Orgulho Unifor: Pesquisa sobre sequelas da sífilis congênita em crianças recebe prêmio internacional
seg, 19 maio 2025 15:45
Orgulho Unifor: Pesquisa sobre sequelas da sífilis congênita em crianças recebe prêmio internacional
Estudo interdisciplinar liderado por docentes e estudantes da Unifor, em parceria com a Universidade de Harvard, ganha prêmio de melhor tema clínico no BRAVS Meeting Retina

Um estudo liderado por docentes e estudantes da Universidade de Fortaleza, instituição mantida pela Fundação Edson Queiroz, em parceria com a Universidade de Harvard, recebeu o Prêmio Walter Takahashi de Melhor Tema Livre Clínico. A ocasião se deu no mês de abril, em Curitiba, durante o 49º BRAVS Meeting Retina 2025, maior congresso da América Latina dedicado às doenças da retina e do vítreo e que reúne os principais especialistas da área em nível nacional e internacional.
Coordenado pela pesquisadora Maria Alix Leite de Araújo, docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Unifor, o projeto concentrou-se na avaliação de sequelas em crianças nascidas com sífilis congênita no ano de 2015, período em que o mundo enfrentava uma escassez da penicilina — único antibiótico com eficácia comprovada para o tratamento da doença.
O desabastecimento global da medicação forçou a adoção de tratamentos alternativos, como o uso do antibiótico ceftriaxona, cuja eficácia ainda era incerta. O estudo acompanhou essas crianças, hoje com cerca de oito anos, buscando compreender possíveis repercussões tardias, sobretudo em aspectos oftalmológicos, pediátricos e neurológicos.
“Essa pesquisa, trouxe muitos benefícios para as crianças, que puderam ser atendidas por profissionais do mais alto gabarito. Ouvimos muito das mães que ‘os filhos nunca tinham recebido um atendimento tão completo’”, relata Maria Alix.
A pesquisa foi marcada por um forte trabalho em equipe, reunindo professores e alunos da graduação e da pós-graduação da Unifor em uma atuação interdisciplinar. A colaboração entre diferentes áreas da saúde foi essencial para o desenvolvimento da pesquisa e para a qualidade dos atendimentos realizados.
O grupo atuou de forma interdisciplinar, reunindo ainda profissionais e estudantes dos cursos de Enfermagem, Fonoaudiologia, Medicina e Nutrição. Essa tática ampliou a abordagem e fortaleceu a qualidade dos atendimentos.
Parte da equipe responsável pela condução da pesquisa sobre sífilis congênita (Foto: Arquivo pessoal)
Além da professora Maria Alix, a equipe contou com a participação de diversos alunos, egressos e professores da Unifor:
- Rivianny Arrais e Samuel Montenegro, docentes do curso de Medicina;
- Ana Beatriz Fernandes e Rian Vilar, discentes do curso de Medicina;
- Beatriz Dias, discente do curso de Fonoaudiologia;
- Ana Fátima Braga, egressa do curso de Enfermagem e doutoranda em Saúde Coletiva;
- Ana Patrícia Alves, egressa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
Reconhecimento e impacto
O aluno Rian Vilar destaca a surpresa e a emoção ao receber o prêmio, especialmente por ter sido entregue pelo próprio doutor Walter Takahashi. Para ele, a premiação evidencia o grande potencial da ciência brasileira e representa um forte incentivo para seguir na trajetória acadêmica e na pesquisa científica.
“Foi uma surpresa extremamente gratificante! Sabíamos do potencial do nosso projeto, mas era difícil acreditar que seríamos selecionados entre tantos concorrentes. Esse prêmio evidencia o grande potencial da ciência brasileira, especialmente da pesquisa cearense” — Rian Vilar, aluno do curso de Medicina e membro da pesquisa
O trabalho foi desenvolvido com o apoio do Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI), onde ocorreram os atendimentos às crianças. Contou ainda com o financiamento da própria Universidade de Fortaleza, por meio do Programa de Apoio a Equipes de Pesquisa.
“A Unifor foi fundamental para que essa pesquisa acontecesse, desde a estrutura física até o financiamento. A coleta de dados foi realizada nas dependências do NAMI, utilizando seus equipamentos e estrutura. Sem esse apoio, a pesquisa certamente não teria sido viável”, completa Rian.
Para a enfermeira e mestre em Saúde Coletiva Ana Patrícia Alves, que coordenou parte dos atendimentos, o trabalho teve grande impacto profissional e social. Ela esteve envolvida em todas as etapas do projeto, atuando desde a convocação das famílias até a organização dos atendimentos e análise dos dados.
“Receber o prêmio Walter Takahashi de Melhor Tema Livre Clínico foi uma grande alegria e também uma responsabilidade, por reconhecer o trabalho coletivo e reforçar a relevância da pesquisa. No campo acadêmico, representa um incentivo para continuar investigando e compartilhando conhecimento com ainda mais dedicação” — Ana Patrícia Alves, enfermeira obstetra, mestre em Saúde Coletiva e membro da pesquisa
Segundo a pesquisadora, o estudo buscou identificar possíveis complicações em crianças diagnosticadas com sífilis congênita que, ao nascerem, não receberam o tratamento adequado, situação que poderia gerar sequelas, especialmente oftalmológicas, durante a fase escolar.
Sobre o evento
Promovido pela Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV), o BRAVS Meeting Retina é reconhecido como o principal encontro científico da área no Brasil. Segundo a professora Maria Alix, o evento valoriza pesquisas inovadoras, atualiza diretrizes clínicas e promove intercâmbio com especialistas de renome internacional.
“Receber esse reconhecimento em um congresso dessa magnitude é motivo de grande orgulho. Mostra que nosso trabalho tem relevância não apenas local, mas internacional. É um estímulo para continuarmos pesquisando e lutando por melhorias na saúde pública” — Maria Alix Leite, coordenadora da pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifor
A pesquisa gerou frutos expressivos: além da apresentação premiada no BRAVS, já resultou em artigos científicos, seminários com profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza e novas linhas de investigação, como o acompanhamento do neurodesenvolvimento dessas crianças. Também reforçou o compromisso da Unifor com a formação de profissionais capacitados e comprometidos com a transformação social.
Maria Alix aproveita para agradecer o envolvimento voluntário dos professores e a parceria com instituições externas: “Foi um trabalho difícil, feito com muito esforço e dedicação. Agradeço imensamente aos professores Rivianny e Samuel; à direção do NAMI, que cedeu os espaços; à Secretaria Municipal da Saúde; e aos agentes de saúde, que foram fundamentais na identificação e busca ativa das crianças”.