Pesquisa Unifor: Estudo analisa evolução clínica e prognóstico de pacientes com leucemia mieloide aguda

seg, 3 junho 2024 18:56

Pesquisa Unifor: Estudo analisa evolução clínica e prognóstico de pacientes com leucemia mieloide aguda

O artigo é um dos maiores estudos clínico-epidemiológicos e prognósticos de pacientes com LMA com acompanhamento de cinco anos publicados até o momento


A leucemia é a décima neoplasia mais presente no Brasil (Ilustração: Getty Images)
A leucemia é a décima neoplasia mais presente no Brasil (Ilustração: Getty Images)

A leucemia é um tipo de câncer que afeta os tecidos formadores de sangue no corpo, incluindo a medula óssea e o sistema linfático. No Brasil, a doença é uma das principais causas de mortalidade, afetando tanto crianças e adolescentes como pessoas adultas. Seu combate em âmbito nacional enfrenta desafios significativos, fazendo-se importante o desenvolvimento de pesquisas para melhor compreender como lidar com a patologia.

Nesse contexto, o pesquisador Carlos Ewerton Maia — professor da Pós-Graduação em Ciências  Médicas (PPGCM) da Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz — participou da produção do artigo “Clinical outcome and prognosis of patients with acute myeloid leukemia submitted to chemotherapy with 5 years of follow-up”.

O trabalho (“Evolução clínica e prognóstico de pacientes com leucemia mieloide aguda submetidos à quimioterapia com 5 anos de acompanhamento”, em tradução livre) busca avaliar o perfil clínico-epidemiológico, fatores de risco associados e resultados clínicos de pacientes com Leucemia Mieloide Aguda (LMA), identificando as principais causas de morbimortalidade e taxa de sobrevivência global de pacientes em cinco anos de seguimento.

De acordo com as informações do estudo, no Brasil, estimativas indicam que a incidência da doença é de 5,67 casos em homens e 4,56 em mulheres por 100 pessoas da população, com a mortalidade alcançando o número de 9.196 falecimentos por ano.


“Através desse importante estudo epidemiológico no Ceará, conseguimos entender a evolução clínica dos pacientes com LMA, o que é importante para estabelecer políticas públicas de saúde, como diagnóstico precoce, medidas efetivas de infecção hospitalar através de protocolos bem definidos e acesso de testes de estratificação prognóstica, impactando na sobrevida desses pacientes”Carlos Ewerton Maia, pesquisador e professor do PPGCM

Além de Carlos, a pesquisa contou com a participação de: Kaira Mara Cordeiro, mestra pelo PPGCM; Caroline Brandão e Lia Correia, alunas do curso de Medicina da Unifor e bolsistas de iniciação científica; Hermano Lima Rocha, médico epidemiologista; Lívia Andrade, médica hematologista; e Deivide de Sousa Oliveira, hematologista do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).

Métodos

Para desenvolver e descrever o processo de pesquisa, os pesquisadores realizaram um estudo de coorte retrospectivo que avaliou o prognóstico e os resultados de 222 pacientes com diagnóstico de LMA em três grandes centros de hematologia no Ceará durante o período de cinco anos.

Todos os hospitais que participaram do estudo são instituições terciárias do Sistema Único de Saúde (SUS) habilitadas para o tratamento de pacientes com LMA. Os hospitais incluídos foram: HGF, com 112 pacientes; Hospital Universitário Walter Cantídio, com 79 pacientes; e Hospital César Cals, com 31 pacientes. Os protocolos de quimioterapia foram iguais para as três unidades de saúde.

Os critérios de inclusão no estudo abrangeram pacientes de ambos os sexos, com idade igual ou superior a 18 anos e diagnosticados com LMA. A seleção levou em conta o aspirado de medula óssea com presença de blastos em contagem igual ou superior a 20% das células, com características de mieloblastos e coloração positiva na superfície da membrana para clusters de diferenciação, conforme a imunofenotipagem realizada por citometria de fluxo.

Para analisar a evolução clínica dos enfermos, os hospitais participantes forneceram prontuários de pacientes diagnosticados com LMA, abrangendo dados demográficos, comorbidades, histórico médico e detalhes do tratamento. Foram analisados fatores como:

  • sexo,
  • idade,
  • status de desempenho no momento do diagnóstico,
  • comorbidades como hipertensão, diabetes e doenças cardíacas,
  • Índice de Massa Corporal (IMC),
  • tabagismo,
  • consumo de álcool e
  • histórico familiar de câncer.

A evolução clínica foi documentada ao longo de cinco anos, incluindo resposta ao tratamento, recidivas e principais causas de morte.

Resultados 

Ao fim do estudo, os pesquisadores concluíram que a progressão da doença e infecção foram as principais causas de morte. Além disso, os pacientes tiveram maior acesso a citometria diagnóstica e cariótipo do que o média nacional. Isso significa que eles foram capazes de realizar testes mais detalhados e precisos para a identificação e caracterização da leucemia.

A citometria de fluxo diagnóstica é uma técnica que permite uma análise detalhada das células do sangue e da medula óssea, ajudando a identificar tipos específicos de leucemia e outras características celulares importantes. Já o cariótipo analisa os cromossomos das células para detectar anormalidades genéticas que podem influenciar o diagnóstico e o tratamento da leucemia.

“Diagnóstico precoce, medidas de controle de infecção hospitalar e suporte clínico adequado em centros especializados são fundamentais para melhorar o prognóstico dos pacientes com LMA. A adoção de protocolos rígidos para o manejo da neutropenia febril e instruções sobre o uso racional de antimicrobianos para prevenir resistência bacteriana são essenciais para melhorar a sobrevivência desses pacientes”, pontua Carlos Ewerton.


Leucemia é uma das principais causas de mortalidade no Brasil, afetando tanto crianças e adolescentes como pessoas adultas (Ilustração: Getty Images)

O estudo concluiu ainda que a sobrevida global diferiu significativamente de acordo com o risco, conforme determinado por testes citogenéticos, impactando no prognóstico e na sobrevida global dos pacientes.

“À medida que novas terapias direcionadas a alvo-específico são implementadas, o estabelecimento do perfil genético e molecular dos pacientes é cada vez mais importante nas decisões de tratamento. Os resultados dos testes disponíveis permitiram classificar pacientes de acordo com o risco, melhorando o desfecho clínico deles”, ressalta Carlos Ewerton.

Publicação internacional

Destacando-se como um dos maiores estudos clínico-epidemiológicos e prognósticos de pacientes com LMA com acompanhamento de cinco anos, o artigo foi publicado e disponibilizado online no início de 2024 na revista Hematology, Transfusion and Cell Therapy, reconhecida por divulgar artigos originais, revisões e relatos de casos abrangendo diversas áreas da hematologia e hemoterapia.

O periódico possui um CiteScore de 2.4 e um Fator de Impacto de 2.1, refletindo sua influência e credibilidade na comunidade científica. A publicação do estudo nesse periódico renomado destaca a importância e a qualidade da pesquisa realizada, contribuindo significativamente para o avanço do conhecimento na área de leucemia mieloide aguda.