Mais do que amigos, “buddies”: Buddy Program interconecta estudantes brasileiros e estrangeiros na Unifor

ter, 14 junho 2022 11:57

Mais do que amigos, “buddies”: Buddy Program interconecta estudantes brasileiros e estrangeiros na Unifor

Projeto de recepção a intercambistas, o “Buddy Program” dá frutos que vão da construção de fortes laços de amizade à chance de praticar diferentes idiomas, ampliar o networking e mergulhar na diversidade cultural


Fabian Brückl e Iago Capistrano construíram amizade para além do campus da Unifor, que pretendem manter mesmo quando o alemão voltar ao seu país de origem (Foto: Lucas Plutarcho)
Fabian Brückl e Iago Capistrano construíram amizade para além do campus da Unifor, que pretendem manter mesmo quando o alemão voltar ao seu país de origem (Foto: Lucas Plutarcho)

Era final de fevereiro quando o alemão Fabian Brückl, de 25 anos, desembarcou no aeroporto da capital cearense para fazer um intercâmbio no Mestrado em Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza, instituição vinculada à Fundação Edson Queiroz. Chegou ainda sem saber muitas palavras em português e um tanto perdido, mas esta sensação de deslocamento não saiu nem do aeroporto.

É que, no portão de desembarque, o estudante do curso de Direito Iago Capistrano, de 22 anos, já o esperava para ajudá-lo no que fosse preciso durante sua estadia no Ceará. O match para a amizade entre os dois é fruto do Buddy Program, projeto especial criado pela Assessoria de Assuntos Internacionais da Unifor que seleciona alunos para recepcionar os intercambistas e ajudá-los na adaptação.

A identificação entre ambos, que vinham trocando mensagens pelas redes sociais, foi imediata. Fabian já chegou sabendo que o Fortaleza, time do coração do seu host, estava na Copa Libertadores. Isso já renderia, nas semanas seguintes, algumas idas para ver jogos no estádio. 

O gosto dos dois pelo futebol acabou incorporado na rotina: uma vez por semana, Iago levava Fabian para um “racha” que é de lei entre seus amigos. E aí foi inevitável a necessidade de ensiná-lo um vocabulário cearensês: gírias como “sai do mêi” e “toca aqui” foram explicadas para não prejudicar a performance em campo.


Iago com seu buddy Fabian em um jogo do time Fortaleza (Foto: Arquivo Pessoal)

Apoio contra os perrengues

Sentado em um banco da Unifor, Fabian conta que Iago o apresentou a vários lugares da cidade e o ajuda desde as dificuldades com a língua portuguesa aos trâmites para utilizar a biblioteca da Unifor. Também o socorreu quando precisou comprar ingressos para um show num site totalmente em português e até com ajustes nos documentos de imigração.

A amizade também é uma forma de amor, e foi fundamental para que o estrangeiro superasse os perrengues em Fortaleza. Para ambos, a grande “virada de chave” para perceberem que não eram somente “buddies” unidos por um projeto universitário, mas sim amigos de fato, aconteceu durante uma viagem à Quixadá. 

Iago levou Fabian em uma viagem até sua cidade natal porque queria mostrar a realidade cearense ao alemão. “Meu avô tem uma granja lá, então mostrei até como a gente cria as galinhas”, ri o brasileiro. A experiência foi além. O tempo para conversar mais a fundo sobre a família e os valores de vida concretizou um laço que eles esperam que perdure mesmo depois que o alemão voltar ao seu país, no fim do mês de junho.


O estudante Iago Capistrano levou os intercambistas Josef, Paul e Fabian para conhecer sua cidade natal, Quixadá (Foto: Arquivo Pessoal)

Iago conta que já planeja para o futuro uma viagem à Alemanha. E que pretende fazer um tour por todo o país, já que, no Buddy Program, também fez amizade com dois outros estrangeiros além de Fabian, e cada um mora em uma ponta do país. “A Unifor ​​intermedia a relação, mas eu considero que o nosso relacionamento é muito orgânico, não é algo pré-estabelecido”, diz o estudante do curso de Direito. 

Aos brasileiros, um “intercâmbio reverso”

O amor fraterno entre amigos, a troca de experiências e a conexão formam o espírito do Buddy Program da Unifor. Há vantagens para todos os participantes: o programa é uma excelente chance de conhecer culturas diferentes, fazer amizades ao redor do mundo, ampliar o networking e praticar novos idiomas. “A primeira contribuição é cultural”, avalia o Fabian Brückl. Ele lembra que os intercambistas saem da sua zona de conforto para conhecer um novo lugar e precisam lidar com uma língua nova e com muitas diferenças culturais. 

Se por um lado é muito bem-vinda essa ajuda para entender os costumes locais, também é muito rica a possibilidade que o programa oferece de conviver com estudantes de várias nacionalidades. “Tem pessoas da Colômbia, da França, de Portugal… Quando você está num ambiente que tem pessoas internacionais, você consegue abrir sua mente”, diz o alemão.

Iago concorda e acrescenta que isso dá aos brasileiros a chance de viver uma espécie de “intercâmbio reverso”, mesmo sem sair da sua cidade. Isso porque é possível ter contato amplo com muitos estrangeiros e ainda melhorar a fluência em diferentes idiomas. Estudante do último semestre de Direito, ele conta que a experiência tem sido importante para que ganhe confiança e participe de reuniões em inglês com os clientes estrangeiros do escritório de advocacia onde atua.

