ter, 22 abril 2025 11:48
Pesquisa Unifor: Estudo investiga novo tratamento para pacientes de AVC que tiveram Covid-19
Desenvolvida no Núcleo de Biologia Experimental, pesquisa busca testar o efeito neuroprotetor do ômega-3 para o tratamento de pacientes que sofreram acidentes vasculares cerebrais após a pandemia

As doenças neurodegenerativas afetam mais de três bilhões de pessoas no mundo, causando a degeneração de células, tecidos e órgãos do sistema nervoso. O Alzheimer, o Parkinson e o Acidente Vascular Cerebral (AVC) são alguns exemplos que se enquadram nessa definição e que podem ainda ser afetados por outras questões de saúde, como a Covid-19.
Desde a pandemia, diversos estudos surgiram relacionando a infecção por coronavírus com danos neurológicos e doenças neurodegenerativas, além do crescimento do déficit cognitivo e de memória. De olho nesse cenário, a Universidade de Fortaleza (Unifor), vinculada a Fundação Edson Queiroz, fomenta diversas pesquisas relacionadas à saúde cerebral e aos mecanismos de proteção do cérebro.
Alguns dos pesquisadores do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Unifor são responsáveis por trabalhos nessa área, como é o caso do professor Ramon Raposo, coordenador do Biotério de Produção e do Laboratório de Nível de Biossegurança 3 (NB3-NBA3) do Nubex.
Em seu mais recente estudo, ele investiga o potencial efeito neuroprotetor do ácido docosahexaenoico (DHA) — um ácido graxo do tipo ômega-3, essencial para o desenvolvimento e a manutenção da saúde cerebral e cardíaca — na minimização de danos em pacientes de AVC isquêmico associado à Covid-19.
Doutor em Biotecnologia e pós-doutor em Neurociências, Ramon explica que essas pesquisas visam “aplicar descobertas científicas básicas na prática clínica, como o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos com ação neuroprotetora”.
“O ômega-3 (especialmente o DHA) poderá se consolidar como um importante agente modulador da neuroinflamação e fundamental agente contribuidor nos tratamentos de pacientes que sofrem acidentes vasculares cerebrais ao minimizar as prováveis lesões existentes” – Ramon Raposo, coordenador do Biotério de Produção e do laboratório NB3-NBA3 do Nubex
Como está sendo desenvolvido?
A pesquisa é desenvolvida dentro do Laboratório NB3-NBA3 utilizando 80 camundongos provenientes do Biotério de Produção do Nubex. Os animais são expostos à proteína Spike do SARS-Cov-2 e submetidos a protocolo de isquemia cerebral, seguido por um período de tratamento com o DHA. O intuito da terapia é estimular menores impactos do quadro patológico de neuroinflamação e lesão cerebral ou evitar danos neurológicos maiores.
Ramon, que também é coordenador da Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), explica que o ômega-3, especialmente o DHA, poderá se consolidar como um importante agente modulador da neuroinflamação. O ambiente do Nubex se mostra essencial no desenvolvimento desses estudos.
“A infraestrutura do Nubex — por meio do seu Biotério de Produção de roedores, de zebrafish, do NB3-NBA3, de laboratórios de desenvolvimento biotecnológico, do corpo técnico qualificado e de pesquisadores capacitados para a prática de métodos alternativos ao uso de animais — garante o cumprimento dos exigentes protocolos de trabalho nessa área”, pontua o docente.
Além disso, diz ele, a CEUA promove uma educação continuada para a compreensão, por parte dos pesquisadores e usuários, da necessidade de protocolos experimentais pautados em princípios éticos preconizados por leis brasileiras e internacionais, bem como estimula o uso de métodos substitutivos e alternativos ao uso de roedores.
Expectativas e resultados
Segundo Ramon, com o estudo espera-se propor um agente terapêutico potencial a ser indicado nos casos de AVC isquêmico associados à infecção por Covid-19. Os resultados preliminares sinalizam uma ação benéfica da administração do DHA na resposta neuro inflamatória.
Para o pesquisador, o trabalho torna-se importante pela contribuição na melhoria de políticas públicas preventivas em pacientes com multi-comorbidades, principalmente com histórico de pós AVC. “As doenças neurodegenerativas vêm ganhando destaque pois estão diretamente relacionadas com a expectativa de vida da população idosa, além das maneiras como lidam com a longevidade e com a qualidade de vida”, explica.
Além da saúde do coração e do cérebro em geral, a ingestão de DHA ainda pode beneficiar um paciente com Mal de Alzheimer, reduzindo o acúmulo de proteína beta-amiloide e retardando a doença. Estudos também demonstraram a redução dos sintomas associados à doença de Parkinson, conforme afirma Ramon. Ele diz que novos trabalhos da Unifor focarão nessas duas outras doenças neurodegenerativas.