seg, 30 junho 2025 11:00
A Monitoria: Histórias de quem ensina para aprender e sonha com a docência
Programa de Monitoria Acadêmica da Universidade de Fortaleza tem transformado trajetórias e semeado a carreira de alunos como futuros professores, pesquisadores e profissionais preparados para a liderança

Em todas as áreas do conhecimento, a monitoria se consolida como uma experiência que aproxima estudantes do ensino e da ciência, promovendo habilidades técnicas e interpessoais, networking, conexões afetivas e novos caminhos profissionais.
Na Universidade de Fortaleza (Unifor), instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz, o Programa de Monitoria Acadêmica tem sido mais que uma atividade extracurricular: é uma verdadeira porta de entrada para a carreira docente e um diferencial competitivo para o mercado de trabalho. A iniciativa alia teoria e prática, promove a pesquisa e aproxima alunos da docência.
Organizada pela Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e Pós-Graduação (VRE), a iniciativa desempenha um papel essencial na formação de profissionais mais preparados, pois promove o desenvolvimento de competências socioemocionais e a vivência acadêmica desde cedo.
Com formação pedagógica, produção científica e acompanhamento dos professores, a Unifor oferece aos seus alunos não apenas a chance de reforçar conteúdos, mas de viver, na prática, os bastidores da docência e da pesquisa — dois pilares da vida universitária.
A seguir, confira depoimentos de como o Programa de Monitoria Acadêmica tem transformado trajetórias e semeado a carreira de futuros professores, pesquisadores e profissionais preparados para a liderança.
Construindo trajetórias acadêmicas
Já na reta final do curso de Direito, Enzo Farias Freire conheceu a Monitoria ainda no início da graduação. Desde 2021, atuou como monitor em diversas disciplinas como Ciência Política, Direito Constitucional e Direito do Trabalho — esta última sendo a área que escolheu como foco para seu Trabalho de Conclusão de Curso e para a segunda fase do exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
“A monitoria foi uma das principais pontes para o meu crescimento em rede, tanto acadêmica quanto profissional. Por meio dela, tive a oportunidade de estreitar vínculos com professores que se tornaram mentores, como a professora Aline Passos e a professora Tainah Sales. [...] A monitoria me inseriu de forma ativa na vida acadêmica e me aproximou da realidade da docência e da pesquisa, que são caminhos que quero seguir com dedicação”, explica o formando.
O envolvimento com a Monitoria o levou a publicar artigos nos Encontros Científicos da Unifor e a integrar grupos de pesquisa, como o Projeto Pesquisa Empírica e Jurimetria (PROPED), onde analisou o projeto de lei das fake news. Ele também teve a iniciativa de gravar podcasts com conteúdos complementares às aulas e outras estratégias criativas para engajar os colegas, especialmente durante o ensino remoto.
“Vejo a monitoria como uma das experiências mais transformadoras da minha graduação. Foi por meio dela que pude unir teoria e prática, conhecimento e sensibilidade. Ela abriu portas, me conectou com professores e pesquisadores que admiro e me deu confiança para seguir investindo na educação como um projeto de vida”, conclui Enzo, que deseja seguir carreira acadêmica e tornar-se professor.
“Aprendi que ser monitor vai muito além de dominar o conteúdo: envolve entender as dificuldades dos colegas, escutar com atenção, adaptar a linguagem e criar estratégias para facilitar o aprendizado de cada um. Esse exercício constante de escuta ativa e comunicação clara foi um verdadeiro diferencial na minha trajetória.” — Enzo Farias, formando do curso de Direito
De monitor a professor
Se a monitoria ensina a ensinar, ela também ensina a ouvir. É o que confirma Paulo Cirillo, ex-monitor da disciplina de Raciocínio Lógico e Algoritmos e hoje professor do curso de Ciência da Computação da Unifor.
Ainda durante a graduação em Engenharia de Controle e Automação, foi incentivado por um docente a participar do processo seletivo para a Monitoria e acabou aceitando o desafio. Filho de mãe professora, a experiência revelou a Paulo um caminho que causou surpresa, mas parecia estar no sangue: o de estar à frente da sala de aula.
“A Monitoria teve um impacto decisivo na construção da minha carreira. Sem essa experiência, muito provavelmente eu não teria seguido o caminho da docência. Desde as primeiras atividades que realizei como monitor, já sentia um grande prazer em ensinar, apoiar os colegas e preparar materiais. Quando me tornei professor, percebi o quanto a monitoria foi essencial para minha formação.” — Paulo Cirillo, professor do curso de Ciência da Computação e egresso do curso de Engenharia de Controle e Automação
Além de auxiliar na classe, o então aluno participou do Encontro de Iniciação à Docência e apresentou trabalhos no Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia (COBENGE). Um dos aprendizados mais marcantes, segundo ele, foi perceber a importância da figura do monitor como ponte entre os alunos e o conteúdo.
