Entrevista Nota 10: Mônica Studart e a enfermagem no cenário da doação e transplante de órgãos

seg, 2 setembro 2024 14:18

Entrevista Nota 10: Mônica Studart e a enfermagem no cenário da doação e transplante de órgãos

Nova coordenadora da Doe de Coração fala sobre o papel da enfermagem na área de doação e transplante de órgãos e tecidos, além de comentar sobre as ações da campanha deste ano


Além de professora doutora da Unifor, Mônica é enfermeira assistencial e coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes do HGF (Foto: Ares Soares)
Além de professora doutora da Unifor, Mônica é enfermeira assistencial e coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes do HGF (Foto: Ares Soares)

No mês de conscientização e incentivo para a doação de órgãos, marcado pelo movimento nacional Setembro Verde, a Fundação Edson Queiroz (FEQ) promove há mais de 20 anos a campanha Doe de Coração. Criada em 2003, a iniciativa busca estimular a doação de órgãos e tecidos no Ceará por meio da divulgação de informações e ações sociais sobre a importância de doar para salvar vidas.

Em 2024, a campanha chega em sua 22ª edição com a missão de contribuir para o aumento da taxa de transplantes no Estado, beneficiando o maior número possível de pessoas que se encontram nas filas à espera de doação de órgãos. E para coordenar a Doe de Coração, são convidados profissionais especialistas para liderar os planos e atividades de conscientização.

A enfermeira assistencial da Unidade de Terapia Intensiva (Alta Complexidade em Transplante) e coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), Mônica Studart, é um exemplo disso. Ela está à frente da campanha deste ano e se diz honrada ao assumir esta grande responsabilidade.

“Surgiu como uma oportunidade de unir minha experiência prática e acadêmica com a necessidade de sensibilizar a comunidade sobre a importância da doação de órgãos”, declara a também professora doutora do curso de Enfermagem e do Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza – instituição mantida pela FEQ e parceira da Doe de Coração.

Graduada pela Unifor, Mônica é especialista em Nefrologia pela Universidade Federal do Maranhão e em Médico Cirúrgico pela Universidade Estadual do Ceará (Uece). Ela possui mestrado e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC), além de ser docente dos cursos de Especialização em Enfermagem em Terapia Intensiva da Unifor e de Especialização em Nefrologia da Uece.

Na Entrevista Nota 10 desta semana, ela fala sobre o papel da enfermagem na área de doação e transplante de órgãos e tecidos, além de comentar sobre as ações da campanha Doe de Coração deste ano.

Confira na íntegra a seguir.

Entrevista Nota 10 — O que te motivou a estudar e atuar com transplantes no âmbito da enfermagem?

Mônica Studart — Minha motivação para atuar na área de transplantes surgiu pela complexidade e inovação envolvidas neste contexto, pois representam um desafio que me fascina e me impulsiona a buscar continuamente o aprimoramento das práticas e técnicas na área. O impacto direto que podemos ter na vida dos pacientes e das suas famílias é inestimável, e a satisfação de ver alguém recuperar a saúde e a vitalidade é a maior recompensa para qualquer profissional de saúde.

Entrevista Nota 10 — Poderia explicar brevemente o papel da enfermagem na sensibilização e nos cuidados que envolvem a doação e recepção de órgãos?

Mônica Studart — Na enfermagem, temos um papel crucial em todas as fases do processo de doação e transplante. No aspecto da sensibilização, trabalhamos para educar a comunidade sobre a importância da doação de órgãos, ajudando a superar mitos e inseguranças que podem existir. Em termos de cuidados, os enfermeiros estão envolvidos na avaliação e preparo dos pacientes para o transplante, monitoramento pós-operatório, e no suporte emocional e educacional para os pacientes e suas famílias. Nossa atuação é fundamental para garantir que o processo seja seguro e que os pacientes recebam o melhor cuidado possível.

Entrevista Nota 10 — Além de ser enfermeira assistencial da Unidade Pós Operatória de Alta Complexidade de Transplantes no HGF, lá você também é coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes. Essas duas funções se complementam de alguma maneira? O HGF possui atribuições importantes no cenário local e nacional de transplantes atualmente?

Mônica Studart — Sim, as duas funções se complementam de forma significativa. Como enfermeira assistencial, estou diretamente envolvida no cuidado ao paciente, o que me proporciona uma visão prática e detalhada dos desafios e necessidades dos transplantados. Por outro lado, como coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes, tenho a oportunidade de formar novos profissionais e influenciar a qualidade do cuidado que será oferecido no futuro.

O Hospital Geral de Fortaleza (HGF) desempenha um papel de destaque tanto local quanto nacionalmente. Localmente, somos um centro de referência para transplantes complexos, oferecendo tratamentos avançados e suporte especializado. Nacionalmente, contribuímos para a formação de profissionais e para o avanço das práticas e protocolos no campo dos transplantes, além de participar ativamente em redes de cooperação e pesquisa.

Entrevista Nota 10 — De janeiro a setembro de 2023, o Brasil realizou 6.766 transplantes de órgãos, alcançando o melhor resultado dos últimos dez anos no país. A que se deve esse crescimento? Isso vem apenas de evoluções médicas e tecnológicas ou o trabalho em outros campos do conhecimento também influenciam?

Mônica Studart — Esse crescimento é resultado de uma combinação de fatores. A evolução médica e tecnológica, sem dúvida, tem um impacto significativo, com melhorias nas técnicas cirúrgicas, na imunossupressão e nos cuidados pós-operatórios. No entanto, o aumento no número de transplantes também reflete um avanço na organização e na logística dos sistemas de doação e transplante, como o fortalecimento das redes de captação de órgãos e a conscientização da população sobre a importância da doação. O trabalho contínuo em educação, campanhas de sensibilização e a colaboração entre instituições de saúde também têm sido fundamentais para esse progresso.

Entrevista Nota 10 — Você é a nova coordenadora da campanha Doe de Coração neste ano. Como surgiu o convite? O que ele representa para você enquanto profissional da saúde, especialmente sendo atuante no âmbito de transplantes, e cidadã?

Mônica Studart — O convite para coordenar a campanha Doe de Coração partiu da direção do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Unifor. Foi uma honra e uma grande responsabilidade. Surgiu como uma oportunidade de unir minha experiência prática e acadêmica com a necessidade de sensibilizar a comunidade sobre a importância da doação de órgãos. Para mim, como profissional de saúde e cidadã, essa campanha representa um compromisso com a promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida das pessoas. É uma chance de contribuir para uma causa que pode salvar vidas e de engajar a sociedade em um esforço coletivo para aumentar a taxa de doações.

Entrevista Nota 10 — A Doe de Coração segue promovendo ações sociais de conscientização da população, desta vez com a participação de alunos dos cursos da área de saúde e das Ligas Acadêmicas de Medicina da Unifor. Qual a importância de levar os estudantes para uma frente de sensibilização junto à sociedade? De que forma isso beneficia tanto a formação deles quanto o povo e a doação de órgãos? 

Mônica Studart — Incluir estudantes e Ligas Acadêmicas na campanha é essencial por várias razões. Primeiro, eles são futuros profissionais da saúde e, portanto, têm um papel crucial na promoção e prática da doação de órgãos. Ao envolvê-los, garantimos que eles compreendam a importância desse tema desde o início de sua formação e estejam preparados para atuar como agentes de mudança em suas futuras carreiras.

Além disso, essa participação proporciona aos estudantes uma experiência prática em comunicação e sensibilização, habilidades importantes para qualquer profissional de saúde. Para a sociedade, a presença de jovens envolvidos nas campanhas ajuda a alcançar uma audiência mais ampla e diversificada, promovendo uma cultura de doação e aumentando o número de doadores potenciais.