null Pesquisa Unifor: Estudo analisa possíveis novos métodos de tratamento para Covid-19

Seg, 11 Março 2024 14:20

Pesquisa Unifor: Estudo analisa possíveis novos métodos de tratamento para Covid-19

Produzida pelo Núcleo de Biologia Experimental da Unifor, o projeto ainda visa abrir novos caminhos para o desenvolvimento de tratamentos contra outras doenças


Os pesquisadores utilizaram uma abordagem inovadora para desenvolver o trabalho (Ilustração: Getty Images)
Os pesquisadores utilizaram uma abordagem inovadora para desenvolver o trabalho (Ilustração: Getty Images)

A disseminação em larga escala do vírus SARS-Cov-2, que aconteceu na última pandemia, fez com que cientistas de todo o mundo investigassem diversos métodos para combater a infecção. Além das fórmulas de vacinas, eles também buscaram maneiras de minimizar os efeitos da doença o máximo possível, incluindo o desenvolvimento de tratamentos e medicamentos.

Nesse contexto, o Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, conduz uma pesquisa intitulada “Da Natureza ao Combate à Covid: A Jornada Científica na Busca de Medicamentos Inovadores, Seguros e Eficazes”. Iniciado em 2022, o trabalho é produzido pelos pesquisadores Ana Cristina Moreira, Natália Vieira, Antonio Vieira Neto e Ernani Magalhães.

O estudo possui diversos objetivos centrais e ambiciosos alinhados com as discussões pertinentes ao atual contexto da saúde global. De início, ele visa expandir significativamente a gama de opções terapêuticas disponíveis para o combate à Covid-19, o que é de extrema importância dada a persistência e evolução do vírus.

Com tal propósito, os cientistas adotam uma abordagem inovadora, que se diferencia pela busca de alternativas mais sustentáveis e potencialmente mais eficazes do que os tratamentos disponíveis hoje. Para isso, é envolvida a exploração de compostos de origem vegetal.


Espera-se que os resultados da pesquisa contribuam significativamente para avanços na área, demonstrando a viabilidade de usar moléculas vegetais no tratamento do vírus. Isso poderia levar a opções terapêuticas mais seguras e acessíveis, aproveitando fontes renováveis. Além disso, destacaria o reposicionamento de fármacos como estratégia eficiente e econômica para tratamentos inovadores.” — Ana Cristina Moreira, pesquisadora e diretora do Nubex

Além disso, a pesquisa tem o potencial de contribuir significativamente para a ciência ao abrir caminhos no desenvolvimento de tratamentos eficazes não só contra a Covid-19, mas também contra outras enfermidades. Isso amplia a aplicação de recursos naturais na medicina moderna, promovendo avanços mais amplos e abrangentes.

“Essa abordagem não apenas enriquece o arsenal terapêutico disponível, mas também promove uma maior integração entre conhecimentos tradicionais e tecnologias de ponta na busca por soluções de saúde inovadoras e acessíveis”, comenta Cristina.

Metodologia 

Para o desenvolvimento do estudo, os pesquisadores estruturam o trabalho em três fases. Cada uma delas tem o objetivo de abordar diferentes questões da pesquisa sobre o potencial terapêutico de biomoléculas de origem vegetal contra o vírus SARS-CoV-2 e suas variantes. As etapas são:

  • Fase de Compatibilidade in silico

Iniciada em 2021, esta fase primordial foca na análise computacional para identificar a interação entre biomoléculas vegetais e as proteínas estruturais do vírus SARS-CoV-2, incluindo suas variantes mais prevalentes.

Utilizando técnicas avançadas de bioinformática, esta etapa já resultou na seleção preliminar de cinco moléculas com potencial terapêutico — quatro terpenos e uma lectina vegetal —, destacando-se pela sua promissora capacidade de interação com o vírus.

  • Fase de Eficiência in vitro

Com a progressão para a segunda fase, as moléculas identificadas como mais promissoras serão submetidas a testes in vitro, que são aplicados a células cultivadas laboratorialmente e infectadas pelo SARS-CoV-2.

