“Nós podemos mudar nossas ruas para mudar o mundo”, afirma urbanista neozelandesa durante Fórum

 

Terça-feira, 07 Agosto 2018 18:00
Por Lara Montezuma

O desenho das ruas das cidades tem impacto econômico, social e ambiental na vida de seus habitantes. Atualmente, como consequência dos danos causados pelos acidentes no trânsito, há uma preocupação constante de transformar as ruas em espaços mais saudáveis, seguros e sustentáveis. Com foco nesta questão, o III Fórum do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza trouxe, na última segunda-feira (8), a participação da urbanista neozelandesa Skye Duncan para debater sobre o tema “Cidade para Pessoas” e incentivar a mudança de visão sobre do desenho urbano na cidade de Fortaleza.

A fala da especialista foi precedida pelo Secretário Executivo de Conservação e Serviços Públicos da Prefeitura de Fortaleza, Luis Alberto Saboia, que mostrou os planos e resultados da Prefeitura na área de mobilidade urbana e segurança viária desde 2014. Entre eles, está a mais recente intervenção do projeto “Cidade da Gente”, no entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, na rua Almirante Jaceguai. Segundo o Secretário, a ideia é potencializar essa área para que ela possa ser utilizada de diferentes maneiras e por diferentes públicos.

           Antes e depois do projeto "Cidade da Gente" no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. 

A ação teve o apoio da Iniciativa Bloomberg de Segurança Viária Global e também contou com a ajuda de Skye Duncan durante a sua idealização e implementação. Segundo ela, nós precisamos visualizar nossas ruas como espaços que não servem apenas para carros, mas também para lazer. “As ruas são plataformas para muitas atividades. Elas também são lugares para brincar, andar, celebrar”, afirma. Assim, a visão sobre a importância das ruas irá mudar e, consequentemente, impactar positivamente a vida de quem trafega por elas.

Ela ainda menciona os motivos pelos quais essa mudança é necessária. Além da influência negativa que a grande quantidade de carros tem em questões climáticas, na biodiversidade, na economia e na saúde, ainda há o número assustador de acidentes que ocorrem nas vias das cidades ao redor do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) uma pessoa morre a cada 23 segundos no trânsito e 1 em cada 3 vítimas são pedestres, grupo de pessoas mais vulneráveis no trânsito, assim como os ciclistas.

“Os usuários mais vulneráveis são quem devemos pensar quando desenhamos nossas ruas”, defende a urbanista. Isto é possível através de um conjunto de ações e medidas a cargo de profissionais técnicos e também da sociedade civil, como a priorização de transportes coletivos e sustentáveis, além da capacidade de possibilitar a locomoção de pedestres e ciclistas nos desenhos das cidades, com ciclofaixas e áreas exclusivas para pedestres. Para que isso ocorra, é necessário que os planejadores consigam compreender o contexto das ruas, já que elas “ensinam e induzem um comportamento”.

Também é importante atentar aos fatores de risco apontados pela OMS, como o excesso de velocidade, a falta do uso de capacete por motociclistas e o consumo de álcool associado à direção nos projetos de desenho urbano para prevenir mortes e ferimentos. A partir de experiências de outras cidades e em Fortaleza, diminuir o limite de velocidade traz resultados que podem reverter o risco de morte em caso de acidentes no trânsito. No entanto, embora esses sejam desafios recorrentes, Skye acredita que o maior empecilho nesta questão é outro. “Se eu pudesse fazer um pedido, eu acho que eu pediria para que todos que desenham as ruas fossem capaz de ter um par de óculos com lentes capazes de colocar as ‘pessoas’ em primeiro lugar”, convida a especialista.

Para ela, o mais difícil é transformar a maneira de pensar das pessoas e que elas possam compreender que a política da segurança viária não é sobre ser anti-carros, e sim sobre “viabilizar outras alternativas”. O futuro da problemática parece esperançoso diante da visão de Skye, visto que cada vez mais surgem diferentes medidas ao redor do mundo, possibilitando a inspiração de pessoas capazes de aplicar estas mudanças em outros lugares.  

Confira os materiais utilizados no evento pelo Secretário Luiz Alberto Saboia e pela urbanista Skye Duncan

 

 

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