ter, 22 abril 2025 11:35
Entrevista Nota 10: Patrick Simão e o treino híbrido como tendência fitness nas redes sociais
Mestre em Ciências Fisiológicas explica como a combinação entre diferentes modalidades de treino ganhou novo fôlego na internet e orienta sobre como aderir à prática de forma consciente e eficaz

Treino híbrido. Se você frequenta redes sociais como TikTok ou Instagram, é bem provável que já tenha se deparado com esse termo — muitas vezes, associado a celebridades ou a vídeos que prometem “transformações corporais” aceleradas. Mas afinal, o que há de novo nessa proposta que, na prática, combina corrida com musculação — algo que muitas pessoas já faziam antes mesmo das trends?
A diferença está no discurso, na forma de apresentação e, em alguns casos, na integração cada vez mais estruturada entre modalidades diversas. Embora a dobradinha “aeróbico + força” seja a mais comum, o treino híbrido também pode incluir elementos de funcional, crossfit, mobilidade e outras abordagens combinadas. O conceito ganhou destaque por ser flexível, acessível e eficaz para objetivos variados, desde emagrecimento até melhora da performance esportiva.
Professor do curso de Educação Física da Universidade de Fortaleza, especialista em Fisiologia do Exercício e mestre em Ciências Fisiológicas, Patrick Simão é uma referência quando o assunto é treinamento personalizado. Com experiência prática como coach de crossfit e personal trainer, ele destaca aspectos fisiológicos e sociais por trás do treino híbrido, além de destacar a importância da orientação profissional para quem deseja embarcar nessa tendência de forma consciente.
Na Entrevista Nota 10 desta semana, o docente compartilha seu olhar sobre os benefícios e cuidados do treino híbrido, analisa o papel das redes sociais na formação de hábitos e explica como a formação em Educação Física da Unifor prepara os estudantes para um mercado cada vez mais dinâmico.
Entrevista Nota 10 — O termo "treino híbrido" tem ganhado destaque nas redes sociais e é apontado como tendência em 2025. No entanto, combinar musculação e corrida não é algo exatamente novo. Por que esse conceito voltou com força agora e como a nomenclatura tem influenciado sua popularização?
Patrick Simão — Sabemos que todo mundo, a população em geral, gosta de coisa nova. Então, pegam o que é mais antigo, trocam o nome, dão uma roupagem nova e jogam no mercado. Aí viraliza hoje em dia nas redes sociais e vai ganhando destaque, principalmente com essa galera que hoje são os influencers.
Quando falamos de treino híbrido, temos que entender o que isso significa pela questão fisiológica, o funcionamento do corpo sob a influência do exercício. Nesse termo de treino híbrido, falamos em mesclar vias energéticas, porque o nosso corpo tem três vias energéticas, que têm a ver com a produção de energia para o corpo como um todo, e, no caso, no exercício. E o que isso implica no resultado? Isso implica que eu vou ter uma eficiência maior do corpo. Tudo é pensado nisso quando pensamos nessa questão de misturar essas vias energéticas. Eu estou deixando o meu corpo mais funcional nesse sentido de todas as funções que ele tem ficarem mais aprimoradas. Então, é basicamente essa linha de raciocínio.
Entrevista Nota 10 — Como especialista em Fisiologia do Exercício e com atuação prática como coach de crossfit e personal trainer, você acredita que o treino híbrido pode atender a diferentes objetivos — como emagrecimento, recomposição corporal e melhora da performance? Há um perfil ideal para esse tipo de treino?
Patrick Simão — O perfil é a pessoa querer, na verdade, porque todo ser humano precisa se movimentar. Claro que nem todo mundo vai conseguir se movimentar da mesma forma, porque existem as limitações fisiológicas, que é a limitação da pessoa mesmo, e existem limitações adquiridas. Essas limitações têm que ser respeitadas, independente do tipo de exercício que é feito, não dá pra ir além das limitações da pessoa, porque quando você vai além dessas limitações, você está entrando em uma zona de risco para a lesão. Isso daí não é interessante pra ninguém.
