seg, 10 fevereiro 2025 11:14

Nubex: um parque completo para inovar a formação médica

Alunos, egressos e professores contam como um robusto núcleo com laboratórios de ponta da Universidade de Fortaleza contribui para uma formação de excelência - do treinamento de habilidades médicas à pesquisa para soluções inovadoras que melhorem a saúde das pessoas

Criado há mais de uma década, o Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Universidade de Fortaleza, vinculada à Fundação Edson Queiroz, é uma ferramenta preciosa na formação médica de excelência. Em um amplo prédio de 2.774,9m², laboratórios e equipamentos de ponta são usados por professores e alunos empenhados em pesquisar, experimentar e buscar soluções de vanguarda na área da saúde, especialmente na medicina, com potencial de transformar a vida das pessoas.

No Nubex, os futuros médicos acessam tecnologia de ponta e exercitam práticas inovadoras em um ambiente de aprendizado colaborativo que os prepara para os desafios reais da profissão. É lá, por exemplo, que eles são apresentados a hacks de vídeo cirúrgico e bisturi elétrico ou que melhoram suas habilidades com modelos para procedimentos como correção de hérnia.

Se por um lado o Núcleo funciona como ambiente de simulação cirúrgica, por outro é também um equipamento importante para o desenvolvimento de pesquisa e de atividades das ligas acadêmicas, que promovem ações para aprofundar o conhecimento sobre técnicas cirúrgicas avançadas e especialidades específicas, além de promoverem cursos especiais. 

Os laboratórios do Nubex ainda servem como base para as Trilhas de Conhecimento do curso de Medicina da Unifor e recebem projetos de pesquisa em laboratórios especializados, incentivando a iniciação científica desde o começo da graduação. Ali, há um estímulo constante para o pensamento e a pesquisa em favor da vida, com todas as ferramentas necessárias para buscar soluções e inovar.

É daí que surgem descobertas relevantes como a produção de biofármacos através do leite de caprinos geneticamente modificados ou o uso de nanotecnologia para a liberação controlada de medicamentos administrados via oral para fins terapêuticos. Também é lá que futuros médicos estão buscando reduzir sequelas de AVC ou investigar intervenções terapêuticas mais efetivas para o traumatismo craniano, por exemplo.

“O Nubex não apenas facilita a aquisição das habilidades técnicas necessárias, mas também promove a pesquisa, a inovação e o pensamento crítico”, destaca a diretora do Núcleo, Ana Cristina de Oliveira.

O Núcleo é um importante diferencial da Unifor para formar médicos bem-preparados, adaptáveis e prontos para enfrentar os desafios de um setor de saúde em constante evolução. Quem reconhece isso é a própria comunidade acadêmica. A seguir, alunos, egressos e professores contam como a passagem pelo Nubex em diversos projetos impacta a formação e a carreira na Medicina.

Uma experiência para abrir portas na pesquisa

O médico Leonardo de Macedo Filho trabalha hoje como research fellow no departamento de neurocirurgia da Pennsylvania State University, nos Estados Unidos. Egresso do curso de Medicina da Unifor, ele conta que foi no Nubex que construiu o entendimento da pesquisa experimental como a fase inicial de pesquisas clínicas, às quais se dedica atualmente.

Leonardo atua na busca pela cura do glioblastoma, um câncer cerebral bastante agressivo. “Estudamos a biópsia líquida para tumores cerebrais, além de medicações nessa área neuro-oncológica. É um desenvolvimento em pesquisa no qual saímos do laboratório para descobrir e curar efetivamente nossos pacientes”, conta.

Essa jornada começou ainda durante a graduação, quando conheceu o Nubex por meio da professora Adriana Rolim. “[Foi] onde pude desenvolver minha linha de pesquisa sobre traumatismo craniano e dor neuropática”, diz. Segundo Leonardo, o Núcleo não foi apenas incubador de seu projeto, mas da sua formação acadêmica e profissional.

“Foram três pesquisas desenvolvidas em trauma craniano em ratos que hoje trazem resultados no cenário internacional, como a recente premiação no Congresso Americano de Neurocirurgia como melhor trabalho de trauma e neurointervencionismo”, afirma.

Ele se refere à pesquisa “A Rat Model of Second Impact Syndrome in Diffuse Traumatic Brain Injury: Evidence of Facial Pain, Neurological and Other Behavioral Alterations, and Immunological and Histopathological Tissue Changes”, que conquistou no ano passado o prêmio Natus Resident/Fellow Award for Traumatic Brain Injury (Neurotrauma and Critical Care), concedido pelo Congress of Neurological Surgeons (CNS).

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“Esse projeto baseia-se na síndrome do impacto”, explica. Junto com outros pesquisadores, Leonardo desenvolveu um modelo de trauma fechado em ratos e aplicou impacto. A conclusão sugere que a Síndrome do Segundo Impacto (SIS) e a lesão cerebral traumática (TBI) induzem alterações significativas nas funções neurológicas e comportamentais, além de desencadear respostas inflamatórias no sistema nervoso central.

Essas descobertas contribuem para uma compreensão mais detalhada das consequências dessas condições, fornecendo uma base para futuras pesquisas sobre os mecanismos que governam o SIS e abrindo portas para o desenvolvimento de possíveis intervenções terapêuticas.

“O Nubex é um núcleo de ponta e um grande centro de pesquisa experimental comparável a grandes instituições internacionais”, afirma Leonardo, que também trabalhou em instituições como a Mayo Clinic e a Universidade de Utah.

Experimentar e se comprometer para melhorar a vida das pessoas

Júlia Albuquerque está no 6º semestre de Medicina na Unifor, mas já sente os impactos positivos de ter uma estrutura como a do Nubex durante a graduação. Ela conta que, quando se matriculou no curso, já tinha interesse pela área acadêmica.