Esta fase crucial será conduzida em ambientes biocontidos de alta biossegurança (Laboratórios NB3) no Nubex, contando com o suporte de pesquisadores especializados na manipulação segura de patógenos de alto risco. O objetivo é avaliar a eficácia dessas moléculas em inibir a replicação viral em um contexto celular. Essa fase será iniciada em 2024.

  • Fase de Eficiência e Biossegurança in vivo

A terceira fase do estudo avança para a avaliação in vivo, utilizando o modelo peixe-zebra como organismo experimental. Esses peixes serão infectados com o vírus SARS-CoV-2 e, posteriormente, tratados com as moléculas vegetais selecionadas. Isso permite uma avaliação detalhada não apenas da eficácia terapêutica, mas também da biossegurança e de potenciais efeitos tóxicos em organismos vivos.

A execução desta etapa essencial ocorrerá dentro dos rigorosos parâmetros de biossegurança no Laboratório NBA3 do Nubex, garantindo um ambiente biocontido e seguro para a condução dos experimentos.

A equipe de cientistas já coletou e divulgou os resultados oriundos dos experimentos in silico em compêndios de congressos especializados, tais como os Encontros Científicos da Universidade de Fortaleza.

Esses dados foram detalhados nos trabalhos intitulados “Proteínas estruturais do novo coronavírus podem ser neutralizadas por terpenos de origem vegetal” (2022) e “Potencial anti-covid de uma lectina de Dioclea altíssima: compatibilidade estrutural com o Sars-CoV-2” (2023), respectivamente. 

Já a experimentação in vitro será realizada nos laboratórios de Nível Biossegurança 3 (NB3) do Nubex. Os resultados dessa etapa fundamentarão as fases de experimentação in vivo subsequentes. 

Os resultados esperados 

Ao término da pesquisa (previsto para 2025), espera-se concluir que as moléculas vegetais mais promissoras e compatíveis tenham a capacidade de desestabilizar a estrutura do novo Coronavírus, comprometendo sua função e reduzindo sua replicação viral.


O estudo está com sua conclusão prevista para 2025 (Foto: Getty Images)

A divisão da pesquisa em fases possibilita uma avaliação abrangente, que vai desde a viabilidade teórica até a aplicação prática. Isso assegura uma investigação profunda e detalhada dos candidatos a fármacos, garantindo um processo bem estruturado e amplo.

Por meio dessa abordagem, os pesquisadores aproximam-se dos resultados desejados. A combinação das três óticas experimentais — in silico, in vitro e in vivo — visa reduzir potenciais riscos, realizar uma avaliação criteriosa da segurança e da toxicidade das substâncias, e, por fim, contribuir para a expansão do repertório de tratamentos disponíveis.

Isso inclui a introdução de novos biofármacos destinados ao combate da Covid-19 e outras doenças, fornecendo uma base sólida para avanços significativos na área da saúde.

Os reflexos positivos do trabalho 

De acordo com os cientistas, produzir esse estudo ainda resultará em legados positivos que podem ser benéficos tanto para a sociedade como para a ciência. No campo científico, a pesquisa proporciona insights originais sobre as interações entre biomoléculas vegetais e proteínas virais.

Além disso, contribui para a formação de profissionais altamente qualificados, capacitando-os com o conhecimento necessário para avançar na busca por novas soluções terapêuticas no enfrentamento a doenças emergentes.

No contexto social, os impactos do trabalho estão ligados à possibilidade de oferecer alternativas terapêuticas vegetais contra a Covid-19, o que pode representar uma melhoria significativa nos indicadores de saúde pública.

A introdução de novos fármacos destinados a combater essa doença pode ter um efeito positivo amplo na sociedade, oferecendo opções mais acessíveis e potencialmente eficazes para enfrentar a enfermidade.

“Os benefícios deste estudo se estendem desde o avanço do conhecimento científico até a promoção da saúde e bem-estar da população, destacando seu papel vital no enfrentamento de desafios de saúde pública contemporâneos”, ressalta Cristina.