sex, 16 fevereiro 2024 10:51
Carnaval de Fortaleza gera oportunidades de lucro e renda para a população
Movimentando a economia, o período do pré-carnaval também amplia possibilidades para comércio formal e informal

Enquanto para muitos o Carnaval é sinônimo de descanso e diversão, para outros a festa é uma oportunidade de trabalho. O feriado movimenta diversos setores, como hotelaria, bares, restaurantes e serviços de transporte, além de ser um incentivo à economia informal — ambulantes na rua, venda de alimentos, bebidas, fantasias, acessórios, entre outras possibilidades.
Em Fortaleza, essa tendência vem crescendo conforme a cidade se consolida no circuito carnavalesco nacional. Se tempos atrás a capital cearense era local de refúgio para quem planejava se afastar da agitação, hoje o Carnaval fortalezense atrai tanto a população local quanto turística.
Uma economia carnavalesca
Para Milena Auip, coordenadora dos cursos de Marketing e Gestão Comercial da Universidade de Fortaleza — instituição da Fundação Edson Queiroz —, a metrópole vem se estabelecendo como um dos principais destinos de turismo de eventos do Brasil. O Carnaval, por exemplo, já figura na lista de festividades importantes junto ao Réveillon, Fortal e Hallelujah.
“O Carnaval de rua de Fortaleza hoje é um dos principais eventos fixos do município, atraindo e fomentando a economia local. A própria população está deixando de ir para os tradicionais carnavais do litoral para poder curtir a cidade. E também estamos atraindo os turistas que querem mais uma opção para as festas carnavalescas.” — Milena Auip, coordenadora dos cursos de Marketing e Gestão Comercial da Unifor.
O aquecimento da economia acontece em um intervalo ainda mais amplo, que contempla os dias que antecedem o período efetivo de festas: o pré-carnaval. Esses eventos acontecem de forma pluralizada em vários bairros, movimentando diferentes pontos da cidade.
Conforme levantamento da Prefeitura Municipal de Fortaleza, são dez polos que concentram a animação:
- Praça do Ferreira;
- Mercado dos Pinhões (Praça Visconde de Pelotas);
- Mocinha (rua Padre Climério com rua João Cordeiro);
- Aterrinho da Praia de Iracema;
- Passeio Público;
- Parque Rachel de Queiroz;
- Raimundo do Queijo;
- Benfica;
- Espigão do Náutico;
- Centro Cultural Belchior.
Segundo Elpídio Nogueira, secretário Municipal da Cultura, o mercado informal no período de pré-carnaval movimentou, em 2023, aproximadamente R$210 milhões no município.
A expectativa da Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) para 2024 é de que a cidade receba por volta de 200 mil pessoas, que vêm prestigiar cerca de 70 atrações. Tais números impulsionam a geração de renda ao mesmo tempo em que sinalizam a necessidade de planejamento.
Desafios e estratégias
Para garantir a qualidade do Carnaval — ou seja, para que haja segurança, transporte adequado e infraestrutura preparada para receber os foliões —, é indispensável um gerenciamento detalhado. Milena ressalta a complexidade de promover um evento de rua em comparação a um que acontece em espaço físico fechado.
“Temos que fechar ruas, ter um bom planejamento de trânsito, dimensionar a questão da segurança, ter um cadastro bem feito para os ambulantes [...] Além da questão da saúde: precisamos disponibilizar ambulâncias para socorrer pessoas que precisem de atendimento médico. É uma série de desafios que necessitam de atenção”, pontua a docente.
O planejamento do carnaval envolve diversos setores, tanto da sociedade civil quanto de órgãos e serviços públicos (Foto: Prefeitura de Fortaleza)
A estratégia, segundo ela, passa por um bom planejamento e pelo trabalho em conjunto entre órgãos públicos e organização do evento. “Assim conseguimos mitigar os possíveis problemas que possam acontecer durante a festa. Ter plano A, plano B, plano C”, enfatiza.
Milena ressalta também a voz da população como notável ferramenta a ser trabalhada na promoção do Carnaval de Fortaleza. Ela aponta a necessidade de explorar tanto o online quanto o offline na divulgação e de trabalhar o marketing de conteúdo e o storytelling, técnica que utiliza histórias para promover narrativas envolventes.
“Acredito que para chegar no nível em que o Carnaval de Fortaleza se encontra hoje, a prefeitura precisou, sim, utilizar estratégias de marketing. Uma das principais possibilidades é trabalhar as histórias e a voz da população. O storytelling vem como uma ferramenta super importante e atualíssima para poder atrair tanto o público local quanto turistas”, afirma.
Recursos financeiros e culturais para o Carnaval
O professor Ricardo Coimbra — da graduação em Ciências Econômicas e da Pós-Unifor — explica que, no caso do poder público, o Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor) é o mecanismo utilizado para identificar os setores de atividades que reverberam o impacto do Carnaval e, a partir dessas informações, desenhar as estratégias necessárias.
“O Iplanfor monta essas estratégias com os setores envolvidos e define como elas serão desenvolvidas período a período, não só no setor público, mas também no setor privado”, complementa o docente.
O economista, que é ex-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), destaca ainda a importância do aspecto cultural para o bom desempenho econômico resultante do Carnaval em Fortaleza.
“Cidades como Fortaleza, que têm a cultura, o turismo e o entretenimento como mecanismos de movimentação da atividade econômica, conseguem potencializar e garantir a permanência do turista por mais tempo e, como consequência, alcançam uma movimentação econômica maior.” — Ricardo Coimbra, professor de graduação e pós-graduação da Unifor
Coimbra observa que o período pede direcionamento de recursos públicos por parte dos órgãos que estejam correlacionados com a festa, como Prefeitura, Estado, segurança, trânsito, entre outros. Enquanto a iniciativa privada pode também elevar o volume de serviço conforme observa que as festividades geram algum tipo de crescimento de consumo.
“À medida em que você direciona recursos públicos e/ou atrai recursos privados via utilização pública, você gera para o cidadão a potencialidade de renda. É a percepção do bem-estar social para o público, juntamente com a geração de emprego e renda”, conclui.