Orgulho Unifor: mestranda é semifinalista em prêmio internacional para mulheres cientistas na América Latina

seg, 13 janeiro 2025 17:11

Orgulho Unifor: mestranda é semifinalista em prêmio internacional para mulheres cientistas na América Latina

O concurso 25 Mulheres na Ciência celebra as realizações científicas de mulheres latino-americanas em diversas áreas do conhecimento


Aluna do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor, Verlaine Alencar participa de concurso com o projeto Nazide Pressus (Foto: Arquivo pessoal)
Aluna do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor, Verlaine Alencar participa de concurso com o projeto Nazide Pressus (Foto: Arquivo pessoal)

A Universidade de Fortaleza, instituição da Fundação Edson Queiroz, reconhece a importância do investimento em ciência, contribuindo com a produção de pesquisas científicas e projetos inovadores a partir do incentivo à sua comunidade acadêmica. Reflexo dessa dedicação, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas (PPGCM), Verlaine Alencar, alcançou a semifinal do concurso 25 Mulheres na Ciência 2025.

Promovido pela 3M, o prêmio internacional celebra as realizações de mulheres da América Latina que contribuem para o avanço do conhecimento científico e tecnológico em diversas áreas, como ciências exatas, naturais, sociais e biomédicas. Esse reconhecimento é uma forma de estimular discussões sobre a necessidade de maior representatividade feminina no cenário científico e sobre os obstáculos enfrentados por mulheres no setor, como preconceitos e barreiras estruturais.

Fisioterapeuta obstétrica, Verlaine é a responsável pelo Nazide Pressus, trabalho com o qual participa no concurso. O projeto inovador foi desenvolvido em parceria com o Laboratório de Pesquisa e Inovação em Cidades (Lapin) da Unifor e consiste em um simulador de alta tecnologia, inédito no mundo, para o tratamento da incontinência urinária.

Ao longo de seus 15 anos de carreira, Verlaine tem dedicado a última década exclusivamente ao cuidado da saúde da mulher. Com uma abordagem abrangente e humanizada, ela acompanha mulheres em todas as fases da vida, desde a gestação e o nascimento de novas famílias até a prevenção, tratamento e reabilitação de doenças e disfunções pélvicas.

Classificada para a semifinal e aguardando o resultado das 25 finalistas que sairá em fevereiro, a fisioterapeuta obstétrica comenta que essa conquista significa muito para ela e para sua carreira.


“[Isso] representa a prova de que é possível realizar sonhos e, literalmente, transformar o mundo através deles. Mostra que vale a pena acreditar e investir nas próprias ideias, especialmente quando ninguém nunca tentou algo parecido antes. Para a minha carreira, é um divisor de águas, uma conquista que me motiva a ousar ainda mais e a buscar voos ainda mais altos”Verlaine Alencar, fisioterapeuta obstétrica e aluna do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor

Criando o Nazide Pressus

Verlaine desenvolveu seu projeto com o intuito de abordar a questão do alto custo do tratamento da incontinência urinária, que requer o treinamento dos músculos do assoalho pélvico e a realização do exame chamado Avaliação Funcional do Assoalho Pélvico (AFA).

De acordo com a mestranda, a estimativa é de que 200 milhões de pessoas são afetadas pela mais comum das disfunções pélvicas, a incontinência urinária. Desse total, 69% são mulheres, o que evidencia um problema de saúde pública com um agravante significativo: esse número é subestimado, pois grande parte da população desconhece que existe diagnóstico e tratamento para essas condições.

Atualmente, a Sociedade Internacional da Continência considera o treino dos músculos do assoalho pélvico como o padrão ouro no tratamento da incontinência urinária. No entanto, para realizar esse treino de forma eficaz, é necessário e altamente recomendado o AFA. Esse exame é crucial para identificar a condição dos músculos e planejar o tratamento adequado.

O treinamento para realizar a AFA enfrenta um desafio significativo: a necessidade de modelos vivos. Muitos estudantes e profissionais ingressam no mercado para tratar pacientes reais sem a oportunidade de praticar previamente e desenvolver sua acurácia no procedimento. Essa lacuna no aprendizado exige anos de especializações e, muitas vezes, submete as pacientes a diagnósticos incertos, o que pode gerar desconforto, constrangimento e até riscos.

