Nunca é tarde para (re)começar: as conquistas da pós-graduação na terceira idade

seg, 25 julho 2022 08:39

Nunca é tarde para (re)começar: as conquistas da pós-graduação na terceira idade

O aperfeiçoamento profissional na maturidade pode tornar o processo de envelhecimento ainda mais prazeroso


Buscar novas oportunidades e trilhar novos caminhos é um direito inerente ao ser humano, independente da idade (Foto: Arquivo Pessoal)
Buscar novas oportunidades e trilhar novos caminhos é um direito inerente ao ser humano, independente da idade (Foto: Arquivo Pessoal)

Terminar o Ensino Médio, entrar na Universidade, se graduar e logo iniciar uma pós-graduação. Assim a vida era trilhada, ainda durante a adolescência. Entretanto, a sociedade contemporânea vem mudando suas concepções acerca dos marcos da vida e quando os indivíduos devem atingi-los. Hoje, a diversidade de realidades deixa claro que não existe mais limite de idade para buscar novas oportunidades, especialmente no âmbito profissional. 

De acordo com o estudo “Mestres e doutores 2019”, realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) entre os anos de 1996 e 2017, 34,4% dos doutores titulados no Brasil tinham mais de 40 anos. Esse número mostra o desejo das pessoas em se aperfeiçoarem profissionalmente, ainda que em uma idade mais avançada. 

A entrada “tardia” em uma pós-graduação, no entanto, é consequência de muitos fatores, como demandas familiares, afazeres domésticos ou escassez de tempo. Por isso, muitos profissionais retornam às universidades depois de atingirem a terceira idade, e demonstram que se aventurar em novos projetos na maturidade evidencia a velhice como um tempo de aprendizagem, e não de retrocesso. 

“Dentre os tantos processos de transformação pelos quais o mundo vem passando, os próprios conceitos de ‘idoso’ e de ‘terceira idade’ tendem a ser reiteradamente reconfigurados. A idade adulta, considerada em uma perspectiva mais ampla, por assim dizer, é também um tempo de desenvolvimento contínuo. A diferença parece estar na maturidade alcançada ao longo das experiências vivenciadas, que permitem aos adultos, nesta fase, escolher com maior assertividade e ter objetivos mais claros quanto aos seus interesses particulares e sobre o que ainda se deseja aprender, aperfeiçoar ou criar”, afirma Clara Bugarim, Vice-Reitora de Graduação e Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza, da Fundação Edson Queiroz.

As Universidades como potencializadoras de descobertas

Bugarim entende que as instituições de Ensino Superior têm o papel de promover atualizações e desenvolvimento constante para profissionais que tendem a permanecer ativos por mais tempo. Ela menciona o termo “lifelong learning”, e explica que ele relembra a aprendizagem e os processos criativos como essencialmente relacionados a uma vida saudável, produtiva e feliz. 


Clara Bugarim, Vice-Reitora de Graduação e Pós-Graduação da Universidade de Fortaleza (Foto: Ares Soares)

“Gosto de pensar nas Universidades como ‘universos’, em muitos sentidos. Um dos mais ricos em possibilidades está, precisamente, na diversidade de faixas etárias que cabem no conceito de educação para adultos. [...] É preciso, portanto, não parar de aprender, de trocar experiências, de manter-se curioso sobre temas dos quais, por imperativos diversos, não foi possível desvendar antes, ou sobre questões que passaram a nos interessar numa fase mais avançada de nossas vidas. A Universidade é o espaço ideal para quem está no tempo ideal para essas descobertas”, pontua a docente. 

De acordo com a Vice-Reitora, a longevidade é um conceito “elástico”. Sendo assim, é natural admitir que o mercado de trabalho possa manter-se aberto para o acolhimento de pessoas com mais idade e experiências. Clara reforça que a complexidade do mundo, e as diferentes habilidades e inteligências de pessoas de múltiplas gerações, pode funcionar como um grande ativo para as empresas que perceberem e souberem trabalhar com essa potencialidade.

Vontade de desbravar novos conhecimentos

Ana Aécia Alexandrino de Oliveira é médica cardiologista e ecocardiografista, com pós-graduação em Diabetes Mellitus. Além disso, é mãe de três filhos e casada há 32 anos. Aos 54, e com mais disponibilidade em sua rotina, Oliveira percebeu que teria mais liberdade para desfrutar de todos os benefícios de uma pós-graduação. Assim, decidiu adicionar mais um título em seu vasto currículo: Mestre em Ciências Médicas. 

Em 2019, a profissional da saúde ingressou no Mestrado Acadêmico em Ciências Médicas da Unifor. Por já ter experiência com preceptoria na residência de ecocardiografia, que realizou no Hospital de Messejana, Ana Aécia relata que conseguiu usufruir ainda mais da pós-graduação, totalmente imersa no ambiente acadêmico. 

“[O mestrado] foi um período muito rico, onde eu consolidei conceitos, conheci novos profissionais, ampliei o meu raciocínio, aprendi muitas coisas sobre feedback junto ao aluno. Então, foi um momento muito interessante na minha vida, porque eu confirmei o meu desejo pelo ensino, o meu desejo pela aprendizagem e o desenvolvimento das minhas habilidades”, afirma a egressa.

Para a cardiologista, suas vivências antes de ingressar em uma pós-graduação stricto sensu facilitaram sua experiência, e poder se capacitar ainda mais na vida acadêmica foi algo que a trouxe uma grande satisfação. Assim que recebeu o título de mestre, em 2021, Oliveira foi convidada para lecionar em outra instituição, e assegura com veemência que se arrepende de não ter ingressado no mestrado antes.

“A aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades são atemporais. A nossa mente é capaz de nos tornar, diante do tempo cronológico, livre e independente. Então, não há tempo ideal, e sim a vontade e a atitude de desbravar novos conhecimentos” - Ana Aécia Alexandrino de Oliveira, médica e egressa do Mestrado em Ciências Médicas da Unifor