Logo no primeiro semestre, conversou com professoras sobre a possibilidade de fazer pesquisa na área da Neurologia. Ali descobriu o caminho das pedras, preparou o currículo e foi selecionada para participar do projeto de mestrado da médica neurologista Hellen Lacerda, sobre acidente vascular cerebral (AVC) em zebrafish (peixe-zebra, em português), no Nubex. 

Já são dois anos de trabalho e experimentos que buscam reduzir ou acabar com as possíveis sequelas do AVC por meio de três pesquisas relacionadas a zebrafish, um peixe que tem o equivalente a 70% do DNA humano. “Nelas, nós trabalhamos com substâncias que possam diminuir ou mesmo cessar as possíveis sequelas do AVC”, conta.

Atualmente, Júlia faz pesquisa nos dois laboratórios de zebrafish presentes no Nubex, onde também atuam vários outros alunos e profissionais. “Realizar iniciação científica lá me trouxe a habilidade de trabalhar em equipe, aprendendo a organizar a dinâmica em grupo para que todos os interesses sejam respeitados e guiados para o bem comum das pesquisas”, diz. Nesse contexto, a aluna destaca que a prática da medicina é, por natureza, colaborativa, objetivando o atendimento integral e humanizado do paciente. 

Para ela, todas essas experiências no Nubex contribuem de forma muito positiva para a sua formação médica. “Quando um projeto de pesquisa é elaborado e colocado em prática, necessita-se de organização, uma boa metodologia de trabalho e  muita disciplina. Desenvolver essas habilidades enquanto aluna de iniciação científica no Nubex está sendo muito enriquecedor para a minha formação”, declara.

Outro ponto positivo é o estímulo essencial para exercer a criatividade para a resolução de problemas quando se trata de pesquisa experimental. “Às vezes, os planos não saem como esperamos, e precisamos resolver a situação rapidamente. Estar aprimorando as minhas habilidades de inovar e de tomar decisões imediatas está sendo muito relevante e contribuirá para a minha futura carreira”, acredita.

Júlia afirma que a ampliação do conhecimento científico é um dos melhores diferenciais que a experiência no Nubex lhe trouxe. Foi lá que ela aprendeu a identificar um artigo científico confiável, aprimorou a escrita acadêmica e desenvolveu habilidades sociais e operacionais essenciais para a profissão que escolheu.

“A prática da Medicina não se sustenta sem um alicerce científico de qualidade, bem como o cuidado da saúde precisa ser baseado em evidência. Nessa perspectiva, tem sido incrível fazer ciência e participar um pouquinho desse pilar”, finaliza.

Ambiente valioso para exercitar a prática cirúrgica

Todas as noites de quarta-feira, o professor Francisco Julimar conduz os alunos que participam da Liga de Cirurgia Geral (LiCiG) da Unifor até o Nubex.  “Além de aulas convencionais, utilizamos o centro cirúrgico para treinamentos com estações diversificadas: instrumental e instrumentação cirúrgica, pontos e nós cirúrgicos, videocirurgia (laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva) e anastomoses do trato gastrointestinal feitas em peças cirúrgicas”, conta.

O Núcleo também é usado para que turmas do 5º semestre de Medicina tenham uma tarde de imersão em cirurgia do aparelho digestivo. Na disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Profissional V, os estudantes têm demonstrações de como é feita uma colostomia e uma gastrostomia, além de se aprofundar nos tipos de dietas para o paciente, instrumental cirúrgico e tipos de fios.

“O diferencial é proporcionar a imersão em uma sala de cirurgia, demonstrar como se paramentar, o instrumental, o hack video cirúrgico e cada componente (óptica rígida e flexível, cabo de fibra óptica, fonte luz fria, monitor, insuflador, cilindro de CO2 estéril). Isso permite uma fixação do conhecimento exposto, passando a ser uma vivência, saindo do aspecto teórico e aproximando o aluno da realidade de um centro cirúrgico”, explica o professor.

Para ele, o contato com o ambiente de simulação realística e o treinamento de habilidade em modelos e peças cirúrgicas ativa no discente uma conexão entre o pensar e o fazer. É um momento para ele internalizar que pode e consegue. Tudo isso faz parte de um novo momento da formação acadêmica, relacionado à construção da habilidade manual com destreza e precisão.

“O estudante vivencia o treinamento, a educação, a organização, o passo a passo da atividade, indicando um caminho para a pesquisa ou docência, uma vez que nessas práticas trabalhamos o ensino por pares - peer learning - com discente ensinando discente”, explica Julimar.

Muitos caminhos para práticas inovadoras no currículo!

O Nubex desempenha um papel importante na formação profissional e acadêmica dos estudantes de Medicina ao integrar tecnologia de ponta e práticas inovadoras diretamente no currículo. É o que destaca a diretora Ana Cristina de Oliveira, que também é docente do Mestrado em Ciências Médicas, do Doutorado em Biotecnologia e da graduação em Farmácia da Unifor.

“Este núcleo vai além da sala de aula tradicional, proporcionando um ambiente de aprendizado colaborativo e prático”, afirma. Estudantes de Medicina podem chegar ao Nubex por muitas frentes, seja em disciplinas que garantem o exercício prático nos laboratórios, passando por projetos de iniciação científica, ações das ligas acadêmicas, cursos e eventos especiais. 

Segundo Ana Cristina, ao inserir os alunos em um ambiente de tecnologia avançada que simula a prática médica real, o Nubex destaca-se como um diferencial no curso de Medicina e ajuda a formar médicos de excelência em um setor em constante evolução.