Para resolver essa problemática, Verlaine trabalhou em um simulador de alta tecnologia, inédito no mundo. Esse equipamento permite que estudantes e profissionais treinem o procedimento quantas vezes forem necessárias, sem gerar qualquer risco, dano ou constrangimento às pacientes. Com essa inovação, cria-se oportunidade de revolucionar o método de ensino e aumentar a assertividade nos diagnósticos cinéticos funcionais.


Verlaine com suas colegas de profissão e o Nazide Pressus (Foto: Arquivo Pessoal)

Atualmente, o trabalho conta com o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap) e possui uma equipe com mais de 15 colaboradores — entre estudantes, mestres e profissionais da área de tecnologia e de saúde —, visando o aprimoramento do recurso. O projeto também deu origem à Nazide Tech, empresa de tecnologia de simulação para estudantes e profissionais da saúde criada pela mestranda.

“Fui plenamente acolhida e assistida por uma gama de professores incríveis e muito competentes na Unifor, que não apenas abraçaram minha ideia, mas também acreditaram no meu potencial e me incentivaram a transformar essa visão no que hoje temos concretizado”, relata Verlaine

“Serei eternamente grata a todos os professores do PPGCM; ao Lapin, sob a coordenação do professor Daniel Chagas; à minha orientadora, professora Ana Cristina Moreira; e a tantos outros que contribuíram e continuam a fazer parte dessa jornada tão especial”, enfatiza a mestranda. 

Vida estudantil e interesse pela ciência 

Sendo sempre uma aluna curiosa e pronta para encarar os desafios, Verlaine se empenhou desde cedo em projetos que moldaram a sua trajetória. Logo ao iniciar a graduação, a fisioterapeuta participou de pesquisas em programas de iniciação científica, monitorias e grupos de estudos.

“Depois da formatura, demorei a me estabelecer. Mesmo com muita atitude e ousadia, minha trajetória não foi linear e ascendente, pelo contrário, foi cheia de altos e baixos. Cheguei a desistir por uns anos e desacreditar totalmente no meu potencial como profissional, por conta dos períodos difíceis na minha vida pessoal e financeira”, pontua. 

Quando chegou o momento de recomeçar, Verlaine decidiu, com o apoio de seu esposo, retomar de onde havia parado: o mestrado. Em meio a desafios pessoais e financeiros, ela se voltou para a fé, pedindo a Deus uma direção clara para sua nova jornada. “Vou recomeçar. O Senhor sabe o quanto tem sido desafiador, mas gostaria de fazer algo que realmente fizesse diferença na vida das pessoas”, recorda. 

Inspirada pelos obstáculos que enfrentou como estudante, refletiu profundamente sobre como poderia transformar essa realidade e contribuir para que outros tivessem acesso a um aprendizado mais inclusivo e eficiente. Foi esse desejo de mudança que norteou sua trajetória e impulsionou sua determinação em avançar, mesmo diante das adversidades.

A paixão de Verlaine por cuidar de mulheres surgiu em um momento marcante de sua vida, quando, em situação de vulnerabilidade, ela precisou de cuidados e se deparou com um atendimento falho e desumano. Esse episódio a fez refletir sobre como isso poderia acontecer e a motivou a se dedicar a ser e oferecer algo completamente diferente do tratamento que havia recebido.

Desafios na área 

Os desafios enfrentados por Verlaine na ciência, especialmente no campo da tecnologia, refletem a realidade de tantas mulheres que atuam em áreas diversas. Apesar de ser um ambiente ainda predominantemente masculino, ela acredita que as mulheres desempenham um papel fundamental em todo avanço, seja na ciência, na indústria ou na humanidade de maneira geral.

Como cientista, ela se inspira em nomes como Marie Curie e Jean Purdy, que abriram caminhos importantes na ciência. Mas como mulher, seu pensamento vai além, recordando exemplos mais próximos e igualmente poderosos. Lembra-se de sua avó, que utilizava o conhecimento das ervas em práticas curativas, e de sua mãe, que com múltiplas funções — costureira, cozinheira, arrumadeira, professora e dona de casa — cuidou de quatro filhos enquanto conciliava tantas responsabilidades. Pensa também nas suas amigas, colegas e pacientes, mulheres que, todos os dias, se desdobram e dão o melhor de si.

Essa reflexão é central para Verlaine: reconhecer e acolher as mulheres em suas dinâmicas únicas, muitas vezes diferentes das que predominam no universo masculino, é essencial para promover o sucesso em projetos e pesquisas