Entrevista Nota 10 | Maria Alix Leite e a pesquisa científica como solução para a sífilis congênita na saúde pública
seg, 4 agosto 2025 11:40
Entrevista Nota 10 | Maria Alix Leite e a pesquisa científica como solução para a sífilis congênita na saúde pública
Docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifor fala sobre a importância da pesquisa para a saúde pública, destacando seu trabalho científico com foco na sífilis congênita

A sífilis é considerada um grande problema de saúde pública no mundo, especialmente no Brasil. Apesar de ser uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), muitas vezes ocorre de mães para bebês durante a gestação: só em 2023, foram registrados 86.111 casos de sífilis em gestantes e 25.002 de sífilis congênita.
Mesmo com cura, a doença pode causar consequências graves nas crianças, como cegueira, surdez, malformações fetais, deficiência mental e até mesmo morte. O uso de penicilina — único antibiótico com eficácia comprovada contra a doença — faz parte do tratamento adequado para evitar a transmissão vertical, de mãe para filho.
No entanto, a escassez mundial do medicamento em 2015 evidenciou a necessidade de haver alternativas seguras e comprovadas para esse combate. Por isso, a pesquisadora Maria Alix Leite de Araújo, docente do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC) da Universidade de Fortaleza, tem se dedicado ao tema desde então.
Suas pesquisas sobre o assunto já renderam muitos frutos, como o financiamento pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o desenvolvimento de um novo remédio contra a sífilis adquirida. Já outro projeto, que avaliou sequelas em crianças nascidas com a sífilis congênita, foi premiado no 49º BRAVS Meeting Retina 2025.
Graduada em Enfermagem pela Unifor, Maria Alix possui mestrado em Saúde Pública e doutorado em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará, além de pós-doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Federal da Bahia. É líder do grupo de pesquisa Epidemiologia e Saúde Coletiva e membro da Comissão Nacional de Validação e Certificação da Prevenção da Transmissão Vertical da Sífilis e do HIV.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, a professora do PPGSC fala sobre a importância da pesquisa para a saúde pública, destacando seu trabalho científico com foco na sífilis congênita.
Confira na íntegra a seguir.
Entrevista Nota 10 — Na sua visão, como se configura o cenário da pesquisa científica no Brasil hoje? De que maneira a pesquisa científica pode contribuir mais efetivamente para a resolução de problemas atuais de saúde pública no país?
Maria Alix Leite — A pesquisa é uma ferramenta muito importante para a resolução de problemas de saúde e prevenção de doenças. Geralmente, a pesquisa é desenvolvida a partir de um problema de saúde real e, a partir dos resultados, é possível identificar os fatores associados ao agravo estudado e identificar estratégias de prevenção.
Entrevista Nota 10 — Para quem pretende seguir carreira na pesquisa científica, o que é preciso para se destacar no ramo? Quais são os principais desafios e oportunidades que nossos cientistas precisam enfrentar e aproveitar, respectivamente?
Maria Alix Leite — A decisão de ser pesquisador deve ser estimulada a partir da graduação. Os alunos, quando participam de grupos de pesquisa, passam a identificar a importância da mesma na resolução de problemas e se sentem também muito úteis quando conseguem contribuir para a ciência.
Entrevista Nota 10 — Desde 2015, você lidera um projeto de pesquisa com foco nas sequelas e no tratamento da sífilis congênita, abrangendo diferentes aspectos do tema ao longo de diversos artigos já publicados em parceria com sua equipe. De onde surgiu a motivação para focar nessa investigação? Poderia fazer uma breve retrospectiva dos trabalhos que vocês já desenvolveram no âmbito dessa doença?
Maria Alix Leite — Há anos, venho desenvolvendo pesquisas na temática sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) e, particularmente nos últimos anos, sífilis congênita, doença cuja incidência é muito alta no Brasil e especialmente em Fortaleza. Uma doença negligenciada e cuja prevenção é totalmente possível. Estamos desenvolvendo uma pesquisa com a Organização Mundial de Saúde na qual testamos uma droga para tratamento da sífilis adquirida.
Recentemente, ganhamos um prêmio em um congresso internacional com um trabalho desenvolvido sobre sífilis congênita e que envolveu professores e alunos de diferentes categorias profissionais.
Entrevista Nota 10 — Em novembro, o Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifor promoverá o curso “Saúde Global: Soluções para um futuro mais saudável”, iniciativa da qual você é organizadora. Poderia contar como surgiu essa ideia e qual o papel dessa formação para os profissionais que atuam na área de saúde? Qual o diferencial desta proposta?
Maria Alix Leite — Sim, estou coordenando juntamente com a Dra. Nathalie Broutet o curso de Saúde Global, uma iniciativa do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. É um curso que faz parte do projeto de internacionalização da Universidade de Fortaleza e que conta com a participação de pesquisadores de renome mundial. Um curso de alto nível.
Entrevista Nota 10 — O Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Unifor já conta com uma tradição sólida na produção de pesquisas altamente relevantes para a saúde pública. Quais são os principais diferenciais do PPGSC para quem pretende fazer a diferença na ciência e na sociedade? Como as conexões internacionais proporcionadas pelo programa abrem portas para seus alunos?
Maria Alix Leite — O Programa de Pós Graduação em Saúde Coletiva da Unifor conta com pesquisas importantes no campo da saúde coletiva e com a participação de uma equipe de professores muito qualificados, que desenvolvem pesquisas de alto nível com pesquisadores de outras instituições internacionais de renome, o que tem contribuído consubstancialmente para a melhoria de vida da população.