seg, 2 setembro 2024 10:53
Começa a campanha Doe de Coração
Fundação Edson Queiroz, que realiza a iniciativa há mais de 20 anos, e Universidade de Fortaleza promovem ações de incentivo à doação de órgãos e tecidos no mês de setembro
Lucineide do Nascimento Ferreira sempre teve muita vontade de viver. A família dela nunca entendeu direito por que seu corpo inchava tanto na infância, até que, aos 10 anos, ela descobriu que seus rins estavam falhando. A causa, no entanto, nunca foi descoberta.
Os medicamentos já não davam conta de desinchar o corpo da menina, e Lucineide passou a fazer sucessivas e dolorosas sessões de hemodiálise. Um ano depois, soube que precisaria de um transplante. Como a irmã que morava em Fortaleza não era compatível, entrou para a fila à espera de um rim.
Sem encontrar um doador, Lucineide conta que demorou 15 anos para conseguir, de fato, realizar a cirurgia. O momento chegou quando uma irmã que vivia no interior se mudou para Fortaleza e, após acompanhá-la no tratamento, decidiu fazer os exames e descobriu que era compatível. “Eu tinha muita garra e muita vontade de viver”, conta Lucineide.
Realizar o transplante, para ela, veio com a responsabilidade de valorizar ao máximo uma segunda chance de viver. Vida, para ela, é poder sentir o prazer de tomar um copo d'água – algo tão simples na vida cotidiana, mas impossível aos pacientes em tratamento com hemodiálise. O sonho, diz, é agora poder atuar para que pacientes como ela deixem as macas dos hospitais e tenham também uma segunda oportunidade.
É por isso que, 28 anos depois de receber o transplante de rim, Lucineide está envolvida com a campanha Doe de Coração, realizada há mais de duas décadas pela Fundação Edson Queiroz para conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos e tecidos.
Todos os anos, durante o mês de setembro, a Doe de Coração reúne pacientes, profissionais de saúde e artistas para alertar a sociedade sobre como a decisão de doar órgãos e tecidos pode salvar vidas.
Com uma programação que agora amplia seu alcance com uma série de eventos virtuais e presenciais, a campanha inclui apresentações culturais, mostra artística, prestação de serviços em saúde e distribuição de materiais informativos. A ideia é mobilizar toda a sociedade, de diversas formas, para esta causa que tem despertado uma verdadeira corrente de solidariedade nas últimas décadas.
Testemunhar para salvar vidas
“Eu já estou transplantada, mas tem muitos colegas que não estão. A minha história é um incentivo para as pessoas doarem, porque alguém me devolveu a vida. Sou a prova viva de que doar vale a pena”, afirma Lucineide, que hoje tem 56 anos.
Para ela, o movimento Doe de Coração tem potencial de causar um grande impacto, já que reúne de pacientes a profissionais de saúde para ajudar a população a pensar na importância de doar e na esperança que é a possibilidade de receber um órgão. “A campanha toca o coração das pessoas”, acredita.
“Depois do transplante, eu percebi que nasci de novo. Ele me trouxe liberdade de viver, de sorrir, de caminhar, de viajar. É uma vida nova. O transplante me deu a possibilidade de realizar meus sonhos” — Lucineide do Nascimento, paciente que recebeu transplante de rim
Lucineide lembra bem da vontade de tomar água na infância, quando tinha este desejo negado por conta das repetitivas sessões de hemodiálise. “Já pensou em negar água para uma criança? Pra mim, a liberdade de tomar água é voltar a viver. Tenho agora um mundo novo para seguir. Eu me apaixonei pela vida, pelas coisas mais simples”, conta.
A busca pela liberdade a levou a encarar seu testemunho como uma missão para conscientizar as pessoas. “Hoje o meu maior sonho é viver, conseguir seguir em frente, mas também ajudar para que as minhas colegas consigam o seu tratamento. Que tenha mais doação de órgãos. Sonho com todos [os pacientes] fora da maca, com uma vida nova para todos”, resume.
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A emoção de receber um “sim” para viver
“Receber o sim de alguém é um milagre que, como eu costumo dizer, salva não só a gente, mas a nossa família inteira”, diz a jornalista Marina Alves, egressa da Unifor. Ela ainda tentava assimilar o diagnóstico de um tipo grave de linfoma, quando soube que precisaria entrar na fila para um transplante de medula óssea.
Ela conta que receber o diagnóstico da doença foi muito difícil, mas saber da necessidade do transplante adicionou mais angústia à situação. “Você fica imaginando: será que vai ter alguém em algum lugar que vai ser compatível comigo? Alguém vai ser solidário a ponto de me doar? Alguma família vai dizer sim pra que eu consiga sair dessa?”, lembra.