“Durante a monitoria, percebi o quanto esse espaço é importante para aproximar os estudantes com dúvidas e os monitores”, acrescenta. “Diferentemente da relação mais formal entre aluno e professor, a interação com o monitor cria um ambiente mais acolhedor, no qual os alunos se sentem à vontade para expressar suas dificuldades e questionamentos. Isso me fez enxergar o impacto positivo que a escuta ativa e o apoio individualizado podem ter no processo de aprendizagem.”
Hoje, Paulo é grato a seus professores (agora colegas de trabalho) que o acompanharam durante toda sua trajetória: “Ao final do primeiro ano [da graduação], fui convidado pelo meu orientador a atuar como estagiário na própria Universidade. Mais adiante, esse mesmo professor fez questão de me recomendar para o mestrado em Engenharia de Teleinformática, fortalecendo ainda mais minha trajetória acadêmica e profissional. Sou muito grato pelas oportunidades oferecidas pelo programa que a Unifor idealizou!”.
Conexões e descobertas
Na área da saúde, a atuação dos monitores é intensa e, muitas vezes, estende-se para além da graduação. É o caso de Evando Silva Filho, cirurgião-dentista e aluno do Mestrado Profissional em Odontologia (MPO) e da Especialização em Endodontia da Unifor.
Ele foi monitor bolsista nas aulas de Sistemas de Defesa (Microbiologia e Imunologia Geral) e Propedêutica Clínica I (Radiologia e Imaginologia Odontológica) durante o curso de Odontologia. Graças ao vínculo com professores e colegas, passou a integrar grupos de pesquisa e participar da organização de eventos, sendo frequentemente procurado por colegas que pedem opiniões clínicas, o que ampliou sua rede de contatos.
“Essa aproximação abriu portas para futuras orientações, indicações e parcerias em pesquisas e trabalhos científicos, algo muito importante no âmbito acadêmico”, ele explica. Evando presidiu o Grupo de Estudos em Radiologia Imaginologia Odontológica (IMAGINO) e foi colaborador em artigos, capítulos de livro e apresentações em congressos — com destaque para o Congresso Internacional de Odontologia do Ceará (CIOCE), reconhecido mundialmente.
De acordo com ele, um dos maiores aprendizados dessa experiência foi o da comunicação interpessoal. “Ganhei segurança para falar em público e aprimorei minha clareza na comunicação, habilidades essenciais para garantir uma comunicação eficiente com meus pacientes. Também desenvolvi minha capacidade de escrita acadêmica, o que facilitou muito a elaboração de trabalhos e a redação de relatórios mais claros e consistentes”, ressalta o mestrando.
“A Monitoria me proporcionou experiências práticas em comunicação, organização, gestão e liderança, que aplico diariamente na clínica, na especialização e no mestrado. O contato próximo com professores e colegas abriu portas para parcerias, orientações e a construção de uma rede sólida de apoio. Sem dúvida, foi um diferencial importante que me preparou para os desafios da carreira.” — Evando Silva Filho, egresso do curso de Odontologia e aluno da Pós-Unifor
Compartilhando saberes
Ao conversar com quem participou do programa, fica evidente que a Monitoria ultrapassa os limites da sala de aula. Ela prepara profissionais mais humanos, conscientes, cooperativos e interessados em devolver à sociedade aquilo que aprenderam.
Monitora da disciplina de História da Arte e do Design há um ano, Anita Araújo já vê resultados concretos de sua participação no Programa. A graduanda em Publicidade e Propaganda integra grupos de pesquisa e tem apresentado trabalhos em congressos, o que demonstra seu engajamento com as atuais discussões na sua área de atuação.
Ela é membro do Laboratório de Tecnologias da Comunicação e do Humano (LABTECH) e do Laboratório Artes, Memória Gráfica e Biograficidade (LAMBE). Ambas iniciativas, que são de cunho científico e promovidas pelo Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG), Anita conheceu por meio do Programa de Monitoria.
“A Monitoria foi incrível para a minha carreira acadêmica. Desenvolvi habilidades essenciais, trabalhei com professores experientes e ganhei confiança. Agora apresentei um artigo na Intercom Nordeste [Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste], o que mostra o impacto positivo da Monitoria na minha trajetória” — Anita Araújo, monitora e aluna do curso de Publicidade e Propaganda
A estudante relata que a troca diária com os professores, as orientações e os debates em grupo foram fundamentais para seu desenvolvimento e a ajudaram a enxergar a sala de aula como espaço de afeto e transformação, despertando o desejo de seguir carreira como docente.