Um princípio básico que temos no treinamento é a questão da individualidade biológica. Se formos raciocinar um pouco, são sete bilhões de pessoas no mundo e ninguém tem a digital igual. Então, não tem como todo mundo reagir da mesma forma, temos que realmente respeitar essa questão da individualidade biológica.
A questão do emagrecer e a questão do fortalecimento vêm como consequência da demanda. Então, por exemplo, se você está fazendo um exercício que demanda que você tenha força, o ganho de força vai acontecer pra você poder realizar o exercício. A perspectiva é um pouco diferente, por exemplo, do que na musculação tradicional. Na musculação tradicional, o objetivo ali é ficar com maior massa muscular, que não quer dizer que você tenha maior força, e aí é um assunto mais profundo que podemos especificar depois. Hipertrofia não é a mesma coisa que força. Tem concomitância em alguma parte, mas não é a mesma coisa.
O corpo vai se adaptar à demanda. Então, se você está fazendo um treino pra conseguir correr 10km, quando você conseguir correr 10km, o teu corpo, em parte ou por completo, vai estar adaptado para aquela atividade. Seja em você perder peso pra poder chegar a esses 10km ou você ganhar massa muscular pra que te dê condições de chegar a esses 10km. Então, é a questão da adaptação fisiológica, o corpo vai se adaptar à demanda que existe.
Entrevista Nota 10 — Um dos maiores receios de quem pratica musculação é perder massa muscular ao começar a correr com mais frequência. Isso é mito ou existe fundamento? Como alinhar os estímulos aeróbicos e de força de forma inteligente e segura?
Patrick Simão — É só pensarmos que o corpo tem condições de fazer tudo. E quando eu estou fazendo, por exemplo, um aeróbico e completando com a força, se a minha nutrição está ok, o corpo vai ter um ganho a mais de massa muscular. Porque o treino de musculação tende a trabalhar mais um tipo específico de célula muscular, que é o que chamamos de tipo 2A e tipo 2B. Ele tende a ir mais pra esse lado e mais ainda pro tipo 2B do que pro 2A. E o aeróbico seria o tipo 1. Então, a musculação pega mais o tipo 2 e o aeróbico pega mais o tipo 1. Normalmente, a pessoa treina só prioritariamente o tipo 2 e não treina o tipo 1. Agora ela está treinando o tipo 2 e o tipo 1, ou seja, ela está ganhando mais nesse sentido.
E sem contar que as tipo 1 têm dentro da demanda dela o aumento de fluxo de sangue, ou seja, vai ter uma quantidade maior de suprimento chegando também para o tipo 2. Porque elas são vizinhas, são muito próximas. Então, se eu treino a tipo 1 também, isso vai facilitar o ganho das células tipo 2. Resumindo: quando você treinar o tipo 1, você potencializa o ganho das tipo 2. Só que para treinar tipo 1, é um treino diferente das que você treina a tipo 2, é um treino mais cansativo que demanda um pouco mais de tempo, e normalmente as pessoas não têm tanta paciência.
Quando você bota um treino híbrido, onde você faz a mescla, entra a questão da novidade, entram outros pontos relevantes. A questão de você estar ali com o grupo, você não está isolado com seu fone de ouvido treinando só, você está ali com um objetivo a ser cumprido, tudo isso faz essa modalidade de treino ter um quê a mais, e aí supre muitas necessidades. E em relação ao ganho de massa, ele faz ganhar mais massa. Claro que a nutrição tem que estar em dia pra poder fazer o papel de recuperação e de melhora. Não pode ter essa questão do déficit calórico.
Entrevista Nota 10 — Você acredita que a viralização de conteúdos fitness nas redes sociais tem ajudado ou atrapalhado a prática consciente e responsável de atividades físicas, como o treino híbrido?