Marina diz que era difícil acreditar que encontraria alguém compatível e disposto a doar uma parte de si para salvar sua vida. Por isso, perguntava repetidas vezes aos médicos se já havia aparecido um potencial doador.
Uma profissional do hospital chamada Lumara parecia fisicamente com ela e costumava levar ao leito de Marina as bolsas de sangue do tratamento. Conversando sobre a semelhança, decidiram investigar se havia chance de parentesco. Descobriram que eram irmãs e que havia compatibilidade. “Foi uma alegria infinita”, diz Marina, que entrega toda sua gratidão à doadora.
Depois do transplante, a jornalista passou a se engajar na causa, uma forma de retribuir a solidariedade que recebeu por meio da doação. Está sempre levando seu testemunho e informação sobre o transplante, seja nas redes sociais ou nos hospitais onde ainda faz acompanhamento.
“As pessoas às vezes conhecem pouco, e a informação salva vidas também. Campanhas como a Doe de Coração são importantíssimas para que todo mundo entenda a necessidade e a importância deste gesto de solidariedade, de amor, e o quão transformador isso é para os pacientes e para as famílias deles” — Marina Alves, jornalista, recebeu transplante de medula óssea
A importância de conscientizar é vista no cotidiano dos hospitais
Já tem 25 anos que a enfermeira Mônica Studart atua em uma unidade de transplante e vê, de perto, a importância da doação de órgãos para salvar vidas. “Minha trajetória profissional tem sido marcada por um profundo compromisso e dedicação a cada fase do processo de doação e transplante”, afirma.
Mônica iniciou sua jornada na área de transplantes no Hospital Geral de Fortaleza (HGF), onde começou a se dedicar à captação de órgãos, uma fase crítica que exige precisão e sensibilidade. “Minha experiência em centro cirúrgico foi fundamental para desenvolver um entendimento profundo dos procedimentos envolvidos e a importância de cada etapa na preservação e preparo dos órgãos para o transplante”, conta.
Depois, passou a trabalhar em todas as fases do processo: do preparo do paciente para o transplante, garantindo que ele esteja em condições ideais para a cirurgia, até o acompanhamento rigoroso durante o procedimento e no pós-operatório.
Atualmente, é enfermeira de uma Unidade Pós Operatória de Alta complexidade em Transplantes do HGF e coordenadora da Residência Multiprofissional em Transplantes do HGF. Também é docente do curso de Enfermagem e do Mestrado Profissional em Tecnologia e Inovação em Enfermagem da Universidade de Fortaleza (Unifor) — instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz.
Toda essa experiência na área levou Mônica a ser convidada para coordenar a campanha Doe de Coração neste ano. “Sinto-me extremamente honrada e motivada. É um privilégio fazer parte de uma iniciativa tão importante, que visa aumentar a conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos e, ao mesmo tempo, contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes que aguardam por um transplante”, afirma.
Ela conta que, neste ano, a Doe de Coração amplia seu alcance com uma série de eventos virtuais e presenciais, incluindo palestras e workshops sobre a importância da doação. “Também introduzimos uma nova abordagem digital com campanhas interativas nas redes sociais, e estamos promovendo uma mostra especial que apresenta as obras de todas as edições anteriores da campanha”, adianta.
Mônica lembra que esse movimento é importante não apenas para combater a desinformação que ronda o tema e estimular a doação, mas também contribui para o avanço das pesquisas e ações na área de transplantes, apoiando o desenvolvimento de novas técnicas e tratamentos.
“A campanha Doe de Coração é crucial para aumentar a conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos, um tema que ainda é cercado por muitos mitos e dúvidas. Ao educar a população e promover a importância da doação, o movimento ajuda a criar um ambiente mais receptivo e solidário, o que pode levar a um aumento nas doações” — Mônica Studart, professora doutora do curso de Enfermagem da Unifor e servidora do HGF
Segundo ela, a Doe de Coração tem um impacto significativo no cotidiano dos transplantes. “Já ouvi relatos emocionantes de pacientes e suas famílias que foram inspirados pela campanha a considerar a doação de órgãos e tecidos, e até mesmo de pessoas que decidiram se tornar doadoras após serem tocadas pelas histórias e informações divulgadas”, rememora.
Ao longo dos últimos 20 anos, o movimento evoluiu significativamente. Se antes ele focava em eventos locais e informações básicas, hoje está incorporando as tecnologias digitais e mídias sociais para alcançar um público mais amplo.
“A sensibilização para a doação de órgãos e tecidos pode salvar vidas. Cada doação é uma oportunidade para transformar a vida de alguém que está lutando contra uma condição crítica. Ao nos unirmos para promover a conscientização e o entendimento, podemos fazer uma diferença real e duradoura na vida de muitas pessoas”, reforça Mônica.