Troca cultural, fluência em outros idiomas e muitos amigos

“O Buddy Program é excepcional porque você tem a oportunidade de ter uma troca cultural, de melhorar sua fluência no idioma sem sair daqui e, de quebra, você ainda ajuda uma pessoa que está vindo de fora”, resume Iago.

As inscrições para o programa são abertas duas vezes por ano para alunos de todos os centros de conhecimento da Universidade, sendo as vagas limitadas ao número de intercambistas inscritos. E, neste ano, ainda dá tempo de tentar participar: as inscrições seguem até o dia 15 de junho e podem ser feitas abaixo.

“O objetivo principal desse programa é que o aluno Unifor adote um aluno estrangeiro pelo período que ele vai estar aqui”, explica a coordenadora da Assessoria de Assuntos Internacionais, Lina Sena. Os estudantes da Unifor, então, ajudam seus “buddies” a entender melhor a cultura brasileira, a resolver problemas do dia a dia e a conhecer a estrutura da Universidade.


Lina Sena, coordenadora da Assessoria de Assuntos Internacionais, destaca que o programa auxilia estudantes durante todo o intercâmbio (Foto: Arquivo Pessoal)

“Quando você chega em um país estrangeiro que você não conhece ninguém, que não sabe onde fica nada, é tão importante a gente ter o apoio de alguém, né? Então esse programa tem esse objetivo de dar esse auxílio inicial como também é uma forma de você criar vínculos de amizade”, destaca Lina.

As experiências compartilhadas dentro e fora dos bosques da Unifor desembocam em uma procura grande de alunos para participar do programa a cada semestre. Para se inscrever, os estudantes devem ter domínio de inglês ou espanhol, estarem matriculados na Universidade e ter rendimento acadêmico igual ou superior a 7,0. Também precisam ter tempo (cerca de cinco horas semanais) para dar suporte ao seu “buddy” ao longo do semestre.

Os perfis dos estudantes são analisados para unir duplas que tenham afinidades e interesses em comum durante o programa. “A gente faz esse match e tenta colocar um perfil mais ou menos parecido”, explica Lina.

Ter 1, 2, 3… muitos buddies

Estudante de medicina na Unifor, Ana Emília Holanda, de 24 anos, precisa fazer uma conta rápida para responder quantos amigos já fez no Buddy Program. “Tem a Anna da Áustria, as duas Danielas da Colômbia, a Diana e a Bia de Portugal… Acho que são seis”, calcula, considerando estrangeiros que adotou formalmente no programa e outros de quem ela se aproximou naturalmente. 

Mas a conversa não demora para ela se dar conta que fez ainda mais amizades no programa, como a alemã Amelie e a francesa Angele. Teve também o Lucas, com quem começou a aprender coreano enquanto o ajudava com o português. “Eu realmente gosto de ter contato com meus buddies”, diz, animada. Esse contato segue mesmo após a partida dos estrangeiros, geralmente por Whatsapp e videochamadas.


Ana Emília (centro) e suas buddies Diana Soares e Beatriz Mata, ambas portuguesas (Foto: Arquivo Pessoal)

A mais recente buddy de Ana Emília é a estudante portuguesa Diana Soares. Ambas cursam Medicina, mas o contato próximo na Universidade logo desvelou as diferenças do ensino da área nos dois países. No Brasil, o curso é mais prático, então foi Ana Emília que ajudou Diana nos primeiros atendimentos aos pacientes no hospital em que atuavam juntas. No dia a dia, a portuguesa Beatriz Mata, também aluna da Medicina e intercambista na Unifor, se juntou a elas.

Ana Emília então ajudava as duas com dicas dos melhores supermercados, quais aplicativos usar para pedir comida, quais transportes utilizar para se locomover. “Fiz umas boas listinhas para indicar onde ir e dar um norte. Os buddies geralmente precisam de muita ajuda quando chegam aqui. E nisso, ficamos amigos mesmo”, conta a brasileira.

A afinidade entre Ana Emília, Diana e Beatriz se estabeleceu rapidamente não só por fazerem o mesmo curso, mas por compartilharem o mesmo olhar sobre a Saúde Pública. Já as diferenças culturais, geralmente relacionadas à comida, renderam muita diversão.

Ana Emília as levava para almoçar sempre no Mercado São Sebastião e incentivá-las a experimentar pratos da culinária regional. “Infelizmente elas não tiveram coragem de experimentar a panelada”, ri. “Ficavam mais na galinha caipira.” Já a cearense estranhava que elas chamavam o café da manhã de pequeno almoço. “Nossas diferenças eram mais de gastronomia”, diz.

Diana e Beatriz já deixaram Fortaleza. Estão em uma viagem para conhecer outros Estados do país antes de retornar à Portugal. Assim como fez com vários outros intercambistas, Ana Emília espera manter este contato. “Os meus buddies são mesmo meus amigos. Há espaço no programa para fazer muitas amizades e aumentar a nossa vivência na Universidade”, finaliza a estudante brasileira.