Comitê de Segurança Viária busca atuar como vetor de engajamento da sociedade
Segunda-feira, 03 Setembro 2018 15:30
Por Lara Montezuma
O que fazer para que a segurança viária esteja sempre em pauta em Fortaleza? Essa foi uma das principais perguntas que lideraram o debate da IV Reunião do Comitê de Segurança Viária de Fortaleza, realizado na última terça (28) na Universidade de Fortaleza. Com a participação de representantes da sociedade civil, indústria, comércio e representantes de órgãos públicos o evento ofereceu visibilidade e oportunidade para discutir problemáticas de segurança no trânsito, tendo como enfoque a segurança dos pedestres.
Dentre as soluções destacadas durante a fala do Secretário Executivo de Conservação e Serviços Públicos de Fortaleza e presidente do Comitê Municipal de Segurança Viária, Luiz Alberto Saboia, é necessário criar uma coligação entre as demais organizações operantes na cidade e, assim, trabalhar de maneira conjunta para melhorar a situação viária atual, de maneira contínua ao passar dos anos, já que o assunto abordado na Reunião tem impacto direto em 4 das 5 principais causas de morte na capital do Ceará e também é uma questão de saúde pública.
As ações realizadas entre a sociedade pública e civil tem um grande potencial para modificar o olhar desta e das futuras gerações acerca da segurança viária. É necessário que as pessoas que ocupam as vias entendam que as ruas são mais do que um espaço viário para a passagem de veículos e é imprescindível incentivos para que elas sejam ocupadas por outros propósitos, como lazer por exemplo. Esta mudança coloca o pedestre como prioridade no trânsito, com medidas que garantam sua segurança.
Ao compartilhar informações e alinhar o entendimento da sociedade pública e civil sobre o assunto, torna-se possível também encarar o problema como uma questão de saúde pública primordial e também diminuir a desvalorização das mortes e feridos no trânsito. “Quando se tem 5 mortes de sarampo, a cidade entra em alerta. Mas quando há 200 mortes no trânsito, é normal e aceitável”, declara Saboia. De acordo com o secretário, esta sensibilização foi apenas o 1º ciclo das reuniões do Comitê, de caráter informativo. O plano de ações traçados pelos envolvidos nestes eventos vai fazer parte de um 2° ciclo de ações, viabilizado através de encontros bilaterais para refletir e executar intervenções apropriadas para esta questão.
Analisar para agir
Um ponto fundamental para que as medidas propostas sejam efetivas é a análise de dados para pontuar os principais fatores de riscos. Segundo pesquisas feitas pelo Universidade Johns Hopkins e apresentadas durante a fala do coordenador do Observatório de Segurança Viária de Fortaleza, Ezequiel Dantas, os pedestres representam 1 em cada 3 vítimas que morrem em acidentes nas ruas da capital cearense.
Um dado preocupante e disponível no site Observatório de Segurança Viária é a quantidade de pedestres que morreram entre 2004 e 2017 na cidade, totalizando 1.918 mortes, o que seria equivalente a 9 boeings 737 lotados. A maioria destes acidentes foram causados pelo excesso de velocidade que, para Saboia, “está para morte no trânsito assim como a água parada está para a epidemia de dengue”. Esses acidentes poderiam diminuir caso a legislação brasileira fosse reformulada e estivesse de acordo com o limite de velocidade de 50 km/h recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em vias urbanas. No entanto, o máximo de velocidade pode chegar até 60 km/h em vias arteriais, segundo o Código de Trânsito Brasileiro.
“A situação é grave, mas é um problema que tem solução”, afirma Dantas. Um grande avanço já aconteceu na compreensão de como os acidentes acontecem. A sociedade deixou a visão de que as fatalidades faziam parte do destino e já começou a entender que os comportamentos individuais no trânsito têm impacto no decorrer de acidentes. No entanto, a compreensão ideal uniria as ações de cada um com uma gestão sistemática que envolve fiscalização, educação, comunicação e desenho urbano.
Dentre as intervenções bem sucedidas em outros países, notadamente na Europa, que podem ser usadas como exemplos aplicáveis em Fortaleza, destacam-se a priorização de pedestres, como foi feito no entorno do Centro Cultural Dragão do Mar Arte e Cultura neste mês de Agosto e também as áreas de trânsito calmo, que buscam facilitar o tráfego de pedestres e de pessoas com mobilidade reduzida. A intenção é que o pedestre se sinta cada vez mais inserido e confortável de estar nas ruas de sua cidade e seja mais respeitado pelos condutores de veículos.