+ LEIA | Doe de Coração: Uma corrente de solidariedade
O progresso gradual nos transplantes realizados no Ceará
A maior compreensão sobre a importância da doação de órgãos reflete nos números. O Ceará é referência nacional na realização de transplantes e vem testemunhando o aumento gradual nas doações e, consequentemente, um progresso positivo na realização dos procedimentos. Para se ter uma ideia, em apenas duas décadas, o número de transplantes realizados aumentou em 410%.
Com um dos maiores sistemas de transplantes do mundo, o Brasil mantém uma lista única de pacientes que necessitam de órgãos ou tecidos, regulada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Campanhas como a Doe de Coração são fundamentais neste processo, tendo em vista que um dos principais entraves para a doação ainda é a desinformação.
Mas não há o que temer. As regras são cuidadosas em todo o processo de doação. Por exemplo, a morte cerebral do doador precisa ser atestada por médicos e por exames específicos. Só depois de todos os testes e quando não há dúvidas da irreversibilidade do caso, o diálogo com a família é iniciado. Isso significa que não é possível que nenhum procedimento seja feito sem garantir que já não haja chance de recuperação para o paciente doador.
Referência nacional em transplante, o Ceará realiza uma média de 1.600 a 1.700 transplantes por ano, conforme informa a médica e orientadora da Célula do Sistema Estadual de Transplante (Cetra) da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Eliana Barbosa. O Estado está entre os cinco que mais realizam transplante de córnea, fígado, coração e pulmão do país, considerando proporcionalmente a sua população.
Para ela, o movimento Doe de Coração transformou-se em um projeto de cidadania e também em um ato de responsabilidade solidário. Ele já faz parte do Setembro Verde no Ceará, que reúne ações sobre a doação de órgãos.
Eliana alerta que muitos desconhecem a triste realidade de milhares de pessoas que todos os anos contraem doenças, cujo único tratamento é um transplante. “Em função disso, ficam à espera de um doador que muitas vezes não aparece”, lamenta.
No Brasil, a doação de órgãos e tecidos só é feita após autorização familiar. Por isso, é essencial conversar com a família e os amigos sobre o seu desejo de ser doador e deixar claro que eles, seus familiares, devem autorizar essa doação. “Comunique à família e incentive seus amigos a fazer o mesmo. A doação de órgãos e tecidos é um ato de solidariedade que salva vidas e proporciona qualidade de vida”, encoraja a médica.
“O movimento Doe de Coração tem o objetivo de encorajar as doações de órgãos e tecidos no nosso Estado, por meio da sensibilização social. Desde sua primeira edição, tem contribuído para os índices de doação, otimizando o cenário dos transplantes de órgãos e tecidos e colaborando para que o Ceará seja referência em doação e transplante no Brasil” — Eliana Barbosa, médica e orientadora da Célula do Sistema Estadual de Transplante (Cetra) da Sesa
+ LEIA | Eliana Barbosa e o papel do diálogo no fortalecimento dos transplantes no Ceará
As ligas acadêmicas a serviço da causa
As Ligas Acadêmicas da Unifor também estão a serviço da corrente de solidariedade que circunda a doação de órgãos e tecidos, com atividades de extensão e conscientização envolvendo alunos de diversos cursos da área da saúde, como as graduações em Medicina e Enfermagem.
“Todos contribuem para a promoção da saúde e conscientização pública, seja em atividades educacionais e de atendimento à população ou em ações de engajamento comunitário. A colaboração interdisciplinar é essencial para o sucesso da campanha, fortalecendo o impacto das ações realizadas”, explica a coordenadora das Ligas Acadêmicas de Medicina da Unifor, Grayce Ellen da Cruz Paiva Lima.
Neste ano, os estudantes das Ligas Acadêmicas de Medicina da Unifor devem participar de orientações e abordagens diretas ao público na Praça do Ferreira. A ideia é que eles possam discutir mitos e tabus relacionados à doação de órgãos, além de abordar a legislação e os procedimentos envolvidos.
“As ações são realizadas em formato expositivo e informal, utilizando uma linguagem acessível e entregando panfletos informativos”, explica Grayce. Os alunos apresentam os benefícios da doação de órgãos e explicam as formalidades a serem cumpridas, com o objetivo de vencer estigmas, esclarecer dúvidas e incentivar o cadastro e a doação.
Além disso, acrescenta Grayce, os discentes devem distribuir panfletos que contêm informações essenciais sobre a campanha de doação de medula óssea, incluindo o perfil do doador e as etapas para o cadastro. Enquanto conversam sobre a doação de órgãos, os alunos também realizam verificações de pressão arterial e glicemia para a população.