Patrick Simão — Na verdade, nós nascemos com a condição de se mexer e nos desenvolvemos nesse sentido. É tanto que o primeiro aprendizado do ser humano é relacionado ao movimento. Depois ele vai aprender a falar, a se expressar, mas o primeiro aprendizado do ser humano é o movimento. Quanto ao se mexer, é natural do ser humano. Quando acontece nas redes sociais essa questão de viralizar é um ponto positivo, porque mais gente vai estar se mexendo.
E aí, não podemos ser hipócritas de achar que estamos lidando com crianças. A maioria é adulto e ali vai se movimentando, mas não pode [esquecer] os limites. Se ultrapassou o limite, o corpo vai reclamar. A pessoa estar se mexendo é um ponto positivo, mas se ela está se movendo de uma forma errada porque um blogueiro está fazendo, porque o fulano está fazendo, "eu vou fazer também sem responsabilidade", ela pode se machucar, sim, e se machucar sério.
Por isso, o indicado é procurar um profissional de educação física especialista nessa parte de treinamento, com o registro no Conselho Federal de Educação Física - que no caso aqui da nossa região, é o CREF-5. Ele vai ter a habilitação legal e a especialidade para estar trabalhando nesse sentido. Então, esse aqui é o ideal, o indicado.
Entrevista Nota 10 — Na sua experiência como professor universitário e orientador de alunos na área de Educação Física, como o tema do treino híbrido vem sendo abordado na formação acadêmica? Como os futuros profissionais estão preparados para lidar com essas novas demandas do mercado?
Patrick Simão — A questão da demanda do mercado demora um pouquinho para poder entrar na grade [curricular] da graduação. Por isso, há a importância de nós, enquanto professores orientadores, estarmos trazendo esse aluno para o mercado e vivenciando essas experiências. Com o tempo é que conseguimos atualizar a questão da matriz curricular, mas já vamos trazendo isso de antemão para os alunos fora da matriz curricular enquanto ela se adequa.
Porque, realmente, não é toda “moda” que vai entrar para esse conceito. Por exemplo, hoje em dia, o treinamento funcional é uma realidade e tem muito do treino híbrido, só que com outro nome. No caso do treinamento funcional, crossfit e treino híbrido, seguem as mesmas linhas de trabalhar vias energéticas distintas. Só que cada um utiliza um nome e tem algumas mudanças de estímulo, de formato, mas a essência de trabalhar as três vias energéticas é a mesma. E aí tentamos trazer isso para o aluno vivenciar enquanto a matriz curricular é atualizada.
Entrevista Nota 10 — A Unifor oferece uma estrutura reconhecida para a formação de profissionais em Educação Física. Na sua visão, quais são os diferenciais da Universidade na preparação de estudantes para atuar com competência em um mercado tão dinâmico e exigente como o da saúde e do fitness?
Patrick Simão — Eu sou meio suspeito para falar porque eu estudei na Unifor, sou egresso do curso de Educação Física. É o que eu costumo dizer: a Unifor tem toda a estrutura que precisa para o profissional ser o melhor do mercado, então, basta a pessoa querer, tem que o aluno querer. Não é só a universidade, porque a Unifor dá todas as condições possíveis e imagináveis para formar o profissional de excelência. Agora, o aluno tem que fazer a parte dele de querer, de ir atrás, de buscar. Tanto que temos vários nomes de destaque no mercado que são egressos da Unifor. São muitos, não são poucos não. É fora do padrão a quantidade de aluno que sai com nível alto da Unifor e tem esse respaldo de dizer que estudou na melhor, como costumamos brincar.
Então, a Unifor dá todas as condições possíveis e imagináveis. Desde os professores, que é indiscutível o nível do corpo docente, a questão da matriz curricular sempre em atualização, a questão da estrutura nem se fala - esse nível altíssimo de estrutura não encontramos em outro local por aqui, nem em universidades públicas encontramos uma estrutura tão alto nível quanto essa da Unifor. Na minha visão, é nesse sentido que a Unifor tem todo o potencial possível e imaginável para quem quer realmente se diferenciar e se tornar o melhor profissional do mercado.