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Seg, 13 Fevereiro 2023 15:53

Pesquisa Unifor: Estudo analisa preparo de residentes pediátricos em cuidados paliativos

Dissertação de egressa do Mestrado em Ciências Médicas, a pesquisa identificou dificuldade de médicos residentes para lidar com o tema na pediatria


A pesquisa entrevistou residentes de pediatria e avaliou o preparo dos profissionais na hora dos cuidados paliativos com pacientes (Foto: Getty Images)
A pesquisa entrevistou residentes de pediatria e avaliou o preparo dos profissionais na hora dos cuidados paliativos com pacientes (Foto: Getty Images)

Entre as diversas especialidades existentes na medicina, a pediatria se destaca, sobretudo, pelos cuidados direcionados às crianças, que vão desde o acompanhamento do crescimento até os tratamentos de enfermidades e paliativos. Por isso, a formação de qualidade e competência em profissionais que lidam com a vida dos pequenos é de extrema importância.

A partir dessa perspectiva, Marcia Degobi — mestre em Ciências Médicas pela Universidade de Fortaleza e médica pediatra especialista em cuidados paliativos —, produziu um artigo intitulado “Escutando os Residentes: A Percepção da Educação em Cuidados Paliativos Pediátricos em um Programa de Residência no Brasil” (“Listening to the residents: The perception of pediatric palliative care education in a residency program in Brazil”, em inglês).

Fruto de sua dissertação, o estudo de Marcia buscou identificar as falhas educacionais percebidas por residentes de pediatria em cuidados paliativos pediátricos ao longo da formação acadêmica. Para a pesquisa, avaliou participantes dos programas de residência médica na Escola de Saúde Pública do Ceará por meio do “Questionário de Cuidados Paliativos Pediátricos”, desenvolvido na Universidade de Stanford, na Califórnia.

Assim foi possível coletar informações importantes sobre a relação da formação dos médicos pediatras com a área de cuidados paliativos. Tais dados apresentaram que:

  • Dentre os residentes que já haviam concluído a residência de pediatria geral, 82% afirmou não ter recebido nenhuma aula de cuidados paliativos (“zero” hora de formação);
  • Dentre todos os entrevistados, 20% referiu “zero” hora de formação em cuidados paliativos na graduação;
  • 44% citaram “desconforto” ao participar de reuniões sobre “fim da vida” com familiares;
  • 47% mostraram-se “confortáveis” no quesito “controle da dor durante o processo de morrer”;
  • 35% demostraram “desconforto” ao explicar o significado de “não reanimar, entubar ou usar drogas vasoativas”;
  • 55% disseram ficar “desconfortáveis” ao recomendar a interrupção de suporte artificial de vida;
  • 93% afirmaram ter “desconforto” ou “muito desconforto” ao permanecer ao lado do leito quando a criança morre;
  • 41% alegaram estar “confortáveis” ao conversar com a família sobre a doação de órgãos da criança.

Com os resultados, ficaram evidentes as falhas no processo de instrução aos médicos pediatras na seção de cuidados paliativos, originadas pela baixa carga horária desta área tanto na graduação quanto na pós-graduação.

Marcia comenta que, com os problemas em evidência, é possível mitigá-los a partir da realização de atividades educativas, como aulas, simpósios, cursos, pequenos vídeos, conferências e encontros com pais enlutados. “O importante é efetuarmos medidas que tragam o assunto para o dia-a-dia do profissional e quebre o tabu em relação à morte e ao cuidado paliativo”, afirma a pesquisadora.


(Foto: Arquivo pessoal)

“Cuidado paliativo não é sinônimo de morte, pois é oferecido em conjunto com o tratamento modificador da doença. Pacientes em cuidados paliativos podem receber a cura e a alta hospitalar! Assim, é permitido que a criança (e sua família) sejam respeitados enquanto pessoas, levando em consideração seus aspectos sócio-emocionais, crenças e cultura, porque essa visão holística é tão importante quanto o cuidado físico no processo de tratamento do paciente”, esclarece a médica pediatra e mestre em Ciências Médicas pela Unifor.

Publicação Internacional

Em dezembro de 2022, o artigo foi publicado na “American Journal of Hospice and Palliative Medicine”, importante revista estadunidense que aborda temas relacionados aos cuidados paliativos e estimula a produção de conhecimento nessa área da medicina. Tal fato demonstra a importância social da pesquisa e sua relevância no ramo.

Geraldo Bezerra, docente do Mestrado em Ciências Médicas e orientador do estudo, afirma que a exposição do trabalho permitirá a formação de profissionais mais capacitados e, consequentemente, com maior habilidade para prover um atendimento de qualidade às crianças e seus familiares.


(Foto: Arquivo pessoal)

“Durante a realização da pesquisa, os residentes já despertaram para a importância dos cuidados paliativos. As matrizes curriculares deverão ser revistas, o que já é um processo que sempre vem sendo realizado, e os cuidados paliativos deverão ser incluídos na formação dos médicos pediatras”, pontua Bezerra.

Mestrado em Ciências Médicas 

O Mestrado em Ciências Médicas da Unifor faz parte de um importante programa de pós-graduação da Universidade de Fortaleza que visa aprimorar e qualificar a prática profissional. Também busca agregar conhecimentos e habilidades relacionados à gestão ágil, competente e criativa do conhecimento científico na área das Ciências Médicas, assim como desenvolver competências de liderança, tomada de decisões, criatividade e inovação.

Dessa forma, os alunos estarão aptos a aproveitar melhor as oportunidades profissionais na área da saúde, sejam elas relacionadas à prática assistencial, docência no ensino superior, pesquisa científica e gestão educacional ou de saúde.