Agora, ela se prepara para o próximo passo: além do trabalho no Intercom Nordeste, ela irá apresentar uma pesquisa no Encontro de Iniciação à Docência da Unifor, em outubro de 2025.
A Monitoria e os Encontros Científicos
A experiência como monitor não se limita somente às atividades de cada disciplina. Anualmente acontece o Encontro de Iniciação à Docência, que incentiva a produção e a apresentação de artigos pelos próprios monitores. Durante a ocasião, são analisados os trabalhos realizados por alunos participantes dos programas de Monitoria Institucional e Voluntária, tanto da Unifor quanto de outras universidades.
“O Encontro é uma oportunidade para os monitores terem a primeira experiência de produzir um artigo que pode ser fruto de observação da sala de aula ou de um conteúdo trabalhado na disciplina na qual é monitor”, destaca a professora Milena Baratta, assessora da Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e Pós-Graduação (VRE).
“[A participação nos Encontros Científicos] é importante porque inicia os monitores na atividade de pesquisa — um braço da atividade docente —, estreita os laços do aluno com o professor e proporciona um momento de socialização dos saberes, quando ocorre a apresentação das pesquisas” — Milena Barata, assessora da Vice-Reitoria de Ensino de Graduação e Pós-Graduação da Unifor
Além de introduzir os alunos à prática docente, o Encontro busca estimular o diálogo interdisciplinar e a troca de experiências entre monitores e docentes de diferentes instituições. Para os ex-monitores Evando e Enzo, o evento mostrou-se um espaço importante de circulação acadêmica e networking.
“Essas conexões me possibilitaram participar de projetos científicos, escrever e apresentar trabalhos em outros encontros acadêmicos e ingressar como bolsista em uma pesquisa de pós-doutorado, algo que foi extremamente enriquecedor para minha formação”, reforça Enzo.
Para Evando, que participou em 2022, o Encontro foi também um exercício de colaboração para oportunidades futuras: “Mesmo não sendo mais monitor [quando participei], fui convidado a colaborar em trabalhos de três colegas devido à minha experiência prévia no Programa e no evento. A Monitoria também me proporcionou contato próximo com professores, especialmente da Odontologia, o que favoreceu minha participação em outros eventos científicos”.
O Encontro de Iniciação à Docência faz parte dos Encontros Científicos realizados pela Unifor, que incluem também o Encontro de Iniciação à Pesquisa, o Encontro de Pós-Graduação e Pesquisa e o Encontro de Práticas Docentes.
Estes eventos oferecem espaço para apresentações, como mesas-redondas, comunicações orais, pôsteres e oficinas, além de proporcionar divulgação de projetos, relatos de experiência e pesquisas desenvolvidas pela comunidade acadêmica.
Para aprimorar a produção dos artigos submetidos, recomenda-se que os alunos consultem o edital vigente e os anais das edições anteriores. O Encontro de Iniciação à Docência também é aberto à participação de não-monitores, que podem acompanhá-lo como ouvintes.
+ SAIBA MAIS | Conheça os Encontros Científicos da Unifor
Como participar da Monitoria?
Para participar do processo seletivo do Programa de Monitoria Acadêmica da Unifor, o estudante precisa atender a alguns critérios específicos. É necessário:
- estar matriculado em curso de graduação presencial e ainda não ter chegado ao antepenúltimo semestre;
- ter cursado (ou estar cursando) a disciplina da qual deseja ser monitor, com desempenho igual ou superior a 7,0;
- enviar o histórico escolar;
- ter Performance Média Global (PMG) mínima de 7,0.
O programa contempla duas modalidades de participação: a Monitoria Institucional, voltada aos estudantes que recebem bolsa mensal como incentivo pelas atividades desenvolvidas; e a Monitoria Voluntária. Apesar de não oferecer auxílio financeiro, a Monitoria Voluntária é igualmente valorizada como experiência acadêmica e profissional, agregando diferenciais ao currículo de quem participa.
Por meio de um processo seletivo anual, os alunos aprovados recebem uma formação completa na chamada Jornada do Monitor, que os prepara para atuar em diferentes frentes: organização de grupos de estudo, curadoria de materiais, aulas de tira-dúvidas, produção científica, entre outras atividades.
“O Programa visa iniciar os alunos na atividade docente e, para isso, fomenta uma formação de 20 horas que trabalha as competências de vida do século XXI — cognição, comunicação, colaboração e cidadania — como forma de capacitar os alunos para suas atribuições como monitores”, explica Milena. A docente também ressalta como essas competências são essenciais tanto para o mundo acadêmico quanto para o mercado de trabalho.