“As Ligas Acadêmicas desempenham um papel importante na conscientização sobre a doação de órgãos e transplantes. Elas auxiliam na educação da população, desmistificando conceitos errôneos e promovendo uma cultura de empatia e solidariedade. Ao interagir diretamente com a comunidade, os alunos conseguem transmitir a importância da doação, explicando como esse ato pode salvar vidas e transformando a percepção do público sobre o tema” — Grayce Ellen Lima, coordenadora das Ligas Acadêmicas de Medicina da Unifor
A docente destaca que participar de campanhas como a Doe de Coração também é fundamental para a formação de profissionais de saúde. Esse tipo de atividade contribui para que estes futuros profissionais sejam não apenas tecnicamente competentes, mas também socialmente conscientes e empáticos.
“Essas ações permitem que os alunos desenvolvam habilidades de comunicação, trabalho em equipe e responsabilidade social, enquanto enfrentam questões éticas e humanitárias que são parte integrante da prática médica. A experiência adquirida em campanhas como esta prepara os futuros profissionais para atuarem com excelência e responsabilidade em suas carreiras”, salienta Grayce.
Segundo ela, campanhas como a Doe de Coração têm um impacto significativo na sociedade, influenciando atitudes e comportamentos. “Esse envolvimento fortalece o vínculo entre a academia e a comunidade, promovendo uma cultura de solidariedade e cuidado com o próximo, o que é essencial para o sucesso de programas de saúde pública”, diz a professora.
+ SAIBA | Liga de Medicina da Unifor produz podcast sobre doação de órgãos
Uma mostra para celebrar décadas da arte servindo à vida
Todos os anos, a campanha Doe de Coração costuma despertar curiosidade sobre a nova marca, criada por um artista convidado. A grande novidade desta edição é a realização de uma mostra com todas as obras desenvolvidas ao longo de duas décadas de campanha, celebrando o impacto duradouro da Doe de Coração.
Neste ano, a arte utilizada no movimento foi desenvolvida pela artista-pesquisadora Ana Cristina Mendes, a primeira mulher a ser convidada para desenvolver a cara da campanha. “Recebi esse convite com imensa alegria e responsabilidade para assim ampliar a presença feminina no nosso meio e conquistar mais oportunidades e reconhecimento”, diz.
O novo design da Doe de Coração foi criado pela artista-pesquisadora Ana Cristina Mendes, primeira mulher a fazer parte do rol de artistas que repensam, anualmente, a marca da campanha (Imagem: Divulgação)
Para Cristina, a doação de órgãos é um desprendimento de si em um ato voluntário de generosidade humana direcionada ao outro. Criar o símbolo da campanha, na forma afetiva de um coração, tem para ela uma relevância peculiar.
“Há muito tempo, desenho corações como rabisco. É um hábito que me estimula a pensar e antecede o ato criativo”, conta. Desde a pandemia, a artista sonha e desenha corações, que lhe apareciam de muitas formas. Passou a rabiscá-los e fotografá-los. “O tempo me mostrou que sou uma colecionadora de corações”, diz.
O coração que Cristina criou para a campanha deste ano tem um pedaço da obra “Mar-tecido” (2015), uma veste de 20 metros que alcançou distâncias, abarcou mundos e diluiu fronteiras para o longe de casa. A artista criou um coração vestido de mar para essa campanha, que propõe um desaguar, um extravasamento.
Outras obras de Ana Cristina Mendes também estão expostas no Espaço Cultural Unifor. A exposição “Nascente” está aberta à visitação gratuita na galeria térrea do equipamento, sob a chancela do projeto Trajetórias Artísticas Unifor, que apresenta exposições de artistas cearenses e tem a curadoria de Ana Valeska Maia Magalhães.
“Essa campanha propõe abundância de uma generosidade vinda do coração. E é assim que me sinto, com o coração abundante de emoção por criar algo tão significativo para mim e para uma campanha tão importante. Além da emoção, existe o sentimento de consciência da amplitude que o meu trabalho está alcançando e como ele pode fazer a diferença na minha vida, na vida das pessoas, no mundo como um todo” — Ana Cristina Mendes, arte-pesquisadora, responsável pela arte da campanha Doe de Coração 2024
Durante este mês de setembro, pacientes, profissionais, pesquisadores e gestores abraçam o movimento Doe de Coração para informar e sensibilizar a sociedade. Nesta segunda-feira, dia 2, acontecerá a solenidade de lançamento da campanha a partir das 9h30, no auditório da Biblioteca Central da Unifor.
Doar órgãos e tecidos é uma forma de dar ao outro uma segunda chance na vida. Um coração pode continuar batendo no peito de outra pessoa para que a história dela possa continuar, por exemplo. Como diz a artista Ana Cristina, a doação de órgãos é um ato de humanidade. É generosidade e solidariedade transformadas em ação.