uma plataforma digital na seção de controle.
“O aplicativo permite aos pacientes gerarem relatórios mensais abrangentes com representações gráficas em formato PDF. Ele também oferece recursos de controle como alarmes, temporizadores e notificações para gerenciamento de sessões, lembretes de medicamentos e compromissos ou exames. Essa integração de tecnologia visa agilizar e melhorar a experiência de diálise para os pacientes” — Karla Rolim, professora do MPTIE da Unifor
Da graduação à inovação em terapias renais
Analayde começou a demonstrar interesse pela pesquisa renal ainda durante a graduação em enfermagem, no terceiro semestre, enquanto cursava a disciplina de Metodologia Científica. Motivada por um parente que realizava hemodiálise, decidiu focar seu trabalho na Doença Renal Crônica (DRC).
Sua monografia abordou a DRC e suas comorbidades em pacientes diabéticos, tema escolhido devido ao estágio extracurricular que realizou, no qual permaneceu até a conclusão da graduação. Após a formatura, foi efetivada e seguiu carreira como enfermeira nefrologista, com especialização na área.
Ao longo de suas experiências na nefrologia, Analayde trabalhou com hemodiálise, diálise peritoneal (DP) e transplante renal. Em 2010, foi aprovada em um processo seletivo para trabalhar em uma multinacional do setor renal.
Durante seu tempo no MPTIE da Unifor, ela desenvolveu um projeto para criar um aplicativo destinado a pacientes renais em DP. Este projeto foi aceito para complementar a aba de DP do aplicativo Renal Health, um produto de pesquisa da Dra. Juliana Oliveira e do Dr. Geraldo Bezerra, que acabou gerando o artigo desenvolvido pela enfermeira.
“Um estudo longitudinal mostrou o impacto positivo de um aplicativo educacional na autoeficácia e no autocuidado em pacientes em hemodiálise, enfatizando a necessidade educacional de longo prazo nas intervenções. Melhorar as competências de literacia em saúde é crucial, especialmente para pacientes culturalmente diversos, uma vez que a baixa alfabetização em saúde está associada a resultados adversos para a saúde”, enfatiza Analayde.
Publicação Internacional
O artigo será publicado em setembro de 2024 na International Journal of Medical Informatics, que fornece um meio internacional para a disseminação de resultados originais e revisões interpretativas no campo da informática médica, com ênfase na avaliação de sistemas em ambientes de assistência médica. Esse periódico possui CiteScore de 8.9 e Fator de Impacto de 3.7.
A revista busca cobrir uma ampla gama de tópicos, incluindo sistemas de informação de saúde, sistemas de suporte à decisão médica, programas educacionais baseados em computador relacionados à informática médica ou medicina em geral, e os aspectos organizacionais, econômicos, sociais, de impacto clínico, éticos e de custo-benefício das aplicações de TI na área da saúde.
