CSE Informa: Por onde começar a escrever um texto científico?

seg, 8 julho 2024 16:30

CSE Informa: Por onde começar a escrever um texto científico?

Confira dicas de processo criativo na escrita de conteúdos acadêmicos voltados à pesquisa científica


O primeiro passo é saber sobre o que se quer escrever (Ilustração: Getty Images)
O primeiro passo é saber sobre o que se quer escrever (Ilustração: Getty Images)

Por: Aliria Aiara Duarte
Conselho Superior de Editoração (CSE)


Uma das maiores dificuldades em escrever é saber por onde começar. Seja no texto para um trabalho final de disciplina, uma dissertação, tese ou produção de artigo, iniciar uma escrita científica traz alguns entraves criativos e dúvidas sobre quais temas abordar juntamente com a ligação entre o que o autor ou a autora quer escrever.

O primeiro passo é se perguntar “o que me interessa a ponto de eu querer escrever sobre?”. Todo texto, mesmo que acadêmico, inicia-se dessa pergunta, pois entramos em grupos de estudo, em projeto de tutoria e até em um curso universitário a partir da centelha de interesse em algum assunto. Mesmo com um(a) docente a nos guiar e orientar, isso só é possível a partir de uma ideia prévia que trazemos para eles, o que está diretamente ligado aos nossos interesses.

É comum, em alguns momentos, sentirmo-nos um pouco perdidos, afinal estamos aprendendo a pesquisar, nos inserindo no meio acadêmico e nos preparando para o mercado de trabalho. Esses momentos de entraves também são importantes, pois nos levam a questionamentos sobre nossos interesses como “realmente quero estudar/falar sobre isso?”. E é aí que nos organizamos.

Uma técnica que facilita na hora de escrever é o brainstorming (tempestade de ideias, em tradução livre) ou o mapa mental, que consiste em listarmos, por meio da escrita em papel ou da digitação em aplicativo, palavras que venham à mente sobre determinado assunto.

Dicas para auxiliar a escrita acadêmica

  • Escolha um tema ou assunto que você tenha interesse
    A escolha do tema de interesse é a primeira parte do processo de escrita, pois é a partir disso que as outras etapas se organizarão. O que te “toca” para querer falar sobre isso? Lembre-se que falará sobre esse tema por algum tempo, então é importante que tenha interesse, vontade, ânimo de falar sobre.
  • Tenha docentes que te guiem nesse processo
    É sempre muito importante ter alguém para nos guiar nesse momento, pois a escrita acadêmica sempre tem altos e baixos. Um dia amamos o que escrevemos e temos certeza de tudo, no outro dia não queremos mais esse tema ou estamos tão confusos sobre o que fazer que, por vezes, “travamos” na escrita. Um professor ou uma professora nos ajuda a sair desse local de inércia. Eles nos questionam, nos apresentam outros pontos de vista, sugerem autores e conceitos que nos fazem avançar no texto.
  • Faça registros dos processos
    É importante entender que tudo é processo e todo processo é pesquisa, inclusive o momento de inércia que muitos pesquisadores e pesquisadoras se encontram confusos, pois desse “limbo” sai uma alternativa para como seguir na escrita. Por isso, faça registros de tudo: fotografias, anotações, palavras “desconexas”, desenhos, protótipos etc. Esses materiais servirão em algum momento na composição das ideias, bem como do próprio texto.
  • Tente separar em tópicos as experiências que viveu ou os temas que trará
    Uma técnica que pode ajudar na composição do texto é organizar os tópicos a partir da parte/material/experiência que se teve – e que prefira utilizar. Fazendo isso, por mais que se mude no decorrer do processo de pesquisa, ajudará a organizar estruturalmente o “esqueleto” da escrita. Para algumas pessoas, ver concretamente a estrutura de como se dará o texto as ajuda a organizar ao redor desses pontos o que se quer escrever.

Experiência do processo da escrita

Para a Dra. Alessandra Oliveira — docente dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade de Fortaleza e pesquisadora do Laboratório de Arte, Memória Gráfica e Biograficidade (Lambe) —, a escrita é um trabalho imersivo.

“Não preciso necessariamente de um ambiente silencioso. A experiência de jornalista me treinou para escrever em qualquer lugar, mas gosto de passar horas com o texto, acho mais produtivo do que escrever um pouco todos os dias”, compartilha ela, mostrando como funciona seu processo criativo.


“Geralmente separo os textos lidos, o diário de campo, observo o meu entorno e começo a escrita pelo local onde estou, não sigo tanto um plano. Geralmente, o mergulho reflexivo me leva para outros caminhos e, quando termino um capítulo ou tópico, me surpreendo com o que escrevi, quase um fluxo de consciência. Daí volto, leio e faço as amarrações teóricas necessárias”Alessandra Oliveira, docente da Unifor e pesquisadora do Laboratório de Arte, Memória Gráfica e Biograficidade

Assim, é necessário compreendermos que “o que nos afeta são as experiências” (LARROSA, 2002), ou seja, é importante validarmos nossos interesses pessoais também no meio acadêmico e na escrita científica.

Outro ponto necessário é termos a consciência de que “[...] todo conhecimento científico é autoconhecimento” (SANTOS, 2001), ou seja, o conhecimento científico nasce a partir do nosso autoconhecimento, a partir das nossas experiências, seja numa releitura da literatura ou a partir de experiências vividas em campo.

Mas como a pesquisa pode virar texto acadêmico?

Gostamos de separar a vida da academia, mas, na verdade, tudo é pesquisa”, explica Alessandra. Para ela, quando estamos em campo, construindo os dados, lendo ou mesmo em momentos de lazer, tudo pode ser articulado e virar texto. A professora diz que ter um diário de campo ajuda muitíssimo no processo de escrita, pois serve para anotar as impressões, sentimentos, dúvidas e possíveis articulações que serão feitas no texto acadêmico.

“Minha sugestão é não deixar nada de fora, anotar tudo, registrar de alguma forma todo o processo desde a escolha do tema até as articulações finais. Assim, ao sentar para escrever, vemos que uma boa parte do texto já está escrita, e o iniciamos mesmo antes da definição do tema, pois toda pesquisa parte de um interesse, uma experiência pessoal. Então, sua história de vida já é pesquisa”, conclui.
 

A coluna “CSE Informa” é um espaço quinzenal de divulgação do Conselho Superior de Editoração (CSE) da Universidade de Fortaleza no jornal Unifor Notícias